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OBrasil está passando por                       Brasileira de Infraestrutura e Indústrias  Nas contas da ABDIB,
                    uma das piores crises da    de Base, a ABDIB, o Brasil precisa inves-  o Brasil precisa investir
                    sua história. Não bastasse  tir R$ 300 bilhões por ano, pelos próxi-   R$ 300 bilhões por
                    o drama dos 12,5 milhões    mos 10 anos, para recuperar a infraes-     ano, pelos próximos 10
                    de brasileiros sem empre-   trutura do país e, assim, contribuir para  anos, para recuperar a
go, há também uma crise de governabili-         a melhoria da competitividade global       infraestrutura do país
dade que mina a confiança dos agentes           das empresas brasileiras.                  e, assim, contribuir
econômicos. Por isso, o grande desafio                                                     para a melhoria da
do presidente eleito será articular uma              Tamanha carência de investimentos     competitividade
plataforma mínima de coesão política            é amplificada por uma visão imediatista    global das empresas
que permita criar uma base para a recons-       do controle do déficit público, que mo-    brasileiras.
trução da economia.                             tivou a criação de um limite para o cres-
                                                cimento das despesas primárias federais.   VENILTON TADINI
      Uma coisa é certa: Jair Bolsonaro         Introduzido pela Emenda Constitucional
precisará tomar medidas contundentes            95, de 2016, o Teto de Gastos compro-      PRESIDENTE-EXECUTIVO DA
no primeiro ano de mandato para destra-         meteu projetos estratégicos para o país,   ABDIB
var os investimentos, que permanecem            como o Plano Nacional de Educação, e
em níveis sofríveis, tanto na esfera públi-     ainda reduziu sensivelmente as possi-
ca quanto na privada. No caso da União,         bilidades de investimento do governo
a Emenda Constitucional 95/2016, do             federal. Mesmo que o PIB alcance 2%
Teto de Gastos, congela os investimentos        ao ano, por exemplo, os investimentos
públicos. Já no setor privado, um dos           públicos permanecerão congelados, em
grandes problemas é o custo do dinhei-          termos reais, não podendo crescer acima
ro. O novo presidente conseguirá tirar          da variação da inflação em 12 meses até
o país da recessão sem enfrentar estas          junho do ano anterior.
questões?
                                                     O estrago provocado pelo Teto
GASTOS X                                        de Gastos já pode ser medido. A edi-
INVESTIMENTOS                                   ção de setembro do Relatório de
                                                Acompanhamento Fiscal da Instituição
“Há uma variável que deve ser checada           Fiscal Independente (IFI), órgão do
para que possamos ver se está havendo           Senado Federal, mostra que o investi-
recuperação econômica: é a variável in-         mento do governo previsto para 2019, da
vestimento”. Esta é a visão de João Sicsú,      ordem de R$ 27 bilhões, é o menor em 14
professor do Instituto de Economia da           anos. Em termos relativos, isso significa
Universidade Federal do Rio de Janeiro          que os investimentos públicos retornarão
(UFRJ). Por este prisma, o cenário não é        ao patamar da década de 1990 (ver tabela
nada promissor, já que estamos com um           na página ao lado).
dos níveis mais baixos de investimento
da história brasileira. Em 2017, o volume            Há um agravante: os valores or-
de investimentos da economia brasileira         çados nem sempre são efetivamente
registrou queda de 1,8%. Foi o quarto           gastos. Em 2018, por exemplo, o limite
ano seguido de retração. No primeiro            autorizado para investimentos atingiu
semestre de 2018, a taxa de crescimento,        R$ 31 bilhões, mas o gasto efetivo (até
3,6%, também não é animadora.                   agosto) foi de 23 R$ bilhões. Os núme-
                                                ros comprovam que a Emenda do Teto
      O problema ganha dimensão maior           produziu o engessamento do Estado bra-
com a defasagem que a infraestrutu-             sileiro, fato particularmente danoso em
ra brasileira acumulou nos últimos              um período de desemprego elevado e es-
20 anos. Nas contas da Associação               tagnação econômica. Com as empresas

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