Page 33 - Sinal Plural 13
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NAS REGIONAIS
Prédio do Banco Central na Gamboa, área
portuária do Rio, fere isonomia legislativa
Matheus Zanon | JORNALISTA rado para atender ao público; e
explicitando que a mudança de
Ainstalação da nova sede do Banco planos acarretaria despesa adi-
Central na área portuária vem geran- cional de 40 milhões ao Bacen
do polêmica. Não é para menos: há – o suficiente para construir 600
pelo menos três argumentos fortís- novas habitações de interesse
simos para contestá-la. O primeiro, social na Zona Portuária. E com
a transferência dos funcionários da sede do Banco o adicional de incentivar o trans-
Central, cujo edifício na Av. Presidente Vargas está porte individual, com a previsão
em área de fácil acesso e acabou de ser reformado. de 600 vagas para carros.
O segundo, a criação de lei específica para aumen-
to de gabarito no terreno do Bacen, que contraria o Quanto à lei de exceção, a parlamentar é clara:
princípio da isonomia legislativa e cria uma exceção não pode. “Se foi feito um plano para toda a área,
legal em área preservada na APAC Sagas. O terceiro, contemplado na Lei 101/2009 – já bastante recen-
a identificação de um sítio arqueológico no terreno, te, por que razão alterá-lo com a Lei complementar
que teria sido, em outros tempos, local de conserto 123/2012 para beneficiar um único proprietário? En-
de vapores, descoberta cercada de mistério e confi- tão se outros proprietários quiserem, também, alte-
dencialidade. rações nos parâmetros urbanísticos, terão a mesma
chance?”, argumenta Sonia Rabello.
Representantes dos servidores públicos do Ban-
co Central são contrários à sua transferência da Av. A Área de Proteção do Ambiente Cultural dos
Presidente Vargas para a Zona Portuária. Preferem bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo foi cria-
permanecer no Centro do Rio. Nesse sentido, a ve- da em 1987 para garantir a preservação da am-
readora Sonia Rabello (PV) enviou ofícios presidente biência histórica – incluídos aí tanto os marcos
da República, Dilma Rousseff, a ao ministro da Fa- arquitetônicos quanto as visadas dos conjuntos
zenda, Guido Mantega, assinalando, entre outros, o históricos - dos bairros da zona portuária. No
entendimento dos servidores públicos do Bacen que âmbito da preservação da história do Rio, seria
o prédio da Av. Presidente Vargas está mais prepa- no mínimo coerente não apenas respeitar esse
ambiente, como também tratar todo e qualquer
vestígio arqueológico com o respeito que merece.
Afinal, essa área foi pioneira na ocupação do Rio
de Janeiro e a história das pessoas que por ali
passaram constitui a fundação da cidade que te-
mos hoje. Não podemos esquecer, muito menos
agora que a “paisagem cultural” do Rio tornou-se
Patrimônio da Humanidade.
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