Page 8 - Sinal Plural 13
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* Textos do diretor de QVT do Sinal, José Vieira Leite, e do servidor aposentado do BC e ex-chefe do Depes, Mardonio
Walter Sarmento P. Silva, em contribuição à discussão do tema Valorização das Regionais
Não é bem assim,
presidente Tombini...
Queremos um modelo de BCB que,
a exemplo de diversos outros destacados
bancos centrais mundo afora, apresente
extensa e intensa presença em todo o
território nacional, respeitando e incorporando,
em sua ação, a imensa diversidade de
vocações econômico-financeiras, identidades culturais
e realidades sociais do Brasil.
A entrevista do presidente do Banco Central do Brasil Ao invés disso, melhor convém aproveitarmos o espaço
(BCB), Alexandre Tombini, publicada na edição número 36 para trazer uma dimensão que julgamos mais substanti-
da revista Por Sinal, aborda en passant o tema do esva- va sobre o assunto, que pode ser resumida na seguinte
ziamento das representações regionais do BCB, estabe- pergunta: que tipo de presença o Banco Central do Brasil
lecendo, portanto, de algum modo, relação com os três quer ter no território nacional? Ressaltamos o verbo “que-
eixos de trabalho propostos pelo GT Revitalização das Re- rer”, aqui utilizado como expressão de uma vontade polí-
gionais do Grupo QVT Sinal-RJ, a saber: (1) EVIDÊNCIAS tica a ser estabelecida a partir de um debate aberto, que
DO PROCESSO DE DESMONTE DAS REGIONAIS, (2) contemple a participação ativa do maior conjunto possível
MAPEAMENTO DO MODELO ATUAL DE REGIONALI- (em quantidade e qualidade) de sujeitos sociais, pautado
ZAÇÃO, e (3) IDENTIFICAÇÃO DE POSSIBILIDADES DE pela busca de caminhos que melhor atendam aos anseios
REVITALIZAÇÃO DAS REGIONAIS. da sociedade brasileira naquilo que se refere aos serviços
prestados pela instituição.
Assim sendo, agradecemos ao Presidente Tombini a
oportunidade de, a partir de algumas de suas afirmações, A pergunta proposta comporta uma série de outras, so-
podermos assumir a responsabilidade de prestar alguns bre as quais a instituição precisa refletir com urgência. É
esclarecimentos à maior autoridade de nossa instituição. a partir desta reflexão que o futuro das representações
regionais, e da instituição como um todo, deverá ser tra-
1 - Não é bem assim, Presidente Tombini... çado. Não podemos deixar que a questão seja reduzida à
dimensão meramente administrativa (ainda que esta seja
Não é, a nosso ver, correta, a afirmação “... não estamos também importante no sentido de se obter os melhores
adotando qualquer política de centralização de atividades resultados possíveis com os recursos disponíveis).
em Brasília”, diante das inúmeras decisões neste sentido
adotadas pela Administração Central do BCB nos últimos Portanto, quanto à questão da “centralização das ativi-
anos. Se não se trata de uma política deliberada, é impres- dades”, ressaltamos a necessidade de se reposicionar o
cindível a criação de um espaço voltado para o debate, tema, situando-o em uma perspectiva que lance luz sobre
com transparência, do tema, pois um assunto dessa rele- a dimensão política que lhe é inerente: a forma da presen-
vância não deve ser deixado à mercê das marés. ça do Banco Central do Brasil no território nacional.
Exemplos de “centralização de atividades” não faltam, 2 - Não é bem assim, Presidente Tombini...
mas não convém aqui elencá-los, pois correríamos o ris- Se é verdade que “... não há qualquer diretriz ou de-
co de reduzir a discussão aos critérios administrativos (ou
a falta deles) que conduziram a tais decisões. Ademais, terminação para que as regionais sejam esvaziadas”, é
correríamos o risco ainda maior de sermos tão somente indispensável que os responsáveis pela Administração
ociosos, uma vez que qualquer consulta, formal ou infor- Central do BCB definam diretrizes ou determinações
mal, que se faça hoje aos servidores do Banco irá indicar quanto ao assunto, pois a instituição está tomando um
a quase absoluta percepção dos servidores do Banco a rumo à sua revelia.
respeito da existência, sim, de processo, em curso ace-
lerado, de centralização de atividades (de servidores, de O que se vê, na prática, é a aplicação de uma política de
funções comissionadas, de exercício concreto de poder, deixar as regionais morrer à mingua, como quando não se
enfim) em Brasília. tem mais nenhuma esperança em relação à possibilidade
de cura e se abandona o doente à sua própria sorte.
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