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Revista do

Atitudes para o Ano-Novo

Efetivamente, nada muda do último dia do ano de cá para o último dia do ano de lá,
mas, ao mesmo tempo, tudo pode mudar de um dia aqui para outro ali

Por Milly Lacombe - Revista da Cultura - Livraria Cultura

 Meu pai não acredita-                  peravam esfuziantemente pela   “Nada, Bilu” (era assim
                va em ano-novo. Meu
                pai, aliás, acreditava  queima de fogos.               que ele me chamava). “Só que-
     em poucas coisas: em corridas
     de cavalo, no Fluminense e em      A voz que gritava meu          ria desejar um feliz ano-novo.”
     arroz, feijão e pastel. Mas não
     em ano-novo. “O que muda           nome vinha da sala e me en-    Fui, evidentemente, pega
     efetivamente do dia 31 de de-
     zembro para o dia 1º de janei-     controu na varanda do apar-    de surpresa. Meu pai estava
     ro?”, ele perguntava. Nada, tí-
     nhamos de admitir. Tomado por      tamento, dez minutos antes     em São Paulo, com minha mãe,
     essa animação bovina diante
     da perspectiva de fazer planos     da meia-noite:                              e lá, eles passa-
     e projetos para o período que
     viria, ele normalmente ia para     “Milly, seu pai                             riam o ano-no-
     a cama em um ano e acordava
     no outro. Foi, portanto, com       no telefone!”.                              vo, como faziam
     enorme surpresa que eu escu-
     tei alguém gritar meu nome no      Saí correndo, já                            há muitos anos.
     meio da festa de anonovo que
     passei em Copacabana, na vi-       pensando que                                Eu, que nessa
     rada de 1999 para 2000. A fes-
     ta era de minha prima e havia      alguma coi-                                 época morava
     dentro daquele apartamento
     pelo menos 50 pessoas que es-      sa ruim tinha                               em Los Angeles,

32                                      acontecido. No                              tinha vindo ao

                                        caminho até                                 Brasil exclusi-

                                        o telefone, só                              vamente para ir

                                        conseguia pen-        Milly Lacombe é       a Copacabana
                                                          gerente do conteúdo es-
                                        sar que ia per-   portivo do Portal Terra,  no dia 31. Ha-
                                        der meu lugar     comentarista da Rede      via passado por
                                        no parapeito.     Record e colunista da     São Paulo mui-
                                                                                    to rapidamente,
                                             “Oi, pai.
                                        O que aconte- revista TPM
                                                                                    visto meus pais

                                        ceu?”, fui logo dizendo, para  mais rapidamente ainda e, do

                                        encurtar o papo.               Rio mesmo, me mandaria de

                                                                       volta para casa.
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