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RORAIMA

O Norte esquecido

    Júnia Lara / Jornalista

    Pra começo de conversa, a pronúncia                     ciedade mais abandonada à própria sorte no estado.
                        correta do estado mais ao norte do  A população, mais de 70% dela concentrada na ca-
                        país é Roráima, com á aberto. Ro-   pital, credita a estagnação econômica à política de
                        rãima, com pronúncia anasalada,     demarcação, em especial a que resgatou para os ín-
                        é coisa de brasileiros, brincam os  dios as reservas da Raposa e da Serra do Sol e reti-
                        roraimenses. Eles mostram assim o   rou os últimos arrozeiros dos “lavrados”. Para quem
    sentimento de não pertencerem ao Brasil, e, mesmo       não sabe (eu não sabia) lavrado é um termo utilizado
    em tom de ironia, não escondem um resquício de          em Roraima para definir um ecossistema único, sem
    mágoa. E talvez explique o desinteresse pelas elei-     correspondente em qualquer parte do Brasil, que
    ções presidenciais que se vê nas ruas de Boa Vista, a   lembra uma savana ou cerrado, bem alagada, ideal
    única capital brasileira acima da linha do Equador.     para o cultivo de arroz, e com elevada importância
                                                            para a conservação da biodiversidade amazônica.
    “Eles não ligam para gente, então a gente não liga
    para eles”, resume o fotógrafo Antônio Diniz, bis-      Nas comunidades indígenas falta de tudo um pouco.
    neto do fazendeiro Sebastião Diniz, que no final        Na região do município de Normandia, por exemplo,
    do século 19 abriu a primeira picada entre Manaus       a escola da comunidade indígena Xumina (festejar,
    e Boa Vista, abrindo o trajeto da estrada que hoje      na língua Macuxi) recebeu computadores do gover-
    é a BR 174. Realmente, quando se chega ao extre-        no federal, que não podem ser utilizados porque a luz
    mo norte do país é que percebemos como conhe-           elétrica só é fornecida das 7 às 13h e das 18 às 22h.
    cemos pouco a Amazônia e como o país está dis-          Ou seja, os alunos não podem usar o equipamento no
    tanciado da realidade vivida por seus habitantes.       turno contrário ao das aulas efetivas. A precarieda-
                                                            de das estradas também é um fator de isolamento e
    Apesar de ter 46,37% do seu território demarcados       dificulta bastante o escoamento da produção, assim
    como área indígena, são os índios a parcela da so-      como a falta de assistência técnica e o uso de técni-

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