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atos de fiscalização e imposição de san-   brasileiras e empregam 50% dos tra-           O Brasil é um país
ções administrativas. “O projeto confere   balhadores e teriam dificuldades para         continental e,
aos superintendentes regionais do traba-   absorver ou repassar a elevação dos           portanto, é necessário
lho a responsabilidade pela padroniza-     custos do trabalho”, diz o documento          pensar uma política
ção das orientações técnicas destinadas    Agenda Legislativa do CNI 2015.               de gestão de pessoal
às diligências que possam resultar em                                                    e salarial que resgate
embargos de obras, interdições de es-           A legislação trabalhista e previden-     a força de trabalho
tabelecimentos, setor de serviços, má-     ciária também promete uma queda de            dos servidores
quinas ou equipamentos, observando         braço entre os servidores públicos e o go-    públicos qualificados
critérios claros e objetivos existentes    verno. Pelo menos três projetos devem         e capacitados para
em normas técnicas nacionais. Caberá       testar as relações já desgastadas entre       atender bem a
ainda aos superintendentes regionais       a presidente Dilma Rousseff e parte do        população brasileira.
do trabalho criar e manter comissões       seu eleitorado. Dois deles são os Projetos
de padronização de orientações técni-      de Lei 01/2007, de autoria do Executivo,      ALESSANDRA CADAMURO
cas destinadas a unificar os critérios da  e 549/2009, do senador Romero Jucá
fiscalização do trabalho por segmento      (PMDB-RO. As duas regras postas em            ECONOMISTA DO DIEESE
empresarial”, diz o documento Agenda       prática limitariam as despesas da União
Legislativa do CNI 2015.                   com pessoal. O outro é a Proposta de
                                           Emenda Constitucional 271/13, do de-
TRABALHADORES X                            putado Augusto Carvalho (SD-DF), que
EMPRESÁRIOS                                propõe a isonomia de benefícios como
                                           auxílio-alimentação e creche, entre ou-
Já o Projeto de Emenda Constitucional      tros. A matéria, considerada fundamental
231/1995, do deputado Inácio Arruda        para a maioria dos servidores federais,
(PCdoB-CE), que altera os incisos XIII e   porque equipara o valor de verbas inde-
XVI do art. 7º da Constituição Federal,    nizatórias destinadas à alimentação dos
pode pôr de novo, frente a frente, em-     funcionários públicos e à educação de
presários e trabalhadores. A PEC pro-      seus filhos, teria impacto nos cofres públi-
põe a redução da jornada de trabalho       cos no momento em que o governo luta
semanal de 44 para 40 horas e aumenta      para segurar as despesas. “É evidente que
a remuneração da hora extra de 50%         as demandas dos servidores públicos não
para 75% do valor da hora normal. A        estão apenas limitadas à recomposição
medida contraria os interesses corpora-    da inflação ocorrida ou ainda o resgate
tivos porque, alegadamente, elevaria os    das perdas salariais registradas historica-
custos diretos da folha de pagamento       mente. Almeja-se, ao contrário, que ocorra
em, no mínimo, 10%, além de ampli-         no âmbito do governo e da sociedade uma
ficá-los em cada etapa da cadeia pro-      intensificação quanto ao debate do novo
dutiva. “Ante essa elevação dos custos,    papel do Estado na economia, bem como
é mais provável que as empresas bus-       qual o papel dos servidores públicos nesse
quem alternativas, como a automação        processo. O Brasil é um país continental
ou a redução da produção, a intensifica-   e, portanto, é necessário pensar uma po-
ção do trabalho no quadro de emprega-      lítica de gestão de pessoal e salarial que
dos existentes e, até mesmo, mudanças      resgate a força de trabalho dos servidores
para outros países. O impacto da PEC       públicos qualificados e capacitados para
231/1995 é especialmente preocupante       atender bem a população brasileira”, de-
sobre micro e pequenas empresas, que       fende a economista Alessandra de Moura
representam mais de 97% das empresas       Cadamuro, do Dieese.

                                                                                         ABRIL/MAIO 2015  31
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