Page 22 - Por Sinal 48
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ENTREVISTA
“laranja” do Jader Barbalho, que morre em um acidente aéreo
suspeito. Eu era auditor da área de fiscalização e, como tal,
me apresentei ao chefe de Departamento de Belém, que por
sua vez me apresentou o pessoal do BC encarregado da inter-
venção no Banpará, em Belém. Um deles já havia detectado
“algo de podre no reino da Dinamarca”. As contas não eram
conciliadas e apresentavam saldos suspeitos. No decorrer
das investigações, fui fazer uma visita de praxe ao chefe
de Departamento do BC em exercício e ele disse: “O Jader
Barbalho foi meu padrinho de casamento.”
O que levou o Banco Central a fazer a Acho que tem de descentralizar
intervenção do Banpará? um pouquinho, para o poder
Houve um rombo e o banco recorreu ao redesconto. não ficar só em Brasília. Ficar
Redesconto é quando o banco já não tem mais como cobrir também nas regionais, mais
suas reservas porque os saques são maiores do que os de- próximas do trabalho in loco. É
pósitos. O banco não tinha como pagar os correntistas. O preciso aprimorar isso. Reposição
Banco Central botou dinheiro lá, mas depois percebeu que o do quadro funcional com
rombo era bem maior. Aí, resolveu cuidar do seu dinheiro e melhores salários, remunerar
ver o que é que estava acontecendo. Na época, um diretor do bem. E aí melhorar o trabalho
Banpará, Hamilton Francisco de Assis, era funcionário do BC de investigação e de fiscalização
e amigo do Jader Barbalho. Ele foi submetido a um processo in loco, dentro das instituições
administrativo do Banco Central e acabou sendo demitido financeiras, para elaborar
por desvios praticados no Banpará, no exercício das funções nossas bases de dados, nossas
de diretor administrativo e financeiro. Quando fiz a entrega informações. E não se basear em
do relatório preliminar da investigação do Banpará, foi um dados produzidos pelas próprias
jogo de empurra. Por determinação do chefe de Departamento instituições financeiras.
em Curitiba, o relatório foi entregue ao chefe de gabinete da
Presidência do BC. Quem era o presidente do Banco? Ibrahim
Eris. Mais tarde, constatou-se que desapareceu o processo. Tive
de fazer tudo de novo. Eram 15 volumes!
Que resultado teve o relatório?
Tentei protocolar o relatório na presidência do Banco Central,
mas não deixaram. Me deixaram sentado, plantado até mesmo
após o expediente encerrado. Acabei entregando um relatório
solto. Sessenta dias depois, entreguei o relatório complementar
e, por precaução, protocolei em Curitiba. Parte dele desapareceu.
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