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DEBATE / PREVIDÊNCIA   FERNANDO ANTONIO PIMENTEL DE MELO*

                      A urgente
                      reforma dos
                      fundos de pensão

                          A reforma da Previdência é uma exigência da sociedade brasileira.    de garantir melhor padrão de aposentadoria a um maior número de
                      Há divergências ainda a serem vencidas, por isso mesmo o governo         trabalhadores e assegurar a imprescindível ampliação da poupança
                      convidou a todos para um amplo debate, mas ninguém tem dúvida de         interna. Os 2,5 milhões de brasileiros atualmente participantes de pla-
                      que a estrutura previdenciária do País precisa mudar, para ganhar        nos complementares ainda estão longe do potencial de cobertura do
                      estabilidade e assim viabilizar-se no longo prazo. Tampouco se deixa de  sistema de fundos de pensão. Da mesma forma, os 15% do PIB
                      perceber uma outra urgência, a do crescimento do sistema de fundos       poupados internamente são muito pouco e de forma alguma aten-
                      de pensão, sem o qual os brasileiros continuarão perigosamente de-       dem às necessidades de financiamento de uma economia que precisa
                      pendentes de uma Previdência Social que tende a pagar aposentado-        voltar a crescer e gerar empregos e riquezas.
                      rias em valores cada vez mais modestos, e o Brasil, por sua vez, sem a
                      tão necessária poupança interna e dependente demais dos instáveis            Nada será fácil, mas a postura do governo em favor da reforma da
                      fluxos de capitais globais.                                              Previdência e do fomento da Previdência Complementar é um passo
                                                                                               muito importante. As autoridades podem fazer bastante em favor da
                          As dificuldades na Previdência Social precisam ser enfrentadas, ao   criação de ambientes institucionais favoráveis à expansão do número
                      mesmo tempo em que mostram o quanto é indispensável para o País          de fundos de pensão, ajudando a fazer crer a trabalhadores e empre-
                      contar com uma Previdência Complementar mais ampla do que dis-           sários que esse é um sistema estável no longo prazo, defendido de
                      põe atualmente. Cresceu, em janeiro, o déficit do regime geral (INSS),   sobressaltos em que os contratos existem para serem cumpridos.
                      que atingiu R$ 1,739 bilhão, 69% a mais do que o registrado em
                      janeiro do ano passado. O declínio dos salários reais e o nível de           E essas são exatamente as palavras tranqüilizadoras que o minis-
                      desemprego prejudicaram as contas. É que a arrecadação no mês            tro e seu secretário da Previdência Complementar, Adacir Reis, têm
                      atingiu apenas R$ 5,461 bilhões, cifra inferior à de dezembro de 2002,   freqüentemente usado. A nova legislação, que vai entrando em vi-
                      de R$ 10,073 bilhões – o que é normal, em vista do recolhimento          gor, já começava a desenhar cenários favoráveis, ao modernizar as
                      sobre o 13.º salário –, mas também caiu 10,29%, em termos reais, em      leis, autorizar sindicatos e associações a instituir planos complemen-
                      relação ao valor líquido arrecadado em novembro, de R$ 5,831 bi-         tares, permitir a existência de fundos previdenciários para servidores
                      lhões. As despesas do INSS no mês passado atingiram R$ 7,201 bi-         e oferecer novas opções aos participantes, mas todos os novos
                      lhões, superando as receitas em 31,86%, percentual muito superior ao     dispositivos legais, sabe-se bem, pouco poderiam fazer sem uma
                      registrado em janeiro de 2002, de 20,01%.                                regulamentação adequada das leis e um governo consciente do que
                                                                                               é preciso fazer. E o ministro e seu secretário já deram suficientes
                          Os números iniciais do ano apontam, portanto, na direção do          provas dessa consciência.
                      agravamento do déficit do INSS, projetado em R$ 23,8 bilhões, em
                      2003, com crescimento de 40% em relação aos R$ 17 bilhões, de                Todos trabalham hoje com o mesmo objetivo. A idéia é buscar
                      2002, e de 86% em comparação com os R$ 12,8 bilhões, verificados         a simplificação, flexibilização e enxugamento da legislação e nor-
                      em 2001. O ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, tem portanto       mas, para que dessa forma se chegue a menos burocracia e cus-
                      razão ao mostrar à sociedade que esse quadro não pode perdurar.          tos, e o sistema de fundos de pensão possa se mostrar mais atrati-
                                                                                               vo aos olhos de trabalhadores, empresários e sindicatos. O resulta-
                          Igual razão tem o ministro ao afirmar sua crença no indispensável    do será inexoravelmente o ingresso em um novo ciclo de mais
                      crescimento da Previdência Complementar, vista em seu duplo papel        rápido crescimento.

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