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SPREAD BANCÁRIO  Com risco zero e sem
                 concorrência, bancos
                 são os donos da festa

                 O Banco Mundial calcula que apenas um em cada três            Enquanto o Comitê de Política
                 brasileiros tenha conta em banco. Na contramão da         Monetária (Copom) mantinha nas
                 exclusão do sistema financeiro, os incluídos pagam de     primeiras reuniões de 2004 a taxa
                 spread bancário – a diferença entre os juros na captação  de juros básica, a Selic (Sistema de
                 e os aplicados na concessão de empréstimo – uma das       Liquidação de Custódia), no pata-
                 maiores taxas do mundo: 49,2% contra a média de dez       mar de 16,5% ao ano, a Associação
                 pontos percentuais em países desenvolvidos. No ranking    Nacional dos Executivos de Finanças
                 de 130 nações somos um dos campeões em spread, mas        (Anefac) denunciava que os índices
                 empacamos num modesto 53º lugar no volume de cré-         praticados pelos bancos além de não
                 dito, com 30,24% do Produto Interno Bruto (PIB), atrás    acompanharem na mesma proporção
                 de economias emergentes como a China, a Malásia e o       a redução de dez pontos percentuais
                 Chile. Nesta modalidade perversa de contradição pratica-  da Selic registrada em 2003, subiram
                 da pelo sistema financeiro, sob o olhar complacente do    de 7,75%, em dezembro, para 7,92%
                 governo Lula, banco brasileiro é acima de tudo uma casa   em janeiro.
                 de corretagem voltada para captar dinheiro do usuário
                 para os cofres do Tesouro e maximizar os lucros com           Não podia dar outra. No Brasil
                                                                           que vai mal, os bancos vão muito
                                                                           bem, obrigado. Enquanto o IBGE
                                                                           apontava um PIB negativo de 0,2%
                                                                           em 2003, os bancos apresentavam
                                                                           balanços com números estratosféri-
                                                                           cos. O Bradesco fechou o ano com
                                                                           lucro líquido de R$ 2,3 bilhões; o
                                                                           grupo Santander-Banespa com R$
                                                                           1,7 bilhão; o ABN Real com R$ 1,1
                                                                           bilhão. O desempenho mais signi-
                                                                           ficativo foi do Itaú: acima de R$ 3
                                                                           bilhões.

                                                                               Não é preciso ser bom em mate-
                                                                           mática para perceber a discrepância:
                                                                           entre as quatro instituições bancárias,
                                                                           a que menos lucrou exibe musculatura

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