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ARTIGO

com as carreiras que não fecharam acordo. A superação ter equilíbrio, e para isto são necessários processos
do impasse é boa para o Estado, governo e servidores. e regras capazes de promover um diálogo civilizado.

  Os servidores das carreiras que rejeitaram em assem-      O Congresso, portanto, tem um papel fundamental a
bléias a proposta de 15,8% em três parcelas, nos anos de  cumprir. Sem reabertura das negociações, o conflito per-
2013 a 2015, o fizeram menos pela questão financeira e    sistirá até o próximo ano, com desgastes, insatisfações,
mais pela forma como o governo conduziu a negociação.     greves e até atraso em projetos estratégicos do governo,
                                                          considerando a importância das carreiras excluídas do
  Entre os motivos que forçaram um clima recíproco        reajustes salarial. Que prevaleça o bom senso.
de hostilidades, destacam-se três.

  O primeiro, o atraso na definição de uma proposta         *Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista
financeira para as carreiras de Estado. O governo         político e diretor de Documentação do Departamento
demorou a definir um percentual e, enquanto não           Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Texto
dispunha do Orçamento, deixava vazar na imprensa          publicado originalmente na Revista eletrônica “Teoria e
comentários agressivos às carreiras de Estado, cha-       Debate”, edição 104, de setembro de 2012, na coluna
mando esses servidores de “sangue azul”, termo tão        “Café no Congresso”.
pejorativo quanto o “marajá” da era Collor.

  O segundo, a edição de um decreto, que não chegou
a ser colocado em prática, com a transferência de
atribuições de servidores em greve para integrantes
de carreiras assemelhadas de estados e municípios,
numa atitude de enfretamento que seria facilmente
evitada com diálogo ou lançando mão de decisão judi-
cial, que nunca deixou de assegurar o funcionamento
dos serviços essenciais.

  O terceiro, a forma de escolha das entidades com
direito a negociação. No serviço público existe plura-
lidade sindical, ou seja, mais de uma entidade pode
representar os servidores de determinada categoria
ou órgão, e o governo é quem escolhe com quem
negocia. Enquanto isso não for disciplinado, provocará
conflitos de representação.

  É óbvio que o governo e a população não podem
nem devem ficar reféns de servidores em greve, mas
os servidores também não podem ser desrespeita-
dos em sua dignidade pelos governantes. É preciso

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