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2014
2014
CARTA DO
CONSELHO
Dever cumprido


No momento em que o país vive situação
raramente antes experimentada, surge a nova edição da Por Sinal. Um longo
período recessivo, permeado por revelações para lá de bombásticas sobre o
financiamento de partidos e mandatários com dinheiro público, parece ter solução
se reformas forem feitas na Previdência Social e no mundo do trabalho.
Mudanças são sempre bem-vindas, quando vêm para melhor. Retirar direitos e
inibir a criação de novos, porém, podem ter o condão de melhorar as contas
públicas, mas não a vida das pessoas. É por isso que esta edição abre com o debate sobre a PEC 287/2016, em curso no Congresso Nacional, e seus efeitos sobre
os já estreitos direitos dos servidores públicos.
A recente agenda BC+ também merece a atenção de todos. O Banco Central propõe
uma série de medidas para produzir melhoras permanentes na vida financeira dos
cidadãos. O objetivo final declarado é o crédito mais barato. Em “Ficção ou
realidade?”, a Por Sinal aborda diversos vieses do projeto e a suficiência ou
não das principais inovações.
Atentos aos avanços tecnológicos na área financeira, produzimos duas reportagens
sobre moedas virtuais e moedas sociais, que avaliam a substituição de dinheiro
em papel no nosso país, em momentos em que a autoridade monetária manda imprimir
cédulas no exterior, com todos os riscos de segurança envolvidos e prejuízos ao
emprego.
Nossos articulistas tratam de temas ligados ao sistema financeiro, ou nem tanto.
“Autonomia ou independência”, por José Paulo Vieira, e “A armadilha brasileira
da liquidez”, de Ricardo Piccoli, versam sobre temas muitas vezes abordados
nesta revista. Mas em “Prevenir é o melhor remédio”, Laura Tupinambá e Luciana
Sciotta falam da importância da saúde no lugar da doença.
A edição ficaria incompleta se não trouxesse a entrevista com o presidente do
Sinal, que completa o segundo mandato em 30 de abril. Daro Piffer fala das
realizações, desafios e perspectivas de melhora da vida dos servidores
representados e dos brasileiros em geral. A leitura é complementada pela Agenda
do Sinal nestes e nos próximos dias, de enfrentamento das turbulências e mazelas
que estão postas e por vir.
Este Conselho Editorial conclui, assim, seu trabalho à frente da revista, certo
de ter oferecido o melhor de si ao leitor e à sociedade. Ante a necessária
renovação da direção sindical, uma certeza fica: muitas edições da Por Sinal vêm
por aí.
Boa leitura.
SINDICATO NACIONAL DOS FUNCIONÁRIOS DO
BANCO CENTRAL (SINAL)
CONSELHO NACIONAL BIÊNIO 2015/2017
Presidente
Daro Marcos Piffer
Belém
José Flávio Silva Corrêa
Brasília
Rita Girão Guimarães
Vania maria Monteiro Couto
Gregório Alberto Saiz Lopes
Josina Maria de Oliveira
Belo Horizonte
Renato Fabiano Matheus
Curitiba
Enrikson Antonio Falabretti
Fortaleza
Francisco de Assis Tancredi Soares
Porto Alegre
Ricardo Luis Piccoli
Recife
José Milton Bezerra
Rio de Janeiro
Sergio da Luz Belsito
João Marcus Monteiro
Marcos Antonio da Silva Lopes
José Aloísio Guimarães Sanches
Salvador
Epitácio da Silva Ribeiro
São Paulo
Eduardo Stallin
Silva
Natalino Yoshimi Sakamuta
Semiramis Ensel Wizentier
DIRETORIA EXECUTIVA NACIONAL BIÊNIO 2015/2017
Presidente
Daro Marcos Piffer
Secretário
Epitácio da Silva Ribeiro
Diretor Financeiro
Ivonil Guimarães Dias de Carvalho
Diretor Jurídico
Jordan Alisson Pereira
Diretor de Comunicação
Iso Sendacz
Diretor de Assuntos Previdenciários
José Vieira Leite
Diretor de Relações Externas
Paulo Lino Gonçalves
Diretor de Estudos Técnicos
Mauro Cattabriga de Barros
Diretor de Qualidade de Vida
Márcio Silva de Araujo
Diretora de Ações Estratégicas
Rita Girão Guimarães
CONSELHO FISCAL NACIONAL
Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes(Recife )
José Ribamar Santos Barros (Rio de Janeiro )
Ronaldo Ferreira (Curitiba)
EXPEDIENTE ANO 15 NÚMERO 54 ABRIL 2017
Por Sinal
Revista do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central
do Brasil
Conselho Editorial
Aldomar Guimarães dos Santos, Clovis de Lima Barbosa Junior, Daro
Marcos Piffer, Iso Sendacz, Mauro Cattabriga de Barros, Nehemias Monteiro
Junior, Ricardo Luis Piccoli, Rubens Gandelman
Secretária: Sandra de Sousa Leal
SCS Quadra 01 – Bloco G sala 401 – Térreo
Ed. Baracat – Asa Sul – Cep 70.309900 – Brasília – DF
Telefone: (61) 33228208
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Contato com a Por Sinal:
porsinal@sinal.org.br
Redação
Coordenaçãogeral e edição: Flavia Cavalcanti (Letra Viva
Comunicação)
Reportagem: Jefferson Guedes, Verônica Couto, Elane Maciel,
Carmen Nery
Diagramação: Tabaruba Design
llustrações: Claudio Duarte
Impressão: Impressão: Ideal Gráfica e Editora Ltda
Tiragem: 8.000
Assessoria de Comunicação do Sinal Nacional: Rapport.
www.rapportcomunica.com
Permitida a reprodução das matérias, desde que citada a fonte.
O Conselho Editorial não se responsabiliza pelas opiniões
expressas nos artigos assinados.

O JOGO ESTÁ VIRANDO
GOVERNO PERDE A GUERRA DE COMUNICAÇÃO E NÃO CONQUISTA O
APOIO DA OPINIÃO PÚBLICA. NO SENADO, CPI PODE SE TRANSFORMAR EM TRIBUNA
DE DISCUSSÃO DA SOCIEDADE.
JEFFERSON GUEDES
A
reforma da Previdência ainda vai dar muita dor de cabeça ao governo. Desde
março, o Planalto vem perdendo a guerra de comunicação que trava com os movimentos sociais para conquistar o apoio da opinião pública para a proposta. O
primeiro revés veio da Justiça gaúcha, que concedeu liminar a nível nacional, no
dia 15/3, suspendendo a campanha publicitária oficial. No dia 5/4, porém,
decisão proferida pela ministra Carmen Lúcia, presidente do STF, reverteu a
proibição.
Em seguida tivemos os grandes protestos nacionais, que ampliaram a pressão
exercida nas redes sociais por eleitores indignados. Pesquisas recentes indicam
que 66% da população são contrários à reforma.
O Congresso não ficou alheio a esse movimento. Na Câmara, deputados da base
aliada pediram a seus partidos que não fechem questão a favor da matéria. Mesmo
o PSDB emitiu sinais de preocupação diante do estrago eleitoral que a aprovação
da reforma irá causar às pretensões do partido em 2018. No Senado, que não deve
votar a PEC antes de junho, o clima é semelhante. As fissuras entre Temer e
Renan Calheiros são públicas, fato que contribuiu para que o senador Paulo Paim
conseguisse angariar assinaturas de 62 senadores para instaurar a CPI da
Previdência. Paim quer investigar a situação real da Seguridade Social e expor
as fragilidades do discurso oficial.
O governo monitora essa dinâmica atentamente e já não tem certeza de conseguir
os 308 votos necessários para aprovar a proposta na Câmara. Na calculadora do
Planalto, estima-se que mais de 60% dos deputados da base se opõem ao texto como
foi redigido pela Fazenda. Com medo de uma derrota vexatória, Temer acenou com a
"flexibilização" da reforma. Ele aceita rever alguns pontos da proposta, como as
pesadas exigências para a aposentadoria dos trabalhadores rurais. Está disposto
também a manter as regras atuais do Benefício de Prestação Continuada (que hoje
garante pensão de um salário a pessoas pobres idosas ou portadoras de
deficiência), topa excluir os professores e os policiais da reforma e vai
promover ajustes nas regras de transição.
REFORMA OU PUXADINHO?
A tentativa desesperada de “dourar a pílula” tem como objetivo preservar o item
principal da reforma: a idade mínima de 65 anos para aposentadoria. Se bem que,
mesmo nesse caso, o governo só conseguiu manter o texto inicial para a
aposentadoria dos homens. Para as mulheres, a idade mínima foi fixada em 62
anos.
Com estas alterações (e outras que o Senado possa introduzir), é bem provável
que a tal "reforma" venha se transformar num "puxadinho", como já disse José
Simão em sua coluna na Folha.
Ainda assim, as entidades representativas dos trabalhadores prometem ficar
atentas e manter a mobilização, pois entendem que mesmo esse "puxadinho" pode
contribuir para enfraquecer significativamente o direito constitucional de
proteção à velhice.
Tal preocupação se deve ao caráter maquiavélico do texto apresentado pelo
governo. Segundo o consultor do Sinal, Luiz Roberto Domingues, é preciso
analisar a reforma ponto por ponto para se perceber os seus impactos. O diabo
está na sutileza, nas pegadinhas distribuídas por todo o texto, sempre com o
objetivo de retirar direitos – sobretudo dos mais pobres. A alteração dos
parâmetros da aposentadoria por invalidez, por exemplo, foi proposta de maneira
bastante sutil e esconde uma crueldade. O texto da reforma substitui o termo
"invalidez permanente", hoje vigente, por "incapacidade permanente para o
trabalho". Para as aposentadorias por incapacidade, o governo propôs garantir
benefício integral apenas para os trabalhadores que ficaram incapacitados
durante a atividade laboral. Se um servidor perder a capacidade de trabalhar por
um acidente de trânsito, vai cair na fórmula geral da reforma que garante 51% da
média de salários mais 1 ponto por ano de contribuição. Se o tempo de
contribuição não for muito grande, azar o do trabalhador. Além de incapacitado,
terá de se virar com a aposentadoria proporcional. A mudança, destaca o
consultor do Sinal, se resume à troca de uma única expressão. O estrago, porém,
é grande. É um direito social a menos.
O maquiavelismo não se resume apenas à redação da proposta. Como lembra a
economista Laura Carvalho, professora da USP, o governo preparou uma armadilha
para a sociedade com a aprovação da PEC do Teto de Gastos em 2016. Esse teto
proíbe o aumento das despesas federais mesmo em um cenário de crescimento
econômico, onde crescem as contribuições previdenciárias e diminui a taxa de
desemprego.
Essa limitação gera um impasse. Ainda que todas as outras despesas estejam
sujeitas ao teto, o número de benefícios continuará crescendo, por conta da
elevação da expectativa de vida. Com isso, o orçamento da Previdência corre o
risco de superar até mesmo a conta dos serviços da dívida, vaca sagrada desse
governo. É aí que está a armadilha. O Planalto nadadiz sobre a dívida, claro,
mas apregoa aos quatro ventos que, sem a reforma da Previdência, será o fim do
mundo, com déficits crescentes e o colapso do sistema previdenciário em 2060,
quando teremos mais beneficiários do que contribuintes.
CONTABILIDADE CRIATIVA
A lógica do discurso oficial é conhecida: o governo projeta as receitas oriundas
das contribuições sobre a folha, subtrai os benefícios e chega ao déficit. Como
já foi analisado na edição anterior da revista, a metodologia do governo
desconsidera as outras fontes de financiamento da Previdência, como a Cofins
(Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), CSLL (Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido) e a receita das loterias. Porque quando se leva em
conta todas as fontes de financiamento, o resultado da Seguridade Social é
superavitário, ainda que seja visível um decréscimo assustador nos últimos anos
devido ao agravamento da crise econômica (ver tabela abaixo).
Mas afinal, como o governo se posiciona em relação às fontes de financiamento da
Seguridade definidas pela Constituição? Esta pergunta intrigava Vilson Romero,
presidente da Anfip (Associação Nacional dos Fiscais da Receita Federal do
Brasil), até ele abrir a Cartilha oficial da Reforma da Previdência no site do
Ministério da Fazenda (link do documento: http://bit.ly/2oOsukG). Na página 3 da
Cartilha, Romero encontrou a seguinte pergunta: “De onde vêm os recursos da
Previdência Social”? Para seu espanto, no texto a Fazenda elenca todas as fontes
de financiamento da Previdência. O presidente da Anfip ficou impressionado com o
que chamou de “sincericídio” do governo. Por isso, não perdeu tempo: correu ao
cartório mais próximo para autenticar o conteúdo desta Cartilha. Ele receava
que, cedo ou tarde, este trecho fosse editado ou suprimido. Afinal, este
material é um presentão para os movimentos sociais que afirmam não haver
déficit quando se considera todas as fontes da Seguridade.
Na sequência do documento, mais contradições. Ao tentar explicar o déficit da
Previdência, o governo afirma que se trata da simples diferença entre o que é
arrecadado mensalmente por suas fontes próprias e o montante destinado ao pagamento dos benefícios. Ocorre que as tais “fontes próprias”, citadas
anteriormente na própria Cartilha, apontam para um superávit se computadas no
conjunto do Orçamento da Seguridade Social.

Essa confusão não é à toa. Segundo o professor Eduardo Fagnani, coordenador do
estudo “Previdência: reformar para excluir”, a nova “contabilidade criativa” do
governo é afirmar que existe déficit no Orçamento da Seguridade Social (e não só
na Previdência). Esse suposto déficit vem da não contabilização da contribuição
do governo como receita da Previdência. Em audiência pública realizada na
Câmara, Fagnani lembrou que desde 1989 são desviados recursos da Seguridade para
outras finalidades como o pagamento dos pensionistas da União. Estes são regidos
pelo art. 40 da Constituição, na seção dedicada exclusivamente aos Servidores
Públicos. Não existe nenhuma referência a pensionistas e servidores nos artigos
194 e 195, que tratam da Seguridade Social. Desviar dinheiro da Cofins para
pagar pensionistas da União é inconstitucional. A prova do desvio vem do próprio
governo. Fagnani cita uma entrevista de Jader Barbalho à revista Veja de
31/5/1989. Ministro da Previdência do presidente Sarney, Jader explicitou o
tamanho do rombo federal: “O problema do déficit da Previdência Social está
sendo gerado por fatores externos. Da Cofins, a que a Previdência tem direito,
só foi repassado 0,32%. O que a Secretaria de Planejamento argumenta é que esse
dinheiro foi repassado para outros setores do governo que compõem o conjunto da
Seguridade Social – que abrange o Ministério da Saúde e até mesmo os
pensionistas da União. Além disso, outra fonte de renda, a Contribuição Social
sobre os Lucros das empresas (CSLL) reduziu-se ao meio. De um total de três
bilhões, a Previdência só recebeu 1,5 bilhão de cruzados novos. ”
Sarney inaugurou o rombo e seu gesto foi imitado. “Desde 1989, passando pelos
governos Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma, contabiliza-se como fonte de
receita da Previdência apenas a contribuição do empregador e do empregado”,
afirma o economista. O tal déficit da Previdência é uma mentira construída com o
auxílio de vários presidentes.
UMA REFORMA ALTERNATIVA
Mesmo considerando o superávit atual da Seguridade, o grande desafio é o futuro
desse sistema, pois este superávit pode ser corroído pelo aumento da expectativa
de vida. Atenta a isso, a economista Denise Gentil elaborou um ensaio (com mais
três colegas) onde propõe uma reforma da Previdência alternativa. Isto porque a
discussão tradicional sobre o equilíbrio do sistema enfatiza sempre a redução do
número de benefícios como a única medida capaz de resolver a crise anunciada da
Previdência. Denise entende que essa crise pode ser enfrentada sem redução dos
benefícios, desde que se considere três fatores:
. O aumento da produtividade dos trabalhadores, que amplia os ganhos da economia
e reduz a diferença entre a contribuição dos ativos e os benefícios dos
aposentados mesmo se não houver significativo crescimento da força de trabalho;A
elevação da receita (fruto do crescimento do PIB); O nível de emprego formal.

Convidada pela Comissão Especial da Câmara que trata da reforma para uma
audiência pública realizada em 28 de março, Denise surpreendeu os parlamentares
ao incluir estas variáveis em três cenários diferentes para o futuro da
Previdência Social. Em todos, ela utilizou como fonte de receita somente a
arrecadação sobre a folha, como faz o Ministério da Fazenda. Já que o governo
é o dono da bola e influencia o “juiz” da partida (a mídia), é importante saber
jogar o jogo do governo e surpreendê-lo no contra-ataque (ver tabela ao lado).
No cenário pessimista, Denise estima que em 2050 haveria, sim, um déficit na
Previdência, mas ele seria 54% inferior ao projetado pelo governo caso estas
variáveis se comportem com os valores mostrados na primeira linha da tabela. Já
no cenário moderado, que aponta para um ganho maior de produtividade, a
Previdência alcançaria o superávit em 2038. No cenário otimista, o superávit
viria em 2027. Tudo isso levando em conta a existência de uma única fonte de
receita e mantendo as regras atuais de aposentadoria.
O fundamental, aqui, é a relação entre o crescimento da economia e a Seguridade
Social. Se o país tiver um modelo de desenvolvimento digno desse nome, os ganhos
de produtividade serão mais consistentes. Isso vai impulsionar as receitas da
Previdência, diminuindo o peso da questão demográfica.
O modelo atuarial do governo é precário nesse sentido. “Eu acho interessante
porque o governo não consegue nem prever o PIB do próximo trimestre, mas
consegue dizer quanto será o déficit da Previdência Social em 2060”, critica
Denise Gentil. “É uma arrogância também de quem acredita que existe um modelo
determinístico, com um único resultado, a respeito do qual é uma verdade
inexorável, inquestionável. O caminho mais prudente seria traçar cenários de
possibilidades com margens de erro no cálculo desses valores”.
Outro aspecto fundamental para que tenhamos cenários mais promissores na
Previdência, segundo a economista, é a própria gestão do sistema. Eis aqui um
problema sério, que ainda não mereceu a devida atenção do governo. Pauta para
uma CPI?
CPI DA PREVIDÊNCIA
Levantamento da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional revela que os devedores
da Previdência Social acumulam uma dívida de R$ 426,07 bilhões. Isso representa
quase três vezes o déficit que o governo afirma existir no setor. Na lista,
com mais de 500 nomes, há grandes empresas, como a mineradora Vale (dívida de R$
275 milhões) a JBS, da Friboi (R$ 1,8 bilhão), Caixa Econômica Federal (R$ 549
milhões), Bradesco (R$ 465 milhões), Banco do Brasil (R$ 208 milhões) e Itaú
Unibanco (R$ 88 milhões).
Estima-se ainda que R$ 100 bilhões têm chance média ou alta de recuperação, a
curto prazo, por serem devidos por empresas que estão em funcionamento e têm
patrimônio para saldar os débitos. Sendo assim, o que falta à União para
recuperar esse dinheiro?
Esta é uma das perguntas que o Senador Paulo Paim vai tentar responder com a CPI
da Previdência. Crítico da reforma, que considera criminosa, o senador entende
que bastaria o governo “ir pra cima e cobrar as dívidas” para sanear as contas
públicas.
Paim não sabe avaliar se a CPI da Previdência irá influir na tramitação da
reforma na Câmara, mas certamente irá impactar o Senado, a partir de junho. Além
disso, a CPI estará a pleno vapor na mesma época em que o TCU (Tribunal de
Contas da União) pretende divulgar o resultado da auditoria iniciada em março
com o objetivo de avaliar a real situação da Previdência.
A análise do TCU é bem-vinda, afirma o senador. Ele lembra, contudo, que
auditorias recentes mostraram números preocupantes e nada foi feito (o senador
se refere à auditoria divulgada sobre o rombo da Previdência nos estados, há
dois anos). A seu ver, o TCU não será a referência central nesse assunto e sim a
CPI, que vai debater não só a existência do tal déficit mas, sobretudo, expor os
grandes devedores da Previdência.
"A CPI vai esclarecer se o país precisa ou não da reforma da Previdência",
avalia. Mais do que isso, a CPI pode ser a tribuna para que a sociedade discuta,
com transparência, o que deseja para o país. Como diz o professor Eduardo
Fagnani, não se trata apenas de pensar “no que eu vou ganhar ou vou perder” com
a reforma. O que está em jogo é o país que nós temos hoje e o país que vamos ter
daqui a 30 ou 40 anos se a proposta do governo for aprovada. Ao que tudo indica,
será um país bem mais desigual, onde a Previdência não cumpre mais seu papel de
mitigar as contradições do capitalismo brasileiro, que de tão atrasado não
suporta nem mesmo os direitos sociais assegurados pela Constituição de 1988.
SERVIDOR FEDERAL
UMA PONTE PARA O PASSADO
Reforma após reforma, o servidor público vem sendo responsabilizado
como um dos fatores de desequilíbrio da Previdência. É um discurso
fácil, que encontra eco numa sociedade que ignora, por exemplo, que
a maioria dos servidores passou sua vida recolhendo 11% sobre o
total da sua remuneração, não de um teto estabelecido. Seja como
for, o governo dá um passo significativo na desvalorização da
carreira do servidor ao propor um cronograma para unificar as regras
dos regimes geral e próprio por meio da PEC 287/16. As implicações
desta proposta vão muito além da redução dos benefícios.
Para a presidente da Comissão de Seguridade Social da OAB/DF, Thaís
Riedel, o que está em curso é uma alteração significativa na própria
ideia que se tem de servidor. Durante muito tempo, explica, o
servidor foi amparado por um regime específico, fora da CLT, com o
objetivo de garantir, entre outras coisas, sua imparcialidade no
exercício de função pública. Na mesma linha, a aposentadoria era um
prêmio ao servidor que dedicou sua vida à causa pública e, com isso,
abriu mão dos ganhos que poderia obter na iniciativa privada.
Esta era acabou. Ou está acabando, já que a convergência plena
entre as regras de aposentadoria de trabalhadores do setor privado e
dos servidores e políticos deve estar concluída em 20 anos, pelos
cálculos do governo.
Para Sergio Belsito, presidente do Sinal-RJ, a reforma da
Previdência pode consolidar também o fim do mutualismo como base do
seguro social. Até hoje, o mutualismo consiste no sistema em que o
conjunto dos participantes contribui com regras iguais e o fundo
gerado custeia as despesas assistenciais de cada participante. É o
mutualismo que permite, por exemplo, que os trabalhadores da ativa
paguem os benefícios de quem já está aposentado. A paulatina entrega
da seguridade à banca privada vai acabar com este regime, pois na
Previdência Complementar, o contribuinte paga apenas para ele mesmo.
Será um mundo mais egoísta, prevê Belsito.
O dirigente do Sinal, aliás, é uma “autoridade” em matéria de regras
de transição. Com a reforma da Previdência de 1998, Belsito atrasou
sua aposentadoria por cinco anos. Em 2003, aprovou-se uma nova regra
de transição que lhe trouxe mais dez anos de trabalho. Quando se
aposentou, aos 62 anos, o sindicalista já havia contribuído 42 anos
para a Previdência.
Analisando a reforma em curso, Belsito se diz surpreso, até certo
ponto, pois não esperava ver os servidores perdendo benefícios mais
uma vez. “Imaginava-se que o governo não iria mexer novamente nos
direitos dos servidores porque, com a reforma de Lula, a situação
estaria resolvida com o Funpresp”, o fundo de previdência
complementar do servidor público federal.
De fato, essa suposição fazia sentido. A reforma de 2003 já havia
fixado o teto do INSS (hoje no valor de R$ 5.531,31) como limite de
aposentadoria para o servidor. Quem ganha mais e queira garantir uma
aposentadoria melhor, obrigatoriamente terá de contribuir para o
Funpresp. Com a edição da Lei 12618/2012 – que instituiu o regime de
previdência complementar a que se referem os §§ 14, 15 e 16 do art.
40 da Constituição a mudança passou a ser válida para todos os
servidores públicos da União que ingressaram a partir de 28 de junho
de 2012, data de criação do Funpresp.
Com estas novas bases para a aposentadoria do servidor, não
haveria necessidade de criar outros instrumentos para dificultar
ainda mais as concessões de benefícios.
O atual pacote pode trazer mudanças profundas, que destacamos no
quadro abaixo:

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ANALISTAS AVALIAM QUE ESTRATÉGIA DO BC PARA REDUZIR O
SPREAD NÃO TERÁ SUCESSO SE INSTITUIÇÃO DEIXAR DE ATACAR O PROBLEMA DA
CONCENTRAÇÃO BANCÁRIA E DAS ALTAS MARGENS DE LUCRO.
CRÉDITO MAIS BARATO: REALIDADE OU FICÇÃO?
VERÔNICA COUTO
Em um contexto recessivo e de grande desemprego – 13 milhões
de pessoas sem trabalho formal, o custo do financiamento no Brasil voltou à
arena de debates. Fator essencial para o desempenho da economia, ele pode
afetar diretamente a nova estratégia anunciada pelo Banco Central, a Agenda
BC+, sustentada em medidas estruturantes para tornar o crédito mais barato,
aumentar a educação financeira, modernizar a legislação e melhorar a
eficiência do sistema financeiro.
Para técnicos do Banco e especialistas na área de direito do consumidor,
várias ações apontadas para baratear o crédito, como a restrição ao período
de utilização do crédito rotativo e incentivo ao parcelamento obrigatório do
saldo devedor do cartão de crédito, em vigor desde 3 de abril, podem até
contribuir para a melhor organização do sistema, mas dificilmente trarão
redução nas taxas de juros, apontadas como os maiores responsáveis pelo
superendividamento das famílias.
Na avaliação do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o
controle do endividamento depende da queda dos juros e dos spreads
bancários, que, por sua vez, só vão cair se forem enfrentadas a concentração
no setor e as altas margens de lucro dos bancos, como destaca nota técnica
produzida pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese) a respeito das medidas anunciadas pelo pela Agenda
BC +.
O spread bancário – diferença entre o custo de captação pago pelo banco e a
taxa de juros cobrada nos empréstimos a pessoas físicas e a empresas
(inclusive às administradoras de cartão) – tem resistido a anos de críticas,
impermeáveis a várias ofensivas para reduzi-lo. Agora, está na agenda do
Banco Central e, também, na pauta de um grupo de trabalho criado pela
Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), dedicado a propor
alternativas para reduzir o custo do crédito e aumentar a produtividade da
economia. Frequenta, ainda, os debates na Câmara dos Deputados, onde tramita
um projeto de lei (PL 3.515/15), que reforma o Código de Defesa do
Consumidor e dispõe sobre a prevenção e o equacionamento do
superendividamento, a partir de incentivo à educação financeira e da
formação de núcleos de conciliação e mediação de conflitos, e da instituição
de mecanismos para acordos extrajudiciais e judiciais visando a proteção do
consumidor.
Na CAE, é consenso que o Brasil precisa reduzir o custo de financiamento,
como deixou claro o coordenador da subcomissão, senador Armando Monteiro
(PTB-PE), em entrevista à TV Senado: “Reduzir sem medidas mágicas, sem
voluntarismo, mas por meio de uma agenda que permita de forma estrutural
atacar esse problema, que representa uma desvantagem do país.” O senador
reconhece que as margens elevadas de intermediação financeira aumentam os
custos de capital para o pequeno empresário, o consumidor que usa cartão de
crédito e quem faz financiamento de capital de giro.
Entre os mais altos do mundo na faixa de 25,9 pontos percentuais no crédito livre –, não é a primeira vez que os spreads bancários entram na mira
da CAE. Há quase dez anos, em sessão realizada em dezembro de 2008, auge da
crise internacional, senadores indignados cobravam providências a Henrique
Meirelles, que ocupava então o posto de presidente do Banco Central no
governo Lula. Em junho de 2009, menos de um ano depois e com a crise interna
aparentemente controlada, o spread somava 27,2 pontos percentuais, e sua
normalização continuava sendo “uma prioridade do governo”, afirmava então o
mesmo Meirelles, mais uma vez, à CAE. Em seminário sobre o tema realizado em
fevereiro no BC, o ministro disse ter como meta inicial fazer a taxa
retornar a patamar anterior à da crise atual, ou seja, 18 pontos
percentuais.
POPULAÇÃO ENDIVIDADA
De lá para cá, as taxas subiram e o endividamento também: 60 milhões de
brasileiros estão incluídos em cadastros restritivos de crédito, ou 57,9%
das famílias, num total de cerca de R$ 200 bilhões, de acordo com dados de
março da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O
cartão de crédito é, disparado, o principal canal de endividamento das
pessoas: citado por 76,6% das famílias. Em segundo lugar, estão carnês, com
15,1%, e, em terceiro, financiamentos de carro, com 10,2%. Do conjunto de
famílias endividadas, 9,9% afirmam que não terão como pagar suas dívidas –
uma taxa recorde, a maior desde 2010, início da série histórica.
Para o Idec e o Dieese, os juros excessivos empurram os débitos a níveis
impagáveis, surpreendendo os próprios consumidores, que vêem as dívidas
subirem rapidamente de valor. Para os bancos, a culpa das altas taxas é do
próprio devedor, ou seja, do grande número de inadimplentes no país.
Na opinião do economista Ricardo Piccoli, presidente do Sinal/Porto Alegre e
analista do BC, o argumento não se sustenta. “Seríamos então o povo mais
caloteiro do mundo. Temos um sistema bancário desenvolvido, atualizado, comparável tecnologicamente ao americano, ao europeu ou ao japonês, com taxas
de juros superiores até as do contexto africano, onde os bancos captam a 10%
e emprestam a taxas entre 20% e 30%”. Para ele, o alto spread tem uma
razão simples: o lucro bancário, que responde por cerca da metade da taxa.
Na média dos últimos cinco anos,de 2011 a 2016, o lucro foi o maior
componente, com 53%, na composição do spread bancário do chamado crédito
livre com taxas prefixadas, aquele contratado pela maioria das pessoas
físicas, que registrou uma média de 35,2 pontos no período. O número foi
apresentado pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, durante seminário, em
fevereiro, que tratou das medidas da Agenda BC+ para reduzir o spread.
Depois do lucro, vêm os impostos diretos (CSLL e Imposto de Renda),
respondendo por 7 pontos, ou cerca de 20%; e, só em terceiro lugar, a
inadimplência, equivalente a 6,5 pontos, ou 18,5% do total. Os demais
itens que formam o spread envolvem custos administrativos, com 2,2 pontos, e
compulsórios, encargos fiscais e Fundo Garantidor de Crédito (FGC) com 1,2
ponto.
A posição do governo em relação aos juros, contudo, aproxima-se da tese
defendida pelos bancos, segundo a qual o problema maior está na inadimplência. Até agora, as principais iniciativas da Agenda BC+ para redução do
custo de crédito têm priorizado mecanismos que deem maior segurança aos
credores mudança no cadastro positivo (que passará a ter adesão automática),
criação da Letra Imobiliária Garantida, duplicata eletrônica, alterações na
lei de falência (para acelerar a posse de bens dados em garantia) e mesmo a
imposição de limite ao rotativo do cartão de crédito, que poderia evitar os
casos de consumidores que simplesmente desistem de pagar.
No mesmo seminário, o presidente do BC destacou o crescimento no mercado
de pessoa física do crédito habitacional e do consignado, segundo ele,
justamente por serem aqueles de menor risco para o credor. “Estou
enfatizando essas duas faixas porque, quando o crédito tem sua segurança,
sua garantia, ele cresce. (…) Na questão da garantia dos empréstimos, temos
visto que aquelas parcelas que são mais seguras avançam e estão crescendo.
Isso dá uma dica de uma parte das medidas, de onde que elas têm de vir. Elas
têm de vir da segurança e da redução da incerteza.”
FREIO NO ROTATIVO
Nessa direção, o BC decidiu dar um freio no crédito rotativo, que produz
dívidas impagáveis, com juros que, em fevereiro, chegaram a 481,5%. A
Resolução nº 4.549, publicada em janeiro, estabelece que o crédito rotativo
só poderá ser usado durante 30 dias. Após esse período, o saldo devedor
precisará ser quitado ou parcelado por instituição financeira que ofereça
taxas de juros mais baixas.
Como efeito imediato, a impossibilidade de rolar a dívida do cartão deve
aumentar as inscrições nos serviços de proteção ao crédito, como o Serasa ou
o SPC. “Muitas pessoas talvez não consigam nem quitar a dívida, nem suportar
as novas parcelas”, reconhece Nehemias Monteiro, analista do BC.
Após o impacto inicial da resolução, contudo, ele acredita que a tendência é
de redução da inadimplência. “Poder ficar meses sem pagar nada do principal
da dívida, e continuar comprando, é uma distorção do nosso mercado. Ao
fazer apenas o pagamento mínimo, na prática, muitos acabam pagando três,
quatro vezes o valor original da fatura. A resolução quebra o mecanismo do
rotativo, que deixava as pessoas em uma situação extremamente difícil.”
Para Piccoli, embora a medida possa atenuar a evolução do endividamento, não
produzirá queda nos juros. “A resolução parece interessante e pode conter um
pouco o ritmo do endividamento das pessoas, em um contexto em que os
bancos cobram taxas altíssimas das operadoras dos cartões, que as repassam
aos clientes, que, por sua vez, precisam, por conta própria, buscar nos
bancos a repactuação.
Mas não vai produzir queda nos juros.” Segundo ele, a oferta de crédito é
pouco elástica – com poucas instituições financeiras, o que sustenta o seu
alto custo: nas dívidas de financiamento, cerca de 70% se referem a juros.
Com o limite imposto ao rotativo, “o que vai acontecer é que
haverá menos oportunidade de cobrança dessas taxas”, prevê Nehemias
Monteiro. A regra não diz que seja obrigatório bloquear o cartão, mas como o
parcelamento do saldo devedor é contabilizado dentro do limite autorizado
para o crédito, o analista do BC explica que as parcelas da repactuação vão
deixar cada vez menos margem disponível para uso. “Se a pessoa precisou
refinanciar R$ 1 mil, os R$ 1.200, que serão pagos, por exemplo, em doze
parcelas de R$ 100, vão comprometer o seu limite de crédito, evitando a
continuidade do endividamento”, acredita o analista.
A resolução, no entanto, não dá detalhes de como os bancos devem proceder na
repactuação. Na avaliação do Idec, a iniciativa do BC de combater o
endividamento é positiva, mas as lacunas quanto à sua aplicação trazem
riscos para os direitos dos consumidores e não asseguram que as taxas no
parcelamento caiam a patamares compatíveis com a capacidade de pagamento dos
usuários. A instituição enviou uma carta ao Banco Central, com vários
questionamentos sobre a resolução, e na qual informa que fará notificação
formal dos problemas apontados à Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom).
Argumenta, por exemplo, que, antes de a nova regra entrar em vigor, os
bancos já ofereciam, na própria fatura, a possibilidade de parcelamento com
taxas inferiores às do rotativo, mas ainda muito acima das taxas mais
acessíveis do mercado.
Segundo o levantamento do Idec, os cinco maiores bancos do país (Banco do
Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa e Santander) ofereciam a repactuação, em
fevereiro, a uma taxa média de 160,36% ao ano (8,10% ao mês, praticamente
toda a inflação prevista para 2017), sendo a mais alta a do Itaú Unibanco,
com 250,73%, e a menor, do Banco do Brasil, 89,43%. “A praticidade de
parcelar o saldo dentro da própria fatura desburocratiza o processo, mas não
é garantia de taxas de juros mais competitivas”, afirma o documento. Muitas
vezes, as taxas de juros do crédito pessoal no mesmo banco são inferiores às
taxas de juros para o parcelamento (ver tabela abaixo).
“Trocar o rotativo pelo parcelamento não vai conter o endividamento, porque
os juros não serão baixos”, diz a economista e pesquisadora do Idec Ione
Amorim. “Continua a indução ao endividamento, mas de forma alongada.” Na
prática, impedido de recorrer ao rotativo, o consumidor já terá de parcelar
no primeiro vencimento da fatura, firmando um compromisso que pode chegar
até 24 meses. Na sua opinião, a maior preocupação da política deveria ser
facilitar a quitação da fatura em condições razoáveis, e não desdobrar a
dívida. O que significa, na prática, mexer nas taxas e no spread, levando em
conta a capacidade de pagamento efetiva dos consumidores.

MEDIDAS PARA CONTROLAR INADIMPLÊNCIA
Na Agenda BC+, tanto a duplicata eletrônica quanto o cadastro
positivo buscam obter mais informações sobre os tomadores de
crédito, para que as instituições financeiras possam separá-los
em “maus e bons pagadores”, oferecendo juros mais altos a uns e
mais baixos a outros. “Temos de enfrentar a questão da
informação e da assimetria”, justificou o ministro Henrique
Meirelles, no seminário do BC sobre os spreads.
No caso do cadastro positivo, um projeto de lei vai propor que,
em vez de o usuário ter de fazer sua inscrição, ele será
incluído na lista automaticamente, precisando pedir para sair
dela. E a duplicata eletrônica envolveria, na verdade, um amplo
sistema centralizado para registro das duplicatas e, também, de
outros recebíveis, como cartão de crédito. Essa base de dados
vai informar, por exemplo, se aquele ativo foi usado como
garantia de outra operação. Atualmente, cada banco tem seu
próprio ambiente de desconto de duplicatas, e a ideia é reunir a
informação dispersa, de modo que o BC tenha um registro mais
rigoroso dos pagamentos e da inadimplência no mercado. “O
aumento da segurança dos credores tem impacto direto nas taxas
de descontos de títulos com esse tipo de garantia”, acredita
Meirelles.
“A duplicata eletrônica é um bom controle, que pode ajudar no
acompanhamento da política monetária, com mais um indicador para
o BC o nível de inadimplência, além do comportamento da
inflação”, analisa a economista Regina Camargos, do Dieese,
assessora na subseção da Confederação dos Trabalhadores no Ramo
Financeiro (Contraf-CUT). Para a melhoria das condições do
crédito e redução dos juros, contudo, ela não vê efetividade nem
no cadastro positivo, nem na duplicata eletrônica.
A Agenda BC+ também prevê redução no prazo de pagamento da
operadora de cartões para o estabelecimento comercial,
padronização tecnológica das máquinas de cobrança e a
diferenciação entre os preços dos diversos meios de pagamento
dinheiro, cartão de crédito e débito, boleto e cheque. Medidas
que tentam estimular a concorrência entre as operadoras de
cartões, diminuir custos dos lojistas e clientes. A
diferenciação de preços por meio de pagamento, no entanto, é
proibida pela Portaria 118/94, do Ministério da Fazenda, e
também pelo Código de Defesa do Consumidor.
Finalmente, um dos pontos mais controversos da Agenda BC+ está
na intenção de restringir o crédito direcionado, financiamentos
com taxas menores oferecidos pelos bancos públicos
principalmente o BNDES para fomento a segmentos considerados
estratégicos para o desenvolvimento. O argumento do governo é
que o subsídio “esteriliza” efeitos da política monetária e
induz o aumento no custo do crédito livre, supondo que este
incorpora uma “compensação” pelas linhas de juros mais baixos. A
primeira ofensiva concreta ao crédito direcionado foi a criação
da Taxa de Longo Prazo (TLP), atrelada a uma taxa de mercado,
para substituir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) nas linhas
de crédito do BNDES.
A TLP será composta pela variação do Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA) e por taxa de juros real prefixada
mensalmente, de acordo com o equivalente ao rendimento real das
Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B), no prazo de cinco
anos. No dia 1º janeiro de 2018, a nova taxa será igualada à TJLP vigente, convergindo gradualmente no prazo de cinco anos
para a remuneração integral da NTN-B. A nota do Dieese, anterior
ao anúncio da TLP, já criticava a decisão de restringir o
crédito direcionado. “Num momento de agravamento da recessão
causada, entre outros fatores, pela forte restrição e
encarecimento do crédito, tal medida pode retardar ainda mais a
retomada do crescimento econômico”, alertou.
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PESQUISA DO IDEC BANCOS LUCRAM COM RENEGOCIAÇÃO DAS DÍVIDAS
O endividamento do consumidor brasileiro é um modelo de negócio,
e não resultado da falta de informações sobre o cliente, como
alegam os bancos e o governo. A avaliação é da economista Ione
Amorim, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec),
que defende políticas de educação financeira, incentivo aos
usuários que não rolam dívidas e diretrizes para negociações em
condições compatíveis com os recursos do tomador do crédito.
Pesquisa realizada pelo instituto sobre as políticas dos bancos
para tratar seus clientes endividados mostrou que 56,7% dos
entrevistados consideraram que a instituição financeira não
avaliou a sua capacidade de pagamento na proposta de acordo. E
37% atribuíram a falta de planejamento e o acúmulo de dívidas
como principal fator de endividamento, maior até do que o
desemprego, com 21%. “Renegociar para os bancos significa
alongamento de dívida, e, mesmo com taxa menor, a longa
exposição levará ao crescimento do débito”, adverte a
pesquisadora. “Pode ser um grande negócio para o banco somar a
dívida do cheque especial, do cartão de crédito, do CDC, juntar
tudo e fazer o consumidor contrair uma nova dívida por meio do
parcelamento”, adverte a economista.
A pesquisa do Idec se baseou em dois questionários, aplicados no
período de julho a setembro de 2016: um para os consumidores,
respondido pela internet por 1.815 participantes; e outro para
os cinco bancos mais citados por eles como credores: Banco do
Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander. O
levantamento é o segundo de uma série de três e integra o
projeto Guia dos Bancos Responsáveis (GBR), desenvolvido com
apoio da Sida/Oxfam Novib. A possibilidade de renegociar as
dívidas é um direito previsto nos artigos 360 e 367 do Código
Civil e a pesquisa tentou avaliar em que medida se oferece, na
prática, essa alternativa ao consumidor.
“De um lado, os endividados apontam que não conseguem renegociar
as dívidas que não estão atrasadas, ou antes de ficar com o
‘nome sujo’, e que os bancos são inflexíveis em suas propostas”,
diz o relatório da pesquisa. “De outro, as instituições afirmam
ter políticas para renegociação e tratamento de dívidas vencidas
e vincendas, além de acolherem os endividados e orientá-los
sobre educação financeira e uso responsável do crédito.”
Do total de correntistas consultados, 53,6% já tentaram
renegociar uma dívida, mas, destes, 60,8% não conseguiram um
acordo; apenas 39,2% se acertaram com o banco. Entre os motivos
apontados para o insucesso estão: transferência da dívida para
outra empresa (29,1% dos casos); e impossibilidade de renegociar
dívidas que ainda não estão inadimplentes (24,2%), mesmo que
eles saibam que não poderão pagá-la. Os bancos, por sua vez, não
informaram em que situações repassam a dívida para escritórios
de cobrança e insistem em afirmar que têm opções para negociar a
dívida antes do vencimento.
Para Ione, o atraso e o descumprimento dos acordos derivam da
inflexibilidade dos bancos e da falta de avaliação real da
capacidade de pagamento do consumidor que quer, mas não consegue
cumprir o compromisso assumido. Segundo dados do Banco Central,
relativos a outubro do ano passado, o índice de inadimplência de
dívidas renegociadas é de 18,1% o segundo maior, atrás apenas do
cartão de crédito, com 36,1%. “Esse cenário evidencia que as
operações de renegociação são realizadas em condições
desfavoráveis para os consumidores e que elas resultam em novo
ciclo de inadimplência”, diz.
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PREVENIR, O MELHOR REMÉDIO
LAURA SOARES TUPINAMBA E LUCIANA LIRA SCIOTTA
Manter o alto nível motivacional do corpo funcional, aprimorar o clima
organizacional, promover o direcionamento focal dos servidores aos seus
objetivos funcionais, aumentar a capacidade física e laboral e melhorar a
qualidade de vida no trabalho são alguns dos objetivos a serem alcançados
pelas áreas gestão de pessoas no âmbito do serviço público federal. Entre
outros instrumentos, aqueles capazes de atuar diretamente sobre a saúde
física e emocional do servidor são os mais relevantes. Oferecer
possibilidades de cuidado aos funcionários é uma forma de valorizá-los e não
apenas eles, também os próprios órgãos, instituições e carreiras do
Executivo Federal. Há uma crescente incidência das doenças crônicas
degenerativas na atual fase do processo de modernização da sociedade
brasileira, tornando-as cada vez mais relevantes epidemiologicamente, além
de aumentar seu peso social sobre os orçamentos das assistências à saúde.
Desta forma, as necessidades em saúde tendem a ser infinitas, mas os
recursos não.
Existem algumas possibilidades de atuação para atender essa crescente
demanda: ou aumentam-se os recursos para tratar, após a doença já instalada,
investindo, assim, em terapias curativas, que têm um custo muito elevado, ou
em terapias paliativas para evitar agravos de saúde em indivíduos sem
possibilidade de cura, ou investe-se mais em prevenção para redução de
incidência/prevalência de casos futuros. Sabe-se, por exemplo, que vacinar
toda a população, muitas vezes, é mais econômico que tratar apenas um caso
de incidência da doença, caso ela se instale.
Ressalta-se, portanto, que a saúde não tem preço, mas ficar doente custa
caro. Em um cenário no qual tudo é importante, estabelecer prioridades é
imprescindível o que impõe a necessidade não apenas de uma revisão de
agenda, mas revisão das formas de atuação. Neste quadro, a questão da
prevenção como estratégia positiva de intervenção pode ser muito eficaz. O
objetivo é ficar menos doente, evitando acometimentos e comprimindo
morbidades. A Organização Mundial da Saúde afirma que cada unidade monetária
investida em programas de promoção e prevenção pode representar uma economia
de até três unidades monetárias em terapias curativas. Os aumentos de
investimento para saúde e não apenas para a doença, somados a reorientação
dos recursos existentes, devem favorecer a criação de potencialidades e
ambientes adequados de prevenção e promoção da saúde. Representando grande
avanço nas ações políticas e as diretrizes públicas.
A administração pública federal já atentou sobre a importância das ações de
prevenção de doenças e promoção de saúde como meio de aumentar a
produtividade de seus processos e a excelência de entregas para a sociedade,
consagrando essa indicação através da Portaria Normativa nº 3, de 25/03/2013
do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) que institui
diretrizes gerais de proteção e promoção da saúde do servidor público
federal.
Segundo a Portaria, as políticas de Promoção de Saúde (PS) e Qualidade de
Vida no Trabalho (QVT) devem, além de outros aspectos, contemplar a educação
em saúde, prevenção de riscos, agravos e doenças, de maneira descentralizada
e transversal, fomentando a gestão participativa onde o servidor não é um
objeto de intervenção, mas sim um sujeito ativo, consciente e responsável.
As iniciativas de promoção de saúde devem, preferencialmente, basear-se em
dados epidemiológicos, avaliação dos processos de trabalho e das condições
de saúde. Além disso, as ações devem considerar a saúde em todos os seus
aspectos, através de uma abordagem multiprofissional que possibilite
ampliação dos conhecimentos sobre saúde e aumento da autonomia decisória
individual e coletiva.
Nesse contexto, a promoção da saúde deve ser reconhecida como estratégia
fundamental das políticas de gestão de pessoas, garantindo o equilíbrio
entre trabalho e saúde, observando a humanização na atenção à saúde e as
especificidades de cada grupo (saúde da mulher, do homem, do idoso, das
pessoas com deficiência, entre outros).
(*) LAURA SOARES TUPINAMBA: Analista do Banco Central do Brasil, graduada em
Odontologia, especialista em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do
Pará e mestranda em Gestão e Planejamento em Saúde pela Fundação Santa Casa
de Misericórdia do Pará.
(**) LUCIANA LIRA SCIOTTA: Analista do Banco Central do Brasil, graduada em
Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Educação Física
pela Universidade Estácio de Sá e MBA em Gestão de Saúde pela Fundação
Getúlio Vargas.

AS NOVAS MOEDAS NA ERA DIGITAL
MERCADO CRESCE RAPIDAMENTE E PODE CRIAR UMA ECONOMIA PARALELA, GERIDA POR
PESSOAS E PARA PESSOAS. HOJE MAIS DE CEM MOEDAS CRIPTOGRAFADAS CIRCULAM PELO
MUNDO.
ELANE MACIEL E CARMEN NERY
As novas tecnologias digitais do século XXI promoveram
mudanças significativas no mercado financeiro, com forte impacto nos meios
de pagamento, a partir da criação de moedas virtuais criptografadas, usadas
para compra de bens ou serviços pela internet. O pontapé inicial desse
processo foi dado com o surgimento do “bitcoin”, criado em 2008, e que no
Brasil circula desde 2011. Em dez anos, este nicho de mercado teve uma
expansão impressionante. Hoje, mais de cem moedas virtuais circulam pelo
mundo.
Esse crescimento tem sua razão de ser. Ao contrário do dinheiro físico, os
novos ativos digitais, por não estarem atrelados a governos, autoridades
monetárias e bancos, não sofrem nenhum tipo de fiscalização e passam ao
largo das flutuações cambiais, com suas cotações sendo regidas apenas pela
oferta e demanda.
Há quem acredite que as criptomoedas têm o potencial para gerar uma mudança
disruptiva no sistema financeiro, criando uma economia paralela, gerida por
pessoas e para pessoas. Isso porque a confiança não está baseada numa
autoridade monetária central, e sim nos participantes. E por permitir
transações semianônimas e quase livres de impostos e taxas, mesmo no caso de
envios para o exterior. É possível transferir dinheiro para o outro lado do
planeta, de uma pessoa para outra, sem a intermediação de bancos ou
regulações governamentais, quase imediatamente.
REAÇÃO MUNDIAL
Por se tratar de um produto relativamente recente, a legislação mundial
sobre essas operações ainda está em construção, devendo consolidar-se nos
próximos anos. Enquanto isso, cada país administra da sua maneira o
surgimento das novas moedas, criando regras mínimas de convivência. No
Japão, por exemplo, o governo estabeleceu que os lucros e processos de
compra relacionados ao “bitcoin” devem estar sujeitos à cobrança de impostos
e ao monitoramento do Estado. Há também os países que estão tentando criar
barreiras para a circulação desse tipo de moeda, como a Rússia, a Índia e a
China, cujos investidores procuram refúgio nas criptomoedas contra medidas
adotadas pelos governos em relação à moeda local. Vale destacar que a China,
hoje, é responsável por 80% das 200 mil transações diárias realizadas no
mundo.
Em contrapartida, países europeus fazem movimento ao contrário,
preparando-se para reduzir a circulação de moeda física. Na Suécia, ano
passado, apenas um quinto de todos os pagamentos de consumidores foi feito
em espécie. Em Berlim, na Alemanha, já existe um bairro, conhecido como
“bitcoinkiez” (bairro do “bitcoin”, em alemão), em que todo o comércio local
aceita receber pagamento com a moeda virtual.
A Dinamarca, por sua vez, anunciou que quer se tornar o primeiro país a eliminar oficialmente a circulação de dinheiro físico. E, na Escócia, ganha
força o projeto “scotcoin”, que pretende ser a moeda virtual escocesa numa
alternativa à libra esterlina. Para estimular a adesão à moeda, quem se
cadastrou em janeiro de 2017 ganhou bônus de mil “scotcoins”.
BC: NOVOS DESAFIOS
No Brasil, o Banco Central tem uma visão positiva do processo de inovação
nos serviços e produtos financeiros, e entende que esse processo é natural
e inevitável, “porque aumenta a eficiência do sistema financeiro, facilita a
aderência a requerimentos normativos e permite atender à demanda social de
praticidade, simplicidade e rapidez”.
A instituição, no entanto, admite ser preciso separar transações eletrônicas
que utilizam moeda local, o real, das transações por meio de moedas
virtuais. “O Banco Central entende que as inovações precisam amadurecer,
pois é fundamental que as novas tecnologias se tornem efetivas para que
novos modelos de negócios se consolidem. Uma intervenção regulatória
prematura pode inibir as inovações”, explica Otávio Ribeiro Damaso, diretor
de Regulação do Banco, em resposta às perguntas enviadas pela Por Sinal à
instituição.
Nesse sentido, considerando as inovações que estão ocorrendo no setor
financeiro nos últimos anos, foi criado grupo de trabalho para acompanhar
especificamente os novos modelos de negócios, como as fintechs, que oferecem
serviços financeiros pela Internet, de forma a avaliar os impactos no setor,
bem como a eventual necessidade de aprimoramentos regulatórios.
Em outra frente, no âmbito da ‘Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e
à Lavagem de Dinheiro’ (ENCCLA), o BC coordena a elaboração de diagnóstico
sobre a atual conjuntura de utilização de moedas virtuais. Afinal, o papel
do BC de regulador e de supervisor do sistema financeiro sempre terá sua
importância para o cenário financeiro brasileiro.
“Caso se identifique a necessidade de intervenção regulatória, o Banco
Central estará pronto para adotar tempestivamente as medidas necessárias
para a manutenção da estabilidade do Sistema Financeiro Nacional (SFN), do
Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e do mercado de câmbio”, garante o
diretor de Regulação do Banco.
TEMPOS MODERNOS
Principal moeda virtual em circulação hoje no Brasil, o “bitcoin” passou a
ser negociado no país por volta de 2011. O mercado começou a se
profissionalizar a partir de 2013, com o crescimento das primeiras
corretoras, que movimentaram, na ocasião, um volume de operações de R$ 15
milhões. Esse número triplicou para R$ 43 milhões em 2014, e mais que dobrou
em 2015, chegando a R$ 115 milhões, até atingir o montante de R$ 300 milhões
no ano passado. Segundo projeções da consultoria Bit Valor, a expectativa
é de que alcance R$ 800 milhões em 2017.
Atualmente, estima-se que operem no país entre dez e 15 corretoras, mas 90%
do mercado ainda é dominado por três principais trades: a Foxbit, a Mercado
Bitcoin e a Bitcoin ToYou.
O “blockchain” é uma tecnologia de registro de transações descentralizada,
do ponto de vista físico e de governança, que funciona como um Livro Razão
público, composto por duas partes: uma rede par a par (peer-to-peer) e um
banco de dados distribuído (BDD). Os registros têm os dados distribuídos
entre milhares de computadores na internet, o que, junto com a
criptografia, garantem a integridade da transação, sendo impossível
adulterá-la. Isso dispensa as etapas de verificação, conferência de
compliance e tantas outras, intrínsecas às transações bancárias atuais. No
ano passado, o Fórum Econômico Mundial projetou que o “blockchain” e o
“bitcoin” devem responder por 10% do PIB mundial já em 2027.
O “bitcoin” é o primeiro ativo digital da plataforma “blockchain” e funciona
como um sistema econômico alternativo que usa moedas digitais e se
autorregula com base em um sistema de mineração informatizado. Mantendo o
anonimato dos participantes, todas as transações são checadas para evitar
cobranças duplas ou fraudes e ficam disponíveis para serem averiguadas.
As moedas são geradas em blocos pelos mineradores, pessoas que usam
softwares de mineração e a uma taxa controlada e previsível. As regras
foram estabelecidas pelo programador Nakamoto, que definiu o limite máximo
de 21 milhões de unidades a serem criadas até 2040. Até o momento, já foram
minerados 16.240.000 “bitcoins”, e a rede emite a uma taxa de 12,5 unidades
a cada dez minutos. Mas a taxa decresce pela metade a cada quatro anos –
será 6,25 em 2021. Como o número é finito, a tendência é que o “bitcoin” se
valorize cada vez mais. Hoje, no Brasil, a cotação é de cerca de R$ 4 mil.
BANCOS COMUNITÁRIOS
Plataforma digital aquece negócios

No Brasil, um dos principais efeitos do avanço da tecnologia na área
financeira se traduz na expansão de plataformas digitais oferecidas pelos
bancos comunitários. Isso foi possível graças à criação de um marco
regulatório, editado em 2013 pelo Banco Central, que permitiu às
organizações sociais terem uma carteira de serviços financeiros, oferecendo
abertura de conta corrente, empréstimo, aceitando pagamentos, entre outras
atividades.
Impulsionado pela medida do BC, o Instituto Palmas, em nome da Rede
Brasileira de Bancos Comunitários, investiu na aquisição do sistema E-dinheiro, plataforma digital criada pela empresa Moneyclip que já
trabalhava no desenvolvimento de produtos para esse segmento de bancos, com
todas as ferramentas, inclusive internet banking, marcas e patentes. O
negócio foi fechado em 2016, com recursos do BNDES.
O sistema E-dinheiro tem como característica a moeda social, controlada e
gerida pela comunidade. “Com a compra da plataforma, temos agora um banco
digital de propriedade exclusiva da Rede de Bancos Comunitários à disposição
da economia solidária e do povo brasileiro,” comemora Joaquim Melo,
coordenador-geral do Instituto Palmas, pioneiro no Brasil ao criar o Banco
Palmas, há 17 anos, responsável pela moeda “palmas” que circula no Conjunto
Palmeira, na periferia de Fortaleza, Ceará.
O aplicativo foi desenvolvido levando-se em conta as características do
público de baixa renda, podendo ser usado por smartphone, celular comum ou
cartão. Para Joaquim, o futuro é digital, veio para ficar e vai acabar com o
dinheiro em espécie e cartão de crédito, porque oferece mais comodidade,
segurança, agilidade e controle. “Esse processo é irreversível. Nos bancos
comunitários, trabalhamos com as duas moedas, mas a tendência é ir migrando
as operações físicas para a internet. A nova geração já nasceu digital”,
sentencia.
PARCERIA EM REDE
A Rede Brasileira de Bancos Comunitários é composta de 113 bancos,
espalhados por 19 estados mais o Distrito Federal, dos quais 70 já utilizam
a moeda digital. Os 14 mil usuários do E-dinheiro movimentam, mensalmente,
R$ 2,5 milhões com pagamento de boletos, contas, recarga de celular, entre
outros. Hoje em dia, 690 estabelecimentos aceitam a moeda digital
comunitária. O ponto de equilíbrio da plataforma é movimentar R$ 100 milhões
por mês.
“Isso não é nada, se conseguirmos pagar benefícios por meio do E-dinheiro.Só
no Banco Palma, que é correspondente da Caixa, pagamos, mensalmente, de R$ 3
milhões a R$ 4 milhões de Bolsa Família”, explica o coordenador-geral. Ele
calcula que 90% desse montante fica na comunidade.
De acordo com Melo, o Banco Central ainda não atentou para a situação de
penúria em que se encontram os pobres do país, com o fechamento de agências
bancárias, correspondentes e caixas eletrônicos nas pequenas cidades, por
conta de assaltos em muitos casos, com violência. “A metade dos
municípios brasileiros não tem como pagar um boleto bancário, fazer uma
transação financeira ou sacar dinheiro. O sistema financeiro quebrou, está
falido para os pobres”, questiona.
Por conta dessa situação, o Instituto Palmas reivindica ao Banco Central o
direito de fazer os pagamentos do Bolsa Família, pensão do INSS e outros
auxílios que possam ser pagos por meio do E-dinheiro. “É uma perversidade o
que estão fazendo com as pessoas que recebem esses benefícios. Se fossem
pagos pelos bancos comunitários, acabaria com a peregrinação atrás de uma
agência da Caixa ou do correspondente do banco estatal, o único que pode
pagar o Bolsa Família. Apenas um décimo dos municípios tem agência da
Caixa”, argumenta Melo, ressaltando que protocolou uma carta solicitando
audiência ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e pedindo autorização
para pagar aposentados e pensionistas pelo E-dinheiro. Até o momento, não
teve resposta.
Com o marco regulatório dos bancos digitais, essas transações são legais e
seguras. O Banco Palmas paga a 3.600 mulheres o Bolsa Família da comunidade
Palmeiras. Se não fosse isso, elas teriam de percorrer oito quilômetros para
ter acesso a uma agência do banco.
APLICATIVO E-DINHEIRO
O
funcionamento do E-dinheiro é bem simples: o número do celular é o mesmo da
conta do correntista no banco comunitário digital. O usuário tem no
aplicativo do celular a possibilidade de ver o saldo, o extrato da conta, e
verificar no que gastou com alimentação, remédio e até consultar a poupança,
que, aliás, não rende juros, porque só é permitido aos bancos comerciais ter
poupança remunerada. “Estamos estudando uma maneira de instituir um bônus,
implantando mecanismo para bonificar quem deixar o dinheiro na poupança
digital por um determinado tempo. É mais um serviço que vai atrair o
usuário”, acredita o coordenador-geral do Instituto Palmas.
No comércio local, o pagamento é feito pelo celular do comprador para o
celular do comerciante. O dono do estabelecimento, por sua vez, utiliza esse
valor como bem quiser. Pode comprar em outro banco credenciado, trocar por
real na rede de bancos comerciais do país ou depositar em sua conta por
transferência bancária, em Doc ou Ted.
Em cada transação comercial realizada pelo E-dinheiro, é descontada do comerciante uma taxa de 2% sobre o valor total da compra, que tem como destino
o fundo de crédito do banco comunitário na moeda social física não é
permitida a cobrança dessa taxa. Assim, os bancos comunitários digitais não
precisam de lastro para começar a operar, pois essa taxa compõe o fundo. O
custodiante da plataforma E-dinheiro é o Instituto Periferia, uma espécie de
banco central dos bancos comunitários. Ele contabiliza as transações, tem
todos os registros de movimentação e, no fim do ano, faz um relatório
detalhado ao BC, como determina o marco regulatório.
“O Banco Central tem de ficar distante. Quanto mais criar regras e
regulamentos, mais engessa os bancos comunitários. Se normatizar demais, os
pobres ficam de fora, como acontece no sistema financeiro dos grandes
bancos”, conclui Joaquim Melo.

A EXPERIÊNCIA EXITOSA DE MARICÁ
A prefeitura de Maricá, distante 103 quilômetros
da capital do Rio de Janeiro, instituiu, em 2013, uma política
pública que ao mesmo tempo atende as famílias de baixa renda e
movimenta a economia local. Numa parceria com o banco
comunitário da região, o município criou o Bolsa Solidária
Mumbuca e inovou na forma de pagamento, que é feito por meio da
moeda social eletrônica “mumbuca” (nome de um rio local), com
suporte em cartão eletrônico magnético. A novidade contou com o
apoio técnico do Banco Palmas. Cada família beneficiária da
bolsa recebe 85 “mumbucas” em crédito no cartão magnético e
realiza suas compras na rede local credenciada por meio da
maquininha P.O.S
(Ponto de Serviço), que é customizada para aceitar a moeda
social. Atualmente, são 14 mil beneficiados do Bolsa Solidária,
que gastam no comércio local, mensalmente, 1,1 milhão de “mumbucas”.
A utilização do sistema eletrônico para concessão das bolsas,
abrindo mão da moeda física, além de pioneiro no país, torna o
processo mais transparente, facilitando o controle, a
fiscalização e a prestação de contas. O registro das transações
é feito de forma automática, em tempo real e com precisão,
simplificando a administração dos recursos. Assim, atende às
necessidades da prefeitura e dos órgãos competentes, como é o
caso do Banco Central.
A prefeitura de Maricá, distante 103 quilômetros da capital do
Rio de Janeiro, instituiu, em 2013, uma política pública que ao
mesmo tempo atende as famílias de baixa renda e movimenta a
economia local. Numa parceria com o banco comunitário da região,
o município criou o Bolsa Solidária Mumbuca e inovou na forma de
pagamento, que é feito por meio da moeda social eletrônica
“mumbuca” (nome de um rio local), com suporte em cartão
eletrônico magnético. A novidade contou com o apoio técnico do
Banco Palmas. Cada família beneficiária da bolsa recebe 85 “mumbucas”
em crédito no cartão magnético e realiza suas compras na rede
local credenciada por meio da maquininha P.O.S (Ponto de
Serviço), que é customizada para aceitar a moeda social.
Atualmente, são 14 mil beneficiados do Bolsa Solidária, que
gastam no comércio local, mensalmente, 1,1 milhão de “mumbucas”.
A utilização do sistema eletrônico para concessão das bolsas,
abrindo mão da moeda física, além de pioneiro no país, torna o
processo mais transparente, facilitando o controle, a
fiscalização e a prestação de contas. O registro das transações
é feito de forma automática, em tempo real e com precisão,
simplificando a administração dos recursos. Assim, atende às
necessidades da prefeitura e dos órgãos competentes, como é o
caso do Banco Central.
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A ARMADILHA BRASILEIRA DE LIQUIDEZ
RICARDO LUIS PICCOLI
O
setor financeiro, que intermedeia a riqueza gerada por parcela superavitária
da população embora, sob algum risco e razoável lucro, financie a parcela
deficitária, é parceiro quase recente, porém indispensável, do moderno
capitalismo, num processo pretensa e originalmente virtuoso de “azeitar” a
atividade econômica. No entanto, esse setor pode desvirtuar-se, subjugar o
capital e tornar-se quase que parasitário, numa ciranda perniciosa ao Estado
e à sociedade, na qual o próprio Estado é seu principal causador
(representado por uma parcela da sociedade que nele influencia e dele se
beneficia). Assim como o próprio Estado é a principal vítima (representado,
agora, pela parcela deficitária de recursos, justamente aquela que financia
esse Estado e por ele é explorada).
Esse desvirtuamento pode ser atestado pelas altíssimas taxas de liquidez que
as instituições financeiras brasileiras estão preservando, parasitando os
títulos rentáveis do Estado e suprimindo a parcela de recursos que poderia
dinamizar o desenvolvimento econômico. Desvirtuamento devido à excessiva
aversão ao risco do financista, somado às generosas taxas de juros do
governo, levando a um modelo que explora a baixa elasticidade das taxas ao
crédito (taxa de juros ao consumidor versus volume disponibilizado ao
crédito), e com isso drena seus recursos para o financiamento da dívida
pública.
Ao final, a geração de riqueza segue um processo que não remunera o
trabalho, sequer o capital (o qual, sabe-se, encontra-se imiscuído com o
esquema rentista), mas unicamente o sistema financeiro. A recessão e o
combate à inflação são as sentenças de ordem para criar dívida e dar suporte
à liquidez dos bancos, sustentado nos altos juros oficiais. Situação que
leva a economia a uma “armadilha de liquidez bancária”, cujos efeitos
nefastos superam a tradicional “armadilha keynesiana de liquidez” e, de
quebra, nos atrela à dominância fiscal.
Para compreender a evolução recente da influência do sistema financeiro nas
políticas econômicas, faz-se necessária uma contextualização em torno da
Crise Americana de 2008. Depois dessa crise, os países desenvolvidos
lançaram estímulos fiscais, porém, sempre acompanhados de estímulos
monetários, para não sobrecarregar o Estado em dívidas. Na ponta dos
estímulos fiscais, os baixos juros contrabalançavam as dívidas
governamentais.
Aqui, os estímulos fiscais também aconteceram, mas sob um regime de
altíssimas taxas de juros, o que explica a explosão da dívida pública. No
período, estes estímulos salvaram o Brasil da “marolinha”, mas a política
monetária, sem a mesma personalidade e robustez da política fiscal, armava
um rebote que viria a ser fatal a partir de 2015. Justamente, quando se
encontra com a crise política. Aqui, a continuidade de políticas monetárias,
adaptadas de modelos exógenos, não se ajustou à realidade econômica local,
pois, sendo um país fraco (institucional e socialmente) e de recursos
econômicos questionáveis, esses modeles favoreciam apenas à banca e não ao
desenvolvimento da Nação. Mais especificamente, não se conseguiu conduzir,
internamente, uma política monetária adequada, simplesmente aumentando juros
(premissa neokeynesiana, aconselhada pelo FMI, porém, já não mais
hegemônica, após críticas de Blanchard e outros). Afundou-se o Estado em
dívidas, gerando a dominância fiscal, e não mais se conseguiu reduzir a
inflação proporcionalmente, como se pode observar nos últimos anos. Pois, se
a política fiscal for diametral à monetária, a geração de superávit primário
é incapaz de cobrir os dispêndios com juros. Uma simples correlação entre
inflação e taxa Selic, nos últimos dez anos, mostra que o efeito é inverso,
como denuncia o economista André Lara Resende.
E as instituições que definem a política econômica (governo e Banco
Central), apesar de enxergarem o descompasso entre a política monetária,
política fiscal, juros e realidade da dívida pública, foram incapazes de
abandonar os preceitos anacrônicos da velha política que foca única e
exclusivamente no juro e na inflação.
Lara Resende, em artigo recente, é um dos poucos economistas de renome a
abordar de frente o problema dos juros altos, apresentando a relação direta
(que, segundo a TQM, deveria ser inversa) entre taxa de juros e inflação.
Posição que o expõe a críticas dos think tanks e da academia dominante no
pensamento econômico influente na política.
Embora encare corajosamente esse tabu de juros no Brasil e sua correlação
com a dominância fiscal, Lara Resende escorrega quando se pronuncia sobre a
causa do problema. Está correto, mostrando a correlação direta entre taxas
de juros e inflação, nos últimos anos. Porém, não aborda o problema de
maneira completa. Prefere namorar com as teorias wickselianas e
neofisherianas, sagazmente se ancorando em algum academicismo e desviando da
dominância fiscal, na qual nos encontramos há anos, em que os juros passam a
ter mais importância que o principal da dívida.
Dessa maneira, o problema brasileiro, que imbricou na atual dominância
fiscal, não precisa ser explicado por modelos acadêmicos exógenos. Ou,
sequer, se ancorar no modelo simples de Lara Resende (aumento de juros
responsável pela inflação).
Uma análise mais acurada da situação brasileira mostra que, no curto prazo,
a taxa de juros pode domar a inflação, mas, a persistir o modelo por longo
tempo, e com a política monetária diametral à política fiscal, a dominância
fiscal se faz presente e o juro não mais consegue o efeito desejado.
O modelo anacrônico utilizado pelo Banco Central, ancorado pela antiga
política neokeynesiana, acredita na eficácia da taxa de juros combatendo a
inflação no curto e no longo prazo. Lara Resende acredita no efeito inverso,
para curto e longo prazo. Porém, parece mais lógico aceitar que a taxa de
juros tem efeito imediato de reduzir a inflação (corroborando a TQM), mas, a
persistir seus efeitos por longo tempo, leva a uma deterioração crônica das
contas governamentais.
Se, no momento, a inflação brasileira cedeu, na base da marreta e da
bigorna, evidente se mostra a devastação econômica provocada pela política
econômica que leva à chamada dominância fiscal. Comprova a validez da
política para o curto prazo, porém, sua ineficácia para o longo prazo
(correlação direta da taxa de juros com a inflação).
Portanto, redução de juros (e de spreads) oficiais e desestímulo ao
entesouramento de recursos em tesouraria de bancos (em títulos gordos do
governo) é o desafio atual para o crescimento sustentável do Brasil. Uma
visita às atuais políticas monetárias de outros países* também se faz
necessário para se compreender e evitar o domínio do poder financeiro nas
políticas econômicas, situação que, rapidamente, leva à dominância fiscal.
Uma revisitada aos modelos de combate à inflação, sem dúvida, seria o
primeiro passo para desencadear os demais.
(*) Para entender a influência financeira, inclusive nos países centrais:
O Banco Central Europeu (BCE) ainda não discutiu como deixará de aplicar o
programa de afrouxamento quantitativo, mas os governos e os bancos devem
se preparar para um cenário de taxas de juros mais altas, disse Benoît
Coeuré, membro do conselho executivo do BCE. Ele disse também que os
candidatos às eleições presidenciais da França devem ter particular cuidado
e não construir programas econômicos com base em juros baixos para os
próximos cinco anos... salientando que a vulnerabilidade dos bancos às taxas
de juros será o tema principal dos testes de estresse do BCE neste ano. “As
taxas negativas foram muito eficazes, mas não devem ser mantidas por tanto
tempo, a ponto de penalizar o setor bancário.”
Fonte: Valor Econômico, 4/4/2017
(*) RICARDO LUIS PICCOLI é Especialista do Banco Central e conselheiro
nacional do Sinal
ENTREVISTA DARO MARCOS PIFFER
“O SINAL GANHOU MAIOR CREDIBILIDADE”
Para o presidente do Sindicato Nacional dos
Funcionários do Banco Central (Sinal), Daro Marcos Piffer, credibilidade
e maior inserção nos grandes debates nacionais compõem o principal
legado da sua gestão, que se encerra no próximo dia 30, após quatro anos
de mandato. Entre os desafios a serem enfrentados pelo seu sucessor, ele
destaca o realinhamento dos salários dos servidores do Banco Central aos
de carreiras congêneres, como os funcionários da Receita Federal, além
da atração das novas gerações ao movimento sindical e a valorização do
servidor por meio de uma atuação mais efetiva do Banco junto aos
consumidores e à sociedade. Nesta entrevista, Daro faz um balanço das
conquistas alcançadas e das prioridades das lutas que virão, inclusive
na resistência às reformas propostas pelo governo, que ameaçam direitos
históricos dos cidadãos.

O discurso do governo usa a crise pela qual atravessa o país para
justificar reformas profundas, que, para muitos, significam redução de
direitos e precarização do trabalho. Por exemplo, a reforma da
Previdência, a reforma trabalhista, ou a lei da Terceirização. Como você
avalia o cenário atual e a inserção do Sinal neste movimento de
resistência?
O Sinal, assim como outros sindicatos, está resistindo a essas reformas.
Entendemos que há necessidade de reformas, de modernizar legislações –
tanto na Previdência quanto nas relações de trabalho e na regulamentação
da terceirização. Mas não com essas reformas que estão sendo propostas,
que tratam igualmente situações desiguais.
Na terceirização, por exemplo, a lei trata empregados de atividades-fim
como empregados de atividades-meio, fazendo uma grande confusão e não
dando as garantias necessárias a que recebam seus direitos. Além disso,
os dados mostram que o trabalhador terceirizado está mais sujeito a
acidentes do trabalho. As ações de treinamento são menos direcionadas a
ele, que começa a trabalhar sem estar bem preparado para o serviço que
vai realizar, o que aumenta a probabilidade de acidentes. Na questão do
pagamento de direitos, os trabalhadores ficam vulneráveis, porque muitas
das empresas quebram e não existe responsabilidade solidária da
contratante. Há necessidade de regulamentação, mas não esta que está aí.
E quanto à reforma da Previdência?
Acontece o mesmo na reforma da Previdência: trata desiguais de maneira
igual. Ou seja, quem tem trabalho insalubre como quem não tem. Os
trabalhadores da cidade como os do campo. Os do Nordeste, como os do
Cerrado ou dos pampas ou da selva amazônica, que têm características,
expectativas de vida e salários diferentes. Como se fossem todos iguais.
De fato, a população está envelhecendo. É necessária uma reforma da
Previdência. Mas não esta que está aí, que tem uma regra de transição
absolutamente draconiana, pela qual duas pessoas em condições iguais,
com a diferença de um dia de nascimento, ou um dia a mais de ingresso
no mercado de trabalho, tenham realidades completamente diferentes. Não
é uma regra de transição gradual.
A mesma coisa na reforma trabalhista. Precisamos avançar muitos pontos
nas relações de trabalho, que têm regras engessadas, com um alto número
de ações na Justiça, e que precisam ser mais racionais. A legislação
precisa melhorar, mas não tirando direitos.
As reformas propostas pelo governo só consideram o lado do trabalhador.
Não se mexe em reformas de governo, nem de tributos. Não se mexe no
capital. Desde que eu sou jovem se fala em fazer reforma tributária.
Temos hoje um sistema tributário em que, proporcionalmente, o pobre paga
muito e o alto poder aquisitivo paga pouco. Há um desiquilíbrio. Grande
parte da tributação é sobre consumo, e não sobre a renda. É óbvio que
não se vai fazer uma reforma tributária para que o governo arrecade
menos, embora se pague muito tributo no país e se pudesse reduzir um
pouco essa carga. Mas precisamos de uma reforma para que se paguem
melhor os impostos, que se contribua mais com a Nação e se retire a
carga excessiva que está em cima do trabalhador de menor poder
aquisitivo. Basta ver o número de anos em que os reajustes das tabelas
do Imposto de Renda foram inferiores à inflação. Isso vai penalizando
cada vez mais o contribuinte com menor renda.
O discurso do caos feito pelo governo é uma chantagem?
Sim, é chantagem. O governo monta um discurso do caos para fazer com que
se aprovem as reformas que ele está propondo goela abaixo, com
pouquíssima discussão, aproveitando um momento em que tem ampla maioria
no Congresso. E é uma ampla maioria conquistada por causa da crise do
impedimento da Dilma porque o Congresso que teve a coragem de tirar a
Dilma não pode deixar agora o novo presidente à mercê. É um Congresso
refém do próprio governo.
Esse ambiente não é propício para fazer reformas. Você tem a maioria dos
políticos encalacrada com denúncias da Lava-jato; o Congresso tentando
aplicar leis para se defender, para proteger os políticos; um governo
que enfrenta discussão sobre legitimidade. A legitimidade não deriva
apenas de estar devidamente amparada na Constituição. O governo está de
acordo com as leis, mas é legítimo? É fruto das aspirações do povo
brasileiro? Tenho grandes questionamentos a respeito disso.
Você pode fazer uma síntese desses quatro anos de mandato no Sinal?
Quais os principais avanços conquistados pela gestão?
Uma dos legados que deixo para o novo presidente é um Sindicato com
maior credibilidade. Atuei muito na marca do Sinal. Atualmente, o
Sindicato se apresenta mais na mídia, melhorou bastante sua inserção. Só
como exemplo: nos meus primeiros dois anos de mandato, conseguimos fazer
40 inserções na mídia, aproximadamente. Nesses últimos dois anos,
passamos para 80. A mídia já começa a procurar nosso posicionamento,
buscar notícias, querer saber o pensa o Sindicato. Também aumentou nossa
participação em audiências públicas no Congresso Nacional. Hoje, o
Congresso já chama o Sinal para opinar sobre uma série de assuntos, e
não só sobre aqueles restritos ao Banco Central. O próprio governo tem
nos chamado. É o caso do Ministério do Planejamento, por exemplo, que
pretende preparar uma política de flexibilização do trabalho e consultou
o Sinal. Isto porque temos vários estudos sobre flexibilização,
teletrabalho, redução de jornada, que podem ser acessados na página do
Sindicato na internet. O governo viu e nos chamou para conversar.
O Sinal, hoje, é visto como protagonista e está mais bem posicionado
ante várias instituições, como a mídia, o governo e nossos pares.
Aumentamos nossa participação no Fórum Nacional Permanente das Carreiras
Típicas de Estado (Fonacate.). Grande parte das carreiras dos servidores
públicos federais fez campanha salarial de dois anos, e vem nos
procurando para dar suporte, opinião sobre como deve conduzir as
campanhas e, principalmente, sobre o índice que deve solicitar ao
governo numa eventual negociação. Acho que essa maior inserção foi o
grande legado deste mandato.
Quais os desafios para o novo presidente?
Nosso novo presidente também vai ter um começo mais ou menos tranquilo,
porque fechamos um acordo de quatro anos. Então, nos próximos dois anos,
não vai haver o desafio de campanha salarial, de negociação. Mas esta
última campanha, em virtude do cenário político atípico, foi longa. A
negociação durou um ano, depois mais seis meses para aprovação no
Congresso. Ainda tivemos pontos acordados que foram vetados pelo
presidente da República, e houve um descolamento nas carreiras
registradas. Aquelas que conseguiram segurar mais as negociações, e
foram fechar acordos no apagar das luzes no governo da Dilma, obtiveram
ganhos diferenciados. Talvez porque o governo estivesse tentando uma
sobrevida, ele acabou cedendo mais espaço a carreiras como as da Polícia
Federal e da Receita Federal, que são congêneres à nossa e têm
importância para o governo e para a sociedade brasileira semelhante à do
Banco Central.
Temos agora de buscar condições de negociação para diminuir essa
diferença. Esse é um desafio para o novo presidente. Mas, sem a campanha
salarial, ele terá tranquilidade para montar um projeto, uma sistemática
de trabalho, junto com o governo, o Ministério do Planejamento, para que
possamos sanar essa diferença.
Acho que isto é o principal que ficou do mandato: um Sindicato mais
presente, em diversos fóruns. E o desafio, em contrapartida, de resolver
esse desalinhamento salarial com outras carreiras e colocar o Banco
Central efetivamente no topo do Executivo.
Quais as outras metas que estão na pauta?
Há desafios dentro de casa: teletrabalho, melhorias de qualidade de vida
dentro do Banco, flexibilização. Embora a gente concorde com a
flexibilização de horário do servidor, o Banco não pode olhar só o seu
próprio lado. Obviamente, quando você flexibiliza o trabalho, o Banco
Central vai ter um trabalhador mais motivado, porque o horário permite
que ele faça outras atividades importantes no ambiente familiar, pessoal,
de lazer, e consiga balancear melhor suas atividades. E isso resulta em
um trabalhador que está mais estimulado, traz recompensa para a
instituição. Mas também é preciso considerar o lado do trabalhador.
Hoje, temos um problema dentro do Banco Central, que é a diferença entre
o especialista e o procurador do Banco. O procurador está lá na
advocacia e, porque faz trabalho intelectual, não tem controle de
catraca. Mas a diretoria está querendo introduzir catraca para a
carreira de especialista, como se ele não fizesse um trabalho
intelectual. O trabalho no BC é basicamente intelectual, tratamos da
política monetária do país, temos influência enorme na política
econômica, na política cambial, em várias políticas importantes que são
formuladas dentro do BC. E aí você penaliza o servidor, trata-o como
servidor de segunda classe, tendo de controlar o horário. Nessa
concepção, não importa sua produção, mas o tempo gasto dentro da
instituição. É um absurdo.
O
Sinal vai conseguir atrair a nova geração de servidores, mostrando a
importância do Sindicato para conquistas coletivas e individuais?
Sim, isto é amplamente necessário. Hoje, o Sindicato tem dificuldade de
trazer os novos concursados, que o olham com desconfiança. Alguns dizem
que é uma instituição retrógrada. O sindicalismo está em crise no mundo
inteiro. Com as novas ferramentas, com a evolução tecnológica, a atuação
dos sindicatos, sua forma de lutar, colocar e negociar seus
problemas está mudando. Isso é requerido, e por isso não há tanta
adesão. Mas é necessário entender que é por meio do Sindicato que vamos
ter as nossas conquistas. Precisamos fazer um trabalho de aproximação,
trazer o novo servidor para dentro. Porque só assim o Sinal vai
conseguir olhar melhor para as necessidades dele.
Quais questões mobilizam mais os novos servidores e deveriam estar na
pauta do novo presidente?
Temos problemas no Banco Central que atingem efetivamente o servidor
novo, com pouco tempo de Banco. Por exemplo, as questões de teletrabalho porque o deslocamento casa/trabalho nas grandes cidades é caótico.
Outros problemas, como o corte de gastos do governo, que afeta a busca
por melhor qualidade de vida na atividade, uma vez que é necessário
dinheiro para atender o servidor, que precisa de um ambiente não
poluente, translúcido, com luminosidade. Que precisa de um lugar legal
para tomar um café, uma boa mesa, um bom sistema de comunicação, de interfonia. Tudo isso é qualidade de vida, envolve dinheiro, e tem de
ser atendido. Além disso, as pessoas procuram ter mais horas livres, de
lazer, e essa distribuição melhor de horários afeta o novo servidor.
Há, ainda, uma questão crítica: a mobilidade no Banco Central. Você
entra no Banco e querem te colocar, na maior parte das vezes, nas vagas
que estão em Brasília. O Banco Central tem dez regionais, mas manda todo
mundo para Brasília. O servidor sai da sua terra natal, vai trabalhar em
Brasília, mas está preocupado, muitas vezes, em voltar, ser transferido
para São Paulo, Belém... Essa é outra pauta para o próximo presidente do
Sinal. O BC precisa atender melhor a sociedade, e, para isso, estar mais
presente nas regiões onde o povo está. Esse é um ponto. Outro é que o
Banco tem de atender melhor o servidor. Com toda a tecnologia, o serviço
não precisa mais estar tão centralizado, ser todo feito em Brasília.
Posso fazer meu trabalho nas diferentes regionais e enviá-lo para a
Capital.
Durante o mandato, você abordou a importância de o Banco Central se
comunicar melhor com a sociedade e de mostrar a relevância do servidor
para a qualidade do serviço prestado. Como se dá isso na prática?
O servidor não tem autonomia no Banco Central. Ao perceber um problema
em algum banco, ele não pode fazer uma investigação. Precisa de
autorização de outras instâncias. Muitas vezes, você está em um serviço
de campo, percebe um problema que precisa ser investigado, mas
encontra-se fora do escopo do teu trabalho. Propõe investigar, e o Banco
não autoriza, argumentando que o escopo é outro, que precisa fazer
fiscalização nos outros bancos, tem problema de carência de pessoal. E
aquele trabalho, que devia ser feito, transforma-se apenas em um
questionamento ao Banco, que vai respondendo a um questionário, só
encaixando as peças. Para cada pergunta encaminhada pelo BC, ele tem 30
dias para responder. As respostas não vêm completas, exigem nova
arguição, e isso vai levando tempo, em vez de se colocar logo alguém
para investigar in loco. Foi o que aconteceu no Panamericano. Dois anos
depois, tínhamos um problema gravíssimo. O que é pior: problema grave de
cessão de crédito, que talvez esteja em outros bancos também. É preciso
aumentar o escopo da ação.
São necessários novos concursos para recompor os quadros e assegurar
a autonomia do funcionário?
Um novo concurso. Trabalhamos com isso, porque o Sindicato tem uma
responsabilidade não só com o servidor, mas também com o Banco Central e
a sociedade. Não queremos apenas o servidor bem remunerado. Queremos um
Banco Central que atenda devidamente a sociedade, de forma que o
servidor seja valorizado. E o Banco precisa melhorar essa atuação e
estar presente socialmente. Deve ser visto não como aquele formulador
da política econômica, responsável pela taxa de juros, de que se ouve
falar todo dia no noticiário, mas que é algo intangível. A sociedade
precisa ver o Banco Central como uma entidade amiga, que resolve os
problemas das pessoas. Estamos há mais de dez anos nessa luta.
O atendimento ao público está sendo reduzido cada vez mais. Se a pessoa
tem um problema com um banco, hoje ela vai ao Procon fazer a denúncia.
Mas o Procon não tem a expertise nem a autoridade necessárias perante as
instituições bancárias. Antigamente, se você chegasse no Banco Central
com um problema, o responsável do BC ia na instituição bancária saber o
que estava acontecendo e propondo resolver. E o banco tentava resolver a
questão rapidamente. Há uma postura de autoridade, que o BC está
deixando para trás.
E o novo presidente do Sinal deve cobrar isso da atual direção. Que seja
mais atuante, de forma a fortalecer sua autonomia, de forma que o
servidor perceba a utilidade do seu trabalho para a sociedade. Muitas
vezes, o funcionário inicia um processo de trabalho, dá sua opinião, o
processo segue em frente e ele não tem mais acesso à sequência do que
iniciou. Fica sem saber o resultado, se algo foi implementado, se algum
gestor de banco foi multado ou penalizado, em decorrência da
investigação que fez. Não sabe o porquê do seu trabalho e o faz de
maneira burocrática. Mas se você sabe que aquilo que está fazendo será
positivo para a sociedade, o cliente vai ter algum benefício, aquele
banco vai parar de maquiar a contabilidade, por exemplo, isso faz toda a
diferença.
Qual a mensagem que você deixa para o corpo sindicalizado do Banco
Central?
O mais importante que eu digo para o funcionário do Banco Central é:
sindicalize-se. Venha participar da vida do Sindicato. É por meio do
Sinal, defendendo ações coletivas, que vamos conseguir êxito nas
reivindicações e benefícios individuais. É pela luta coletiva que vamos
levar o Banco Central e seus servidores ao topo do Executivo. Venha se
juntar. Se você tem críticas à atuação do Sinal, é aqui que vai
conseguir melhorar e até modificar a atuação política da instituição.
E, para a sociedade, digo que estou gostando do que tenho visto, em
especial, da ida às ruas. O que espero é que a sociedade brasileira
mostre mais a cara, lute mais por seus direitos. Mas com respeito.

AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA: DE QUEM? PARA QUÊ?
JOSÉ PAULO VIEIRA
É certo que o BCB tem a responsabilidade de suprir bens
públicos essenciais: a estabilidade do valor da moeda e a solidez do sistema
financeiro. É certo também que essa missão envolve essencialmente técnica e
sensatez de profissionais experientes no trato de sistemas complexos,
capazes de mitigar flutuações econômicas indesejadas. É certo, por fim, que
o BCB é conduzido com relativa autonomia por cidadãos não eleitos, por
conseguinte tem um evidente déficit democrático.
Como conciliar autonomia e independência condições essenciais para o
competente exercício da técnica com a cidadania? O BCB pode e deve
conquistá-las na mesma medida em que aprimorar os canais de transparência e
de prestação de contas, em sintonia com os debates e as melhores práticas de
outros países.
Ao Congresso do Partido Conservador britânico, a premiê Theresa May
declarou: “A política monetária tem efeitos colaterais ruins. As pessoas que
têm ativos ficaram mais ricas; as demais sofreram... algo tem de mudar.” W.
Hague foi além: se os BCs não «mudarem logo, verão sua independência ser
cada vez mais atacada”(1).
Algumas propostas iniciais incluem a adoção das seguintes definições para a
atuação do BCB:
Autonomia: frente ao poder eleito (governos e políticos). Autonomia para
gerir os meios de modo a construir os fins (objetivos de interesse da
sociedade). “Independência” é um termo inadequado, pois o BCB tanto integra
o Estado quanto deve respeitar o governo eleito (não somos uma ilha),
todavia não se trata de uma questão semântica: é essencial identificar e
estudar o poder econômico para enfrentar seus mecanismos de captura.
Independência: frente ao poder econômico (sistema financeiro). A própria
falta desta definição é sintomática; carecemos de fazer o enfrentamento
sistemático deste tipo de captura. Esta lacuna enseja fraqueza da regulação
em prejuízo do interesse público e, mesmo, do alcance da missão do BCB,
dadas as disfunções abordadas no item 4.
2. AUTONOMIA
A autonomia do BCB (também chamada incorretamente de independência) exige
graus mais elevados de prestação de contas e de transparência.
Há uma linha de argumentação, mais radical, segundo a qual “a independência
do BC não é objeto de discussão» e que «os políticos fariam bem em não
exercer influência nos lugares errados. “Nesse sentido, a autonomia (termo
mais adequado) serviria como salvaguarda contra atuações oportunísticas do
governante, por exemplo, forçar uma expansão de crédito às vésperas de
eleições para desequilibrar o resultado das urnas a seu favor.
Não dá para ignorar que declarações descuidadas sobre política monetária
podem desestabilizar os mercados; portanto os políticos têm de ser
cuidadosos com o que expressam. Mas não dá para concordar que a autonomia do
BC “não é objeto de discussão”. Cabe exigir maior humildade dos tecnocratas,
porque o que o Poder Eleito concede pode também ser retirado (ameaça feita
por membro conservador no Parlamento Britânico(1)). Com certeza, esse é um
território delicado. Um argumento dos favoráveis à autonomia é que os BCs
têm prestado bons serviços à economia mundial. Todavia, a atuação dos BCs na
última década tem gerado custos cada vez maiores e questionáveis: poupadores
perderam; desemprego e desigualdade agravaram-se sobremaneira. Recusar-se a
discutir implicações tão relevantes não é reação aceitável.
A argumentação de que o BCB deve ser deixado totalmente a cargo de técnicos
competentes parece uma justificativa convincente. O problema é que o cidadão
não tem visto os BCs (sejam mais ou menos autônomos) entregarem as suas
promessas (item 4), o que nos recomenda cautela, humildade e muito trabalho.
Ademais, o fato de que a sociedade debata, transparente e democraticamente,
as implicações sociais da política monetária não significa, necessariamente,
o questionamento da legitimidade dos que definem regras, nem dos que as
implementam. Os dirigentes dos BCs precisam mostrar que entendem as pressões
políticas e as implicações de suas ações na vida dos cidadãos.
3.INDEPENDÊNCIA
A “independência” do BCB em relação ao mercado financeiro é um tema pouco
explorado, sendo o livro do colega Estrela quase que uma exceção: “Um ponto
comumente ignorado, mas fundamental na discussão de independência e
autonomia, é a necessidade de independência em relação aos mercados”(2).
O BCB avalia o desempenho em tempo real das perspectivas econômicas sob a
ótica dos agentes do mercado (pesquisa Focus, entre outras). O BCB pode
“seguir os mercados”, por exemplo, produzindo uma sequência de taxas de
juros que os mercados já embutiram na curva futura dos juros. Nessa
conformidade, os dirigentes do BC podem até se sentir confortáveis, por
terem evitado surpresas financeiras perturbadoras, todavia isso “pode causar
política monetária fraca, por várias razões”(2).
Como avaliar estas decisões? Vamos exercer nossa competência para prestar
contas à sociedade, com transparência. Como exercer o controle social sobre
os resultados da política monetária? Não cabe dizer “isso está fora de
discussão!”, pois esse argumento de força não se coloca “em compliance” com
as melhores práticas de uma instituição por essência pública.
É essencial aprimorarmos o treinamento e a formação da cultura interna
voltados à independência do nosso posicionamento técnico, pois na prática
ele é construído a partir da percepção e das leituras individuais,
fortemente influenciadas pelo ‘mainstream’.
4. RESULTADOS DO BCB PARA A SOCIEDADE
1. O BCB busca minimizar as tarifas bancárias?
Em plena crise, os bancos têm “reprecificado” seus serviços, não obstante a
fragilização de empresas e consumidores face à crise. Mesmo com a escassez
de crédito e os juros elevadíssimos, os cinco maiores bancos do país
aumentaram até 11% suas receitas com tarifas. Os bancos buscaram realinhar
suas carteiras, passando os bons clientes para linhas com tarifas mais
caras, além de promoverem a reprecificação dessas cobranças(3). Muitas taxas
e tarifas ”surgem” no extrato com mudanças nas contas ou pacotes contratados
(Brasprevi).
2.O BCB busca minimizar spreads e juros?
Em 2016, os bancos aumentaram suas margens de intermediação financeira: o
spread bancário disparou – cerca de 12 pontos em um ano.(3)
RESULTADO: Insensíveis à maior recessão do século, nossos juros explodem
(vide gráfico). Culpa da inadimplência? Não, foi pequena sua alta, de 5,3%
para 5,9%. Os spreads (que já tinham crescido em 2015) continuaram inchando
em 2016. Quanto mais crise melhor para os spreads?
Mesmo nas linhas mais seguras, os bancos não transferiram aos clientes a
queda nos seus custos de captação. Em mercados competitivos, a queda no
preço do principal insumo custo de captação gera benefício aos consumidores.
RESULTADO: O SFN atuando como freio. Famílias: Seu esforço para reduzir
dívidas, mesmo sob açoite do desemprego, foi frustrado o comprometimento de
sua renda subiu devido ao aumento dos juros (REF/set 2016); Empresas: O
aumento das restrições ao crédito (não bastassem a recessão e as dívidas)
deprime o investimento e realimenta a crise.
O BCB deve urgentemente exercer sua independência e garantir maior
competição nesse mercado. “A miopia do sistema financeiro tem levado à
destruição do setor real da economia que gera a produção e o emprego”
colocando em risco o regime democrático(5).
3. Outras atuações
Carecem de melhoria e transparência: (i) operações swap, que, a pretexto de
conter variações do dólar, garantem lucros e proteção a empresas, sem
sabermos quais são e se realmente precisam de proteção; (ii) operações
compromissadas garantem total liquidez/rendimento/segurança/ aos agentes,
atingiram montante recorde de 18% do PIB, onerando fortemente a dívida
pública; (iii) agentes manipularam o câmbio por vários anos, provocando
desindustrialização, perda de empregos e de renda; questionado, BCB não
reconheceu falhas; (iv) brasileiros detêm quarta maior fortuna em paraísos
fiscais abrigando remessas ilegais; (v) o custo e o montante das reservas
cambiais; (vi) buscar sistematicamente ampliar o poder do consumidor e das
ouvidorias, os intercâmbios com a justiça e órgãos de proteção ao
consumidor.
5. CONCLUSÕES INICIAIS
O Brasil despendeu R$ 1 trilhão para o serviço da dívida pública, em três
anos, e a dívida.CRESCEU! Quanto? R$ 1,2 trilhão (de R$ 1,6 em 2013, para R$
2,9 trilhões em 2016). Claro que esse crescimento não se deveu aos parcos
investimentos da União e sim à ”rolagem” financeira.
“Isso foi necessário para assegurar o poder de compra da moeda” dirão alguns
colegas. Então... QUE TAL DEMONSTRAR? Vamos exercer nossa competência “de
topo do Executivo” e prestar contas à sociedade, com transparência? Não vale
dizer “isso está fora de discussão!”, pois, isso sim, não está “em
compliance” com as melhores práticas de uma instituição pública.
Atingimento de transparência e prestação de contas “de topo” são
indissociáveis de qualquer discussão sobre autonomia do BCB. Não é cabível o
conforto de reivindicar “mais” da sociedade sem melhorar o “quantum” estamos
entregando.
Há muitos paradigmas sendo questionados. Vamos questionar e debater? O BCB
pode se inspirar na experiência do banco da Inglaterra, que promove fóruns
abertos em todo o Reino Unido. Levar a política monetária à população é
demorado, mas é essencial para obter o consenso político que possibilite
conquistar, para além da autonomia em sua face “legal” – que pode interessar
apenas ao poder econômico –, a legitimação dessa autonomia colocada em
benefício de toda a sociedade. (1) O grande desafio para BCs do mundo:
provar que são relevantes; Valor Econômico THE WALL STREET J.A.; Greg Ip :
26/08/2016 pg.B09; (2)Estrela, MA.Moeda, Sistema Financeiro e BC, 2014; (3)
Um olho no spread, outro na concentração bancária; Valor Econômico BRASIL;
Raquel Balarin, 19/12/2016 pg. A02; (4) Bancos reforçam tarifas com crédito
escasso; DCI-SP FINANÇAS; Isabela Bolzani; 19/09/2016, pg.14; (5) A cautela
do Banco Central é apropriada; Valor Econômico BRASIL; Antônio Delfim Neto;
01/11/2016 pg. A02.
(*) JOSÉ PAULO VIEIRA é administrador e doutor em Economia da Energia

NA PAUTA DE 2017, OS DIREITOS TRABALHISTAS
CARMEN NERY
Ainda
que a nova diretoria só deva ser definida em maio, o Sinal já vem
articulando as principais frentes de luta para este ano. A presença ativa do
sindicato no Congresso Nacional tem rendido frutos, não apenas para a
conquista das reivindicações da categoria como o acordo salarial de 2016,
que resultou no reajuste de 27,9% –, mas também na defesa de temas mais
gerais de interesse da sociedade. Parlamentares reconhecem que, hoje, o
Sinal é um interlocutor qualificado para opinar sobre assuntos econômicos
ligados ao sistema financeiro, à política monetária, ao papel do Banco
Central, bem como pode dar uma colaboração importante nas discussões sobre o
papel do Estado, a qualidade dos serviços públicos e os direitos dos
servidores federais.
Segundo Paulo Lino, diretor de Relações Externas do Sindicato, com o acordo
salarial firmado no ano passado para os próximos quatro anos, a pauta para
2017 será menos de campanha remuneratória e mais voltada para garantir
outros direitos, por exemplo, a equiparação de benefícios sociais aos dos
poderes Executivo e Legislativo. Na pauta, portanto, ganham relevância os
debates em torno da reforma da Previdência, da terceirização e da reforma
trabalhista, que estão sendo conduzidos em articulação com os demais
sindicatos e frentes parlamentares, como a Frente Mista Parlamentar em
Defesa da Previdência e a Frente Mista Parlamentar em Defesa dos Diretos dos
Trabalhadores.
“Neste momento em que a classe trabalhadora sofre pesados ataques da onda
conservadora, o Sinal tem importante papel na luta pela manutenção dos
direitos trabalhistas, sociais e previdenciários do povo brasileiro. Vai
além de olhar a própria categoria, pois a bandeira hasteada por eles é a dos
trabalhadores, dos servidores públicos e de um verdadeiro projeto de nação
para nosso país. Sem dúvida, a assessoria parlamentar do Sindicato tem sido
fundamental para o trabalho que desenvolvo no Congresso Nacional”, afirma o
senador Paulo Paim (PT-RS), que ainda tem esperanças de aprovar no Senado o
Projeto de Lei 30/2015, do qual é relator, e também trata da terceirização,
porém com menores perdas para os trabalhadores.
1º ROUND: A TERCEIRIZAÇÃO
A aprovação a toque de caixa do PL 4.302/98 surpreendeu sindicalistas e os
próprios parlamentares, que esperavam discutir os três projetos sobre o
assunto que já tramitavam no Congresso. Estes, porém foram ignorados. O
texto aprovado e sancionado pelo presidente Temer estava adormecido desde o
governo Fernando Henrique e foi rapidamente recuperado.
O PL 4.302 reúne o que havia de pior em todos os outros projetos. Por
exemplo, não separou a empresa privada e a administração pública, permitindo
que a terceirização possa ser feita tanto na atividade-meio quanto na
atividade-fim, o que elimina a possibilidade de concursos públicos para
carreiras de Estado, como a de especialista do Banco Central e de auditor da
Receita Federal. Será possível contratar qualquer profissional, o que
demonstra uma clara distorção e quebra de qualidade dos serviços prestados,
como chama a atenção Paulo Lino. Além disso, somente a contratante tem a
responsabilidade de honrar débitos trabalhistas.
“Hoje, no caso do Banco Central, não há nenhum tipo de terceirização da área
fim. Todos os técnicos e analistas são concursados. A terceirização atinge
apenas trabalhos auxiliares, como limpeza e segurança. Até hoje, as
atividades-fim do BC – fiscalizar o Sistema Financeiro, distribuir o Meio
Circulante – estavam imunes. Mas, com a nova lei, isso poderá ser
terceirizado”, questiona Paulo Lino.
Ele lembra que o Sinal colaborou na confecção do relatório do senador Paulo
Paim no PLS 30/2015, determinando a proibição da terceirização na
administração pública, eliminando-a das atividades fim e transformando as
empresas contratantes em solidárias com as contratadas, em caso de débito
trabalhista, para não prejudicar o trabalhador.
“A estratégia é tentar fortalecer o PLS 30/2015 – que tramitou na Câmara
como PL 4.330/2004, relatado pelo Paulo Paim. Nós achávamos que ele era
ruim, mas depois de aprovado e sancionado o Projeto de Lei 4.302/98 da
Câmara, ficou muito bom. Vamos tentar aprová-lo no Senado, para ser
sancionado pelo Temer e, assim, ter alguns pontos aproveitados”, explica
Lino.
Mas, para isso, será necessário que o presidente do Senado, Eunício
Oliveira, se disponha a colocar o projeto em votação. Paulo Paim diz que vai
convocar as lideranças, a fim de forçar a votação. Outra opção é entrar com
um pedido no Supremo para que o Projeto 4.302/98 seja arquivado.
“Estamos provando que há um vício de prerrogativa, pois o Legislativo está
passando por uma decisão do ex-presidente Lula, que já havia mandado
arquivar o projeto. O ministro Celso Melo pediu explicações, entendendo que
o projeto não poderia ter sido votado, nem sancionado”, adianta Paim.
2º
ROUND: A PREVIDÊNCIA
É grande também a mobilização contra a reforma da Previdência. No final de
março, o deputado Patrus Ananias (PT-MG), com o apoio de diversas entidades
representativas de servidores públicos, entre elas o Sinal, impetrou mandado
de segurança junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), questionando o
processo legislativo da PEC 287/2016, que trata da reforma da Previdência
Social. Na petição, o deputado requereu a nulidade total do processo
legislativo, em razão da ausência de estudos que demonstrem o desequilíbrio
financeiro e atuarial.
“A reforma da Previdência é dita como essencial para o reequilíbrio das
contas públicas. Contudo, a ausência desses estudos técnicos inviabilizou a
análise da adequação constitucional das propostas apresentadas pelo governo.
Essa análise compete aos membros da CCJC/CD, que não conseguiram avaliar se
a proposta é ou não constitucional, dentro de critérios racionais de
adequação das medidas. A análise da preservação do núcleo fundamental dos
direitos sociais ficou prejudicada”, afirmou Ananias, que outorgou
procuração para o escritório Estillac&Rocha ajuizar a ação, o escritório
responsável pela assessoria jurídica do Sinal no Distrito Federal.
O Sinal tem atuado em sintonia com outros sindicatos e associações que
representam os servidores federais, pois entende que essa forma de trabalho
em conjunto é mais produtiva, já que congrega as entidades com similaridades
em suas funções, tornando mais fácil o entendimento de como tratar as
questões mais específicas que envolvem os servidores do Banco Central. “Já
de há muito, o Sinal faz parte de órgãos que congregam entidades
representativas dos servidores”, diz Lino. Entre elas, estão a Federação
Nacional dos Sindicatos dos Servidores dos Órgãos Públicos Federais de
Fiscalização, Investigação, Regulação e Controle (Fenafirco); o Fórum
Nacional das Entidades do Serviço Público Federal (Fonacate); o Fórum das
Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe); e o
Movimento dos Servidores Aposentados e Pensionistas (Mosap).
No caso do Fonacate, por exemplo, o Sinal tem participação ativa, ocupando a
secretaria-geral do órgão. Neste momento, o Fórum está trabalhando
fortemente contra a reforma da Previdência e já produziu dez emendas ao
texto do governo, que foram encaminhadas e protocoladas na Comissão que
cuida da reforma. “Esse trabalho parlamentar foi coordenado pelo Sinal”,
informa Lino.
Para o Fonacate, é fundamental demonstrar ao governo a insatisfação do
funcionalismo e da sociedade com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
287/2016. Baseado nessa premissa, o Fórum indicará às suas afiliadas e
respectivas carreiras a necessidade de participação na greve geral dos
trabalhadores, convocada para o dia 28 de abril.
“Essa data foi apresentada pelas centrais sindicais e representantes da
sociedade civil organizada. Por isso, vamos participar da mobilização. Ou
param essa PEC, ou paramos o Brasil”, enfatizou o presidente do Fonacate,
Rudinei Marques, em reunião deliberativa, no início de abril.

UM TRABALHO RECONHECIDO, EM DEFESA DO SERVIDOR
A
importância da atuação qualificada do Sinal no Congresso é
atestada não só pelas suas conquistas, como também pelos
depoimentos de parlamentares de vários partidos que acompanham
de perto o persistente trabalho que o Sindicato desenvolve não é
de hoje. Luis Carlos Paes de Castro, ex-diretor de Relações
Externas, lembra que essa relação se estabeleceu a partir de
meados de 1999, quando o Sinal lutou contra a reestruturação
administrativa do Banco Central, que enfraquecia a presença do
Banco em diversas regiões do país.
“O Sinal é reconhecido por parlamentares de praticamente todos
os partidos. Temos uma boa relação com o deputado democrata
Pauderney Avelino (DEM-AM), que defende a presença do BC em
Manaus, e também com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), cujo
desejo é ampliar a missão do Banco Central, incluindo o
crescimento econômico e a manutenção do emprego”, exemplifica
Castro.
Procurado pela Por Sinal, Lindbergh deixou claro que a relação
de seu mandato de senador pelo Rio de Janeiro com a diretoria do
Sinal tem sido das mais profícuas. Não apenas nas justas
demandas salariais e corporativas da categoria, à qual tem
procurado dar apoio, mas também nas formulações de política
econômica, principalmente na parte financeira.
“Nosso objeto comum é o cidadão brasileiro em sua universalidade
e a construção de um projeto nacional democrático. Nos trabalhos
da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), a presença de membros
do Sinal é constante. Nas sessões de sabatina do presidente do
Banco Central, as nossas arguições são trabalhadas a partir da
interlocução com vários atores da sociedade civil, com destaque
para o Sindicato e a comunidade acadêmica”, enfatizou.
Para o deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), o Sinal
tem feito um trabalho importante para subsidiar a atuação dos
parlamentares na Câmara, sendo muito ativo nas comissões. “O
Sinal sempre soube dar boas informações para que pudéssemos nos
manifestar em plenário, além de promover a divulgação das
medidas. Também tem tido uma atuação de ponta, fornecendo dados
ligados ao funcionalismo e ao sistema financeiro. Isso foi
fundamental nas discussões da PEC 555, que visa a suprimir a
cobrança da Previdência Social dos inativos do serviço público.
Gostaria que outras entidades tivessem esse nível de
qualificação”, elogiou.
Tantos elogios à contribuição do Sinal no Congresso têm sua
razão de ser. Que o diga Patrícia Coimbra, uma das responsáveis
pela assessoria do Sindicato desde 2013. Para ela, esse trabalho
em defesa dos interesses dos servidores é antes de tudo
proativo, e isso faz a diferença.
Patrícia cita, ainda, a criação da Frente Parlamentar Mista em
Defesa da Previdência Social, relançada em maio no Senado, sob a
coordenação de Paulo Paim, e da qual participam todas as
centrais sindicais e 300 parlamentares. Além da Frente Ampla
Brasil, coalizão que reúne movimentos sociais e populares,
organizações sindicais e parlamentares, com o objetivo de barrar
perdas de direitos sociais e trabalhistas. Outra iniciativa é a
Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos do Trabalhador,
coordenada no Senado por Paulo Paim, e na Câmara, pelo deputado
Vicentinho (PT-SP). “O Sinal sempre tem tido uma posição
progressista nas duas frentes, contribuindo com dados,
informações, e atuando na mobilização para que não se façam
injustiças”, diz Paim.
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