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31 de março, o ministro da Fazenda, UMA COMBINAÇÃO
Joaquim Levy, defendeu o ajuste com EXPLOSIVA
um discurso já ensaiado no governo
de que ele é necessário para garantir a Estagflação é a definição econômica para uma situação típica de recessão.
retomada do crescimento da economia, Combina a diminuição das atividades econômicas e o aumento dos índices
da geração de empregos e da renda dos de desemprego, além da inflação, à falta de instrumentos institucionais
trabalhadores. “O ajuste é vital para o que regulem a economia e a livrem da estagnação ou da armadilha da
Brasil não ser rebaixado pelas agências liquidez. Trata-se de um fenômeno tão raro que a palavra não existia até
de rating. Sem o ajuste fiscal, os juros os anos 70. Cenário, então, era de um superaquecimento das economias
não vão descer”, afirmou. Dias depois dos países desenvolvidos, a partir da excessiva expansão de procura
ele deixou claro que “o momento de agregada, que levou a pressões inflacionárias e à redução da oferta, a
maior expansão do Banco Nacional de partir das restrições impostas pelos países produtores de petróleo. Havia
Desenvolvimento Econômico e Social ainda perdas de safras agrícolas e redução das atividades em setores que
(BNDES) com recursos do Tesouro havia dependiam do petróleo como matéria-prima. O resultado foi desemprego
se esgotado”. Apesar disso, Levy anun- e depreciação das moedas fortes pelos causa dos desinvestimentos. Nas
ciou, na capital paulista, uma agenda estagflações típicas, o desemprego cresce devido à freada do consumo e
de estímulos para o financiamento de dos investimentos.
obras de infraestrutura por meio do
mercado de capitais. Uma regra simples usada no passado para identificar a estagflação
era a elevação do “Índice da Infelicidade”, que soma as taxas de inflação e
Na segunda semana de abril, Levy de desemprego. Com inflação na casa dos 8% e desemprego na dos 6%, o
tinha presença confirmada na reunião índice brasileiro hoje está perto dos 14. Há seis anos, quando a economia
de primavera do Fundo Monetário vivia um bom momento, o índice chegava aos 13, com desemprego de 8%
Internacional, em Nova Iorque, onde e inflação de 5%. No primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso
pretendia defender a ideia do ajuste a inflação anual média foi de 9,3% e o desemprego chegou a 9,8%, o que
fiscal e vender a imagem do Brasil aos equivalia a uma taxa de infelicidade de 18,4.
investidores. Ninguém põe em xeque
que resolver a equação econômica é im- No segundo governo FHC, ela ficou em 20,3, com a taxa de desemprego
portante para a retomada do crescimen- em 11,7% e a inflação média anual de 8,6%. No primeiro governo Luiz Inácio
to. Os dilemas são dois: se só isso será Lula da Silva, com a taxa média anual de desemprego de 10,8% e a inflação
suficiente e se será possível avançar na de 6,4%, baixou para 17,2. De 2007 a 2010 ficou em 13, com desemprego
agenda das correções de rumo da econo- a 7,9% e inflação de 5,1%. No primeiro mandato de Dilma Rousseff, o de-
mia com uma crise política que desafia semprego médio anual foi 5,4% e a inflação ficou em 7%, o que deixou o
as decisões governamentais. índice de infelicidade em 12,4.
“O Brasil precisa de um pacto que infraestrutura, poderia levar à redução do vez em quando racionaliza as atividades
faça com que o câmbio flutue em torno déficit fiscal sem prejuízo ao crescimento públicas. Do ponto de vista da gestão é
do equilíbrio competitivo e acabe com a econômico e ao emprego”, propõe a eco- importante, mas não é o excesso de gasto
desindustrialização do país”, defende o nomista Laura Carvalho, da Universidade público que trava o Brasil. É preciso dina-
ex-ministro Bresser Pereira. “Os impactos de São Paulo. “Se se resolvesse o dilema mizar a economia pela demanda em uma
sociais do ajuste podem ser reduzidos da financeirização da economia, que situação internacional desequilibrada.
caso se opte por um aumento da progres- aprofunda a desigualdade e trava o de- Nosso trunfo é ainda ter 60 milhões de
sividade na tributação, em vez de se base- senvolvimento, seria possível retomar pessoas com necessidades de consumo
ar o ajuste apenas no corte de benefícios o crescimento sem o ajuste fiscal. Um básicas”, propõe Ladislau Dowbor, da PUC
trabalhistas e de investimentos públicos. pouco de aperto nos gastos públicos de de São Paulo.
Uma boa reforma tributária progressiva
combinada ao aumento na eficiência dos
gastos públicos e à preservação dos inves-
timentos públicos, principalmente em
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