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BC EM DEBATE / 50 ANOS

radicais pela esquerda assumiram a ideia de o BB   selho (CMN — Conselho Monetário Nacional)

ganhar o “status” de BC e se tornar o centro de    com objetivos entre o vago e o contraditório, e

um mecanismo de “crédito social”, mais ou menos    com uma composição nada indicativa do interes-

como concebido no projeto Correa e Castro. Sur-    se na saúde da moeda. O BC nasceu subalterno

preendentemente, no entanto, em meio à agitação    ao CMN, com obrigações de fomento rural, uma

em torno das reformas de base, o presidente João   “conta movimento” que o subordinava ao BB, e

Goulart discrepou e enviou ao Congresso em 1963    antes de completar 3 anos de vida, foi humilhado

um projeto moderado refletindo a evolução parla-   pelo general presidente Costa e Silva (e seu minis-

mentar do projeto Correa e Castro até o momento.   tro da Fazenda Delfim Neto) que “renunciaram”

Um substitutivo, bastante piorado, do deputado     os dirigentes com mandato. A independência da
Golpe. A vida parla-
mentar não foi inter-José Maria Alkmin, estava pronto para o plenário,instituição fora revogada sem piedade pelos gol-
rompida, a despeito do
novo clima e de algu-onde provavelmenteencon-      pistas e, pior, o sistema foi reorganizado de forma

“mas cassações. Os pro-traria muita dificul-       a que o BC se tornasse a casa de máquinas de

dade, quando veio otagonistas dos impasses                        uma extensa e ambiciosa
continuavam do mesmo
tamanho, e em plenário   Reforçar o desenho institucional do      agenda de desenvolvi-
                         BC, a começar pelo mandato a seus         mento centralizada no
                         dirigentes, entre outras ideias, con-      CMN. Curiosamente,
                         tinua importante além de oportuno
                         para uma presidente com déficit de          era muito semelhante
                         credibilidade.                               aos projetos de re-
                                                                        forma bancária pela
                                                (Gustavo Franco)
”deputado Ulysses Guimarães, ninguém menos, foi                          esquerda, porém
                                                                          com prioridades

prevaleceu uma emenda                                             diversas e com

substitutiva do deputado Pedro Alei-                              as atividades dos

xo que remeteu o texto de Alkmin de volta para a   vários bancos públicos e privados amarrada a um

comissão de onde viera. Um novo substitutivo do    “orçamento monetário” que usurpava prerrogativas

                                                   do Congresso.

produzido, e depois de muitas emendas, acordos

e concessões nas duas casas, foi sancionado com    Com a democracia, entretanto, em vez de um re-

vetos em 31 de dezembro de 1964 (Lei 4.595).       torno ao desenho de BC independente que a Re-

                                                   volução destruiu, consolidou-se uma tendência

A longa batalha não havia produzido um BC ali-     ainda mais perversa de transformar o CMN numa

nhado com as melhores práticas internacionais,     espécie de câmara setorial da moeda, com ampla

ao contrário. A autoridade monetária era um con-   “representação da sociedade”, inclusive dos traba-

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