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detêm três quartos dos ativos e quase “A renegociação feita através
80% dos depósitos. A participação da Selic torna o governo o
deles no mercado cresceu mais de maior cliente dos bancos,
15% em dez anos. As perspectivas de deixando as pessoas físicas
que enfrentem concorrência são cada e jurídicas sem poder de
vez menores. A esperança de que os
bancos estrangeiros, acostumados a concorrência”.
um ambiente competitivo na Europa,
derrubassem as taxas, não se con- ROGÉRIO SOBREIRA
firmou. Contaminados pelo jeitinho Professor da Ebape-FGV
brasileiro, eles se acomodaram ao
ganho fácil. anti-recessão, o governo Lula promete
um incremento de recursos para o
“O Banco Central tem tratado crédito assegurado com mão de ferro:
a concorrência bancária de forma a redução da taxa de remuneração dos
marginal”, diz o presidente do Cade, bancos sobre os valores não destina-
João Grandino Rodas. Até o Fundo dos ao financiamento habitacional. É
Monetário Internacional (FMI) já sabia pagar para ver – desde que o voto de
disso. Agnes Belaisch, economista da confiança não venha com spread.
instituição, publicou no ano passado
um estudo com um título nada sutil –
Do brazilian banks compete? (Os ban-
cos brasileiros competem?) – e uma
resposta menos ainda. “A hipótese de
que os bancos brasileiros não atuam
de forma competitiva é confirmada
pela investigação empírica que indica
que atuam como oligopólios”, afirma
um trecho do trabalho de Belaisch.
No fim da linha, a culpa recai sem-
pre sobre a mesma ré: a dívida pública.
“A renegociação feita através da Selic
torna o governo o maior cliente dos
bancos, deixando as pessoas físicas e
jurídicas sem poder de concorrência”,
afirma Rogério Sobreira. “O sistema
que está aí é concentrador não só de
renda, mas também de crédito”, diz
Eduardo Luís Lundberg. “É preciso uma
oferta maior de crédito com juros mais
baixos para promover a inserção de
mais gente no capitalismo.” No pacote
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