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RESPONSABILIDADE
    AMBIENTAL

    O PROTAGONISMO
    DO BANCO CENTRAL

    Ao editar a Resolução nº 4.327, de 25 de abril de 2014, o      mil instituições, entre as quais mais de 150 bancos múltiplos
    Banco Central assumiu o protagonismo da responsabili-          e comerciais e cinco públicos, é considerado um dos mais
    dade socioambiental na área financeira. A medida atinge        estáveis do mundo, por contar com rígida regulação. As
    todas as instituições autorizadas a funcionar pelo BC –        principais instituições financeiras têm experiência no uso
    bancos, financeiras, consórcio e cooperativas de crédito,      de critérios sociais e ambientais para a análise de crédito e
    entre outras –, que são obrigadas a ter uma Política de        de investimento, porém, grande parte do mercado ainda não
    Responsabilidade Socioambiental (PRSA), com diretrizes         se integrou a esse mesmo movimento.
    claras que contemplem ações dessa natureza. A partir da
    Resolução, as instituições, na hora de conceder o crédito,          Essa foi a conclusão da pesquisa realizada pela Deloitte,
    analisam se existe risco, por parte do tomador do emprés-      em parceria com o Uniethos, organização ligada ao Instituto
    timo. Isso porque, em caso de agressão à natureza, ele é       Ethos. Eles levantaram dados de 887 instituições financei-
    envolvido como corréu ao lado da empresa.                      ras, consultando informações disponíveis no website das
                                                                   empresas de 20 segmentos -- bancos, agências de fomento,
         Apesar de reconhecer que se trata de um avanço ter        cooperativas centrais de crédito, consórcios, corretoras e dis-
    políticas de sustentabilidade, Raquel da Silva Pereira, pro-   tribuidoras de valores de títulos mobiliários. A pesquisa mos-
    fessora da Universidade Municipal de São Caetano do Sul        tra que, entre 2011 e 2013, as políticas de responsabilidade
    (USCS), especialista no assunto, acredita que essas políticas  socioambiental tiveram resultados não muito animadores.
    poderiam ser mais efetivas. “Estamos engatinhando, ainda       O uso de critérios sociais ou ambientais na análise de crédito,
    há muito a ser feito. Os problemas avançam rapidamente.        por exemplo, é adotado por apenas 10% delas.
    Os bancos, que têm lucros exorbitantes, deveriam aplicar
    mais no desenvolvimento sustentável e social do ser hu-             Antes da obrigatoriedade de ter uma Política de
    mano.” As críticas de Raquel não param por aí. “Às vezes,      Responsabilidade Socioambiental, alguns bancos, volun-
    a empresa gasta R$ 10 mil num programa de responsa-            tariamente, já tinham aderido aos Princípios do Equador
    bilidade socioambiental e desembolsa R$ 100 mil para           – acordo internacional de 2002, que determina critérios mí-
    divulgá-lo. Dá a impressão de que está querendo aparecer       nimos para concessão de crédito, assegurando que os projetos
    como uma empresa politicamente correta. Mas sem com-           financiados sejam desenvolvidos de forma social e ambien-
    prar efetivamente a causa.”                                    talmente responsável. Em 2008, os bancos oficiais também
                                                                   assinaram com o Ministério do Meio Ambiente protocolo de
    POUCO CASO                                                     intenções pela responsabilidade socioambiental, assumindo
                                                                   o compromisso de empreender políticas e práticas bancárias
    Segundo dados da inglesa Deloitte – que atua nas áreas         que promovessem desenvolvimento nessa área, de modo a
    de auditoria, consultoria, assessoria financeira e gestão de   não prejudicar as futuras gerações.
    riscos –, o mercado financeiro brasileiro, formado por 2,3

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