Page 27 - Por Sinal 48
P. 27
período prolongado de crescimento CRÍTICAS ANTIGAS A inflação é
mais baixo. O aviso, de acordo com o jor- preocupante, mas
nal The Financial Times, fez despertar O quadro hoje só é inédito para um go- mais preocupante é
os temores de que a economia mundial verno petista. Para os críticos da presi- que as pessoas pagam
esteja enfrentando um ciclo duradouro dente Dilma Rousseff, é consequência muito mais caro pelos
de desenvolvimento medíocre. Alguns dos erros da política econômica, como produtos por causa do
economistas chamam o fenômeno de o estímulo ao crédito das famílias, a fal- crediário do que pela
“estagnação secular”. Segundo o relató- ta de investimentos em produtividade inflação. O que temos é
rio, a crise financeira mundial pode ter e da não realização de reformas estru- uma financeirização da
reduzido permanentemente o potencial turais e institucionais. As intervenções economia, problema
de expansão das economias, em lugar de no mercado de energia, o engessamento que também atingiu
ter exercido apenas efeito passageiro. de preços públicos e administrados e a Grécia e Espanha,
O FMI afirma que a desaceleração no queda de braço com o sistema financeiro dois países que agora
crescimento do potencial de produção para baixar a taxa de juros são apontados tentam sair da política
– nível de produção compatível com como medidas populistas que só fizeram de austeridade porque
inflação estável – tem raízes muito agravar a situação. A crise mundial deu o ela não funciona.
anteriores à crise de 2008 e incluem o empurrão que faltava para o país hoje ter
envelhecimento da população e a de- que se equilibrar à beira do precipício. O LADISLAU DOWBOR
saceleração no ritmo de expansão da preço das matérias-primas caiu no merca-
produtividade dos países emergentes. do internacional. Só a cotação do minério PROFESSOR DA PUC-SP
O relatório do Fundo previu que o cres- de ferro perdeu 40% do valor nos últimos
cimento do potencial de produção dos 12 meses. Resultado: as contas externas recessivo e a falta de demanda interna
países ricos será de 1,6% ao ano, entre entre 2008 e 2014 acumularam um déficit e externa impediu a retomada do inves-
2015 e 2020. É pouco. em transações correntes da ordem de US$ timento. A partir daí, o governo buscou
390 bilhões. corrigir a sua estratégia estimulando o
O cenário pessimista da estagflação investimento pela via das desonerações
não é nenhuma novidade na história O primeiro governo Dilma Rousseff tributárias, mas também deu errado e só
brasileira. Na década de 1980, o país ex- começou, em 2011, com redução da taxa ajudou a elevar ainda mais o déficit fiscal.
perimentou anos de hiperinflação e taxas de juros, desvalorização da taxa de câmbio
de desemprego nas alturas combinadas e ajuste fiscal. Essas políticas, de acordo “A crise internacional tem uma
com crescimento negativo. Só a inflação, com economistas e industriais ouvidos parcela importante, principalmente no
no governo José Sarney, batia na casa na época, seriam benéficas à competiti- que diz respeito à deterioração de nossas
dos 900% ao ano. No governo Fernando vidade da indústria e à balança comercial contas externas, mas os erros de política
Collor/Itamar Franco a inflação passou e estimulariam o investimento privado. econômica e o foco no consumo e não no
a marca dos 1.000% ao ano. Depois da O ajuste fiscal seria necessário para con- investimento contribuíram, e muito, para
crise cambial no segundo mandato de trolar a inflação. Nada deu muito certo.
Fernando Henrique Cardoso, entre 1999 O câmbio desvalorizado acelerou a taxa
e 2002, a inflação média medida pelo de inflação ao exercer pressão sobre os
Índice Nacional de Preços ao Consumidor custos das empresas, o que provocou de-
(IPCA), do Instituto Brasileiro de saceleração do ritmo de crescimento dos
Geografia e Estatística (IBGE), passou salários reais e do consumo. O saldo da
dos 8%, que agora são estimados para balança comercial não melhorou, apesar
2015, mas a taxa de desemprego esteve da crise cambial, porque a crise europeia
acima dos 10%. e mundial se agravou em 2012. O ajus-
te fiscal de 2011 também teve impacto
MAIO/JUNHO 2015 25