Page 21 - Por Sinal 48
P. 21
ENTREVISTA
Mas ele foi pego agora. Em que ponto deu errado, Central exposto, como eu já fiquei. Eu corri risco de vida. Ameaças.
então, esse esquema de acobertamento? Na época, o senador Romeu Tuma encaminhou ao ministro da
O Youssef foi denunciado já em 2003. Ele foi um dos doleiros de- Justiça, José Gregori, o pedido da minha inclusão no Programa
nunciados na CPI do Banestado, que apurou o desvio, entre 1996 e de Proteção a Testemunha. Hoje, o Banco Central oficializa uma
2002, de cerca de R$ 30 bilhões para contas CC5 em paraísos fiscais denúncia ao Ministério Público Federal, que por sua vez leva ao
pelo Banco do Estado do Paraná. O relatório da CPMI-Banestado conhecimento da Polícia Federal para instauração de Inquérito
pedia o indiciamento de Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Policial. Esta faz sua parte, com mandados de busca e apreensão.
Central, Celso Pitta, ex-prefeito de São Paulo, e mais de 80 envol-
vidos, mas a CPI acabou desacreditada por causa da politização e Eu me utilizei desses expedientes na época das CPMIs dos
de toda documentação lacrada nos arquivos do Senado. Precatórios e do Mensalão. A Polícia Federal queria entrar no Banco
Rural. Eu tive uma conversa com o presidente da CPM dos Correios,
O doleiro apareceu também na CPI da Copel, que investigou Delcídio Amaral, e fomos à reunião agendada com o presidente
fraude de R$ 39,6 milhões com a compra de créditos tributários do BC, Henrique Meirelles. Na conversa, defendi que a fiscalização
frios da Olvepar, uma empresa falida, pela Companhia Estadual das instituições financeiras era competência do BC e que o fruto
de Energia do Paraná, no governo Jaime Lerner, em 2002. Youssef da investigação é que deveria ser entregue para a Polícia Federal
foi na boca do caixa sacar. O Banco do Brasil não oficiou ao COAF que, então, abriria um inquérito em cima das provas.
sobre a retirada do dinheiro, mas ainda assim ele foi denunciado
ao Ministério Público Federal e na época acabou preso. E não é isso que o BC está fazendo? Ele investiga e
encaminha as informações à Polícia Federal. A Polícia
E o caso do Mensalão? De novo, a mesma coisa. E hoje ele Federal abre um inquérito e envia à Procuradoria-
está de volta, está preso. À medida que se descobre um esquema, Geral da República, que pede a quebra do sigilo?
começa outro. “Ah, pegaram o Valerioduto”, diziam. O Valerioduto Hoje existe um trabalho de inteligência. Antes, não, não existia
não começou com o PT. Começou com o PSDB. E o PMDB em São esse trabalho mais investigativo, você ia pelo teu faro. Fui crian-
Paulo? Ninguém se lembra, mas fizemos um relatório do Caso do amizades, abri canais.
Telesp (a privatização da Companhia Telefônica de São Paulo para
a Telefónica da Espanha, por R$ 5,783 bilhões) e do Fundacentro Depois que colhe as informações, o inspetor as
(autarquia do Ministério do Trabalho) onde teria havido desvio de passa para quem no BC?
R$ 32 milhões, em 1998, durante o governo de Mário Covas, para Hoje está melhor, nas Regionais tem o cargo de gerente de fis-
a agência de Marcos Valério. Nesses esquemas de corrupção, as calização. Antigamente tinha o coordenador. Eu passava para
coisas vão se aprimorando. As empreiteiras já estão avisadas, não o coordenador, que não tinha nível superior para avaliar, não
vão fazer mais como faziam até agora. Vão achar outro caminho. tinha análise crítica do meu trabalho. Dele, ia para um supervi-
sor. Do supervisor, para o chefe de divisão. Daí para o chefe de
Então não há solução? Departamento Regional.
Na nossa geração, não vejo luz no final do túnel, quem sabe
num futuro distante. Já havia essa dificuldade na investigação do
Caso Banpará?
O que mudou, nos últimos anos, no trabalho de Nisso até melhorou. A missão era para ser realizada, no
combate à corrupção e aos ilícitos financeiros? mínimo, por dois auditores, mas fui mandado sozinho para
Mudou pra melhor, mas o trabalho devia ser mais harmonioso. Se o território do inimigo. Eu em Belém, rastreando as con-
o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Banco Central tas bancárias de Jair Bernardino, conhecido no Pará como
entrassem em harmonia, não deixariam um inspetor do Banco
MAIO/JUNHO 2015 19