Page 19 - Por Sinal 48

Quando fiz a entrega do relatório
preliminar da investigação do
Banpará, foi um jogo de empurra.
Por determinação do chefe de
Departamento em Curitiba, o
relatório foi entregue ao chefe
de gabinete da Presidência do
BC. Quem era o presidente do
Banco? Ibrahim Eris. Mais tarde,
constatou-se que desapareceu o
processo. Tive de fazer tudo de
novo. Eram 15 volumes!
O COAF, que seria o órgão de articulação, ainda não tem
uma estrutura adequada para atender ao sistema financeiro.
A movimentação de dinheiro é muito intensa e são poucos
analistas. No caso do Banco Central, a instituição trabalha
muito com o foco de evitar que os bancos quebrem e que o
sistema financeiro sofra um baque. Mas os bancos dificilmente
vão quebrar como quebraram os antigos. Hoje, temos o Fundo
Garantidor de Crédito que dá suporte ao valor máximo de R$
250 mil a cada correntista dos bancos. Quando uma instituição
financeira começa a dar sinais de problemas, o Banco Central
sabe e procura sanar a instituição ou vendê-la. Nesse aspecto,
o BC vem trabalhando melhor. Talvez o que ele não esteja
trabalhando seja o outro degrau, o outro passo: a ligação do
banco com a sociedade.
O escândalo do Banco Panamericano provocou um rombo
de R$ 4,3 bilhões. Era um banco de pequeno porte que atuava na
carteira de financiamento de veículos. Como não tinha carteira
de câmbio, não podia fazer remessas para o exterior. Também não
tinha agências. Eram lojas de atendimento e de financiamentos,
de caminhões, carros, motos, etc. Não era um banco múltiplo, era 260 milhões movimentados pelo empresário Marcos Valério
só financiamento. Como é que deu um rombo de R$ 4,3 bilhões?
„„ O Banco Central alega que, em 2005, o Tribunal
de Contas da União (TCU) deu uma nota muito
baixa para a instituição em relação ao trabalho de
combate aos ilícitos. Hoje, a nota é positiva. Não é um
reconhecimento de que o trabalho melhorou?
De fato, o trabalho do Banco Central melhorou. Está mais rea-
parelhado. Hoje os trabalhos são feitos de forma mais rápida e
melhor. Até pelas ferramentas. De praxe, em inspeções diretas,
participam no mínimo dois fiscalizadores acompanhados por
um supervisor. Antigamente, o BC era mais político. Hoje, tem
pessoas de carreira na direção. É praticamente impossível tirar
um documento do processo. Passou, digitalizou, está digitaliza-
do. Naquela época, até o protocolo era físico.
„„ Segundo dados do Banco Central, nos últimos cinco
anos, houve uma média de 1.400 ações de fiscalização.
Ações indiretas, talvez. Mas eles não vão ao local. Muitas ve-
zes os relatórios produzidos num banco não correspondem
à realidade. Cito como exemplo novamente o Panamericano.
As bases de dados e relatórios encaminhados ao BC não eram
fidedignos. Isto porque não é o Banco Central que colhe,
que busca, são as instituições financeiras que fornecem as
informações. E aí, fornecem o que lhes interessa. O que não
interessa, guardam. No Panamericano, a fraude teve início em
2006 e só foi descoberta pela fiscalização do BC em 2010. O
banco maquiava os seus balanços por meio de registro com
venda de carteiras de crédito a outras instituições financeiras.
Se o banco tem cliente potencial, que dá um retorno x, não
consegue simplesmente desprezá-lo, porque ele vai para o
banco concorrente e lá pode fazer a mesma coisa. Por que é
que eu vou denunciar? Constatamos isso no Caso Valerioduto
(em 2005, a CPI dos Correios, que acabaria desaguando no
processo do Mensalão, identificou o desvio de pelo menos R$
Fernandes de Souza, por meio da SMP B Publicidade e DNA
Propaganda, envolvendo a Visanet, três operadoras de telefo-
nia controladas pelo grupo Opportunity, de Daniel Dantas,
alguns bancos, como o BB, o Rural e BMG, e empresas, como a
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