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BC EM DEBATE / 50 ANOS

    lhadores, e todos os conflitos de interesse possíveis.  Toda a força do BC, tal como funciona hoje, deriva
    A Nova República começa com a inflação na casa          de uma ideia cuja hora chegou, a da estabilidade da
    de 200% anuais e em dezembro de 1989, durante o         moeda como bem público a ser provido e cuidado
    segundo turno das primeiras eleições presidenciais      pelo BC. Não é pouca coisa, e nenhum dos últimos
    em quase três décadas, o país ultrapassa a barreira     presidentes da República teve a coragem nem de
    técnica da hiperinflação, 50% mensais.                  desafiar esse consenso, tampouco de colocá-lo em
                                                            lei. Reforçar o desenho institucional do BC, a co-
    O Plano Real encontrou o CMN com 21 mem-                meçar pelo mandato a seus dirigentes, entre outras
    bros e o BC desmoralizado depois de cinco cho-          ideias, continua importante além de oportuno para
    ques heterodoxos fracassados. Ao reduzir o CMN          uma presidente com déficit de credibilidade.
    a três membros foi possível recapturar a governança
    da moeda, mas o país tinha 45 bancos estaduais e                                      Foto: Rio Bravo Investimentos
    cinco federais todos funcionando como se fossem
    BCs, e todos (ou quase) quebrados. Não era possível       Gustavo Franco - Ex-presidente do Banco Cen-
    afirmar que o Banco Central do Brasil estava cons-       tral (1997-1999), escreve aos domingos em O
    tituído por inteiro antes de ordenar esta bagunça,       Globo e O Estado de S.Paulo. Especialista em
    cujas origens remontavam ao “sistema” do projeto         William Shakespeare, organizou a obra A Eco-
    Correa e Castro. O saneamento durou alguns anos          nomia em Machado de Assis - O Olhar Oblíquo do
    e por volta de 1997 estava basicamente terminado,        Acionista (Jorge Zahar, 272 páginas).
    ou seja, o BC assumiu para valer o controle da mo-
    eda no Brasil quase no fim do século XX.                Artigo publicado originalmente em O Globo (29/03/2015).
                                                            Ilustrações: Moeda e selo comemorativos aos 50 anos do Banco
    Aos 50 anos, curiosamente, a organização institu-       Central do Brasi e tela A Pátria, de Pedro Bruno (1918).
    cional do sistema monetário estabelecida pela Lei
    4.595/65 ainda precisa amadurecer. O poder do
    presidente da República sobre o BC e o CMN é
    total e irrestrito, mais até que no tempo dos gene-
    rais. O presidente é dono da política monetária, o
    sistema de metas é definido em um decreto e o Co-
    mitê de Política Monetária (Copom) não passa de
    uma sessão temática da reunião da diretoria do BC.
    Ainda temos um sistema geiseliano, onde um sim-
    ples decreto viraria o sistema de pernas para o ar.

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