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HOMENAGEM Paulo Roberto,
meu amigo
Pediram-me um texto em sua homenagem, para ser mas sem deixar também de apreciar a criação regeneradora
publicado na revista Por Sinal. Tal texto (um artigo?), além da minha, distante, como você dizia, apenas uma Via Dutra.
do propósito de homenageá-lo, contaria um pouco da sua
atuação à frente do Sinal. E de como você ajudou a criar e Você se foi muito depressa, meu amigo. Ficamos meio
dar vida ao nosso Sindicato. Bem, era essa a intenção. órfãos e sozinhos, mas sabendo que o exemplo de sua
vida permanecerá, como um estímulo a nos impulsionar e
Não deu, porque falar de você é o mesmo que falar fortalecer na luta contra as injustiças, na busca teimosa de
do Sinal, é falar de duas trajetórias que se confundem. uma sociedade fraternal e justa. O entusiasmo com que você
Com isso em mente, pensei em fugir do formalismo e se atirava no enfrentamento dos desafios do dia-a-dia, na
do risco que se corre de ser ou piegas ou seco e direto política e na construção incansável do nosso Sindicato será
demais num texto “homenagem”. Não queria ficar preso sempre uma lição para todos nós.
à rigidez da forma e ao conteúdo. Resolvi, então, escre-
ver esta carta, falar diretamente com você. E como falar Isso me faz lembrar que preciso lhe contar que as
agora sem emoção? A emoção foi a marca que você nos coisas teimam em andar de lado, se não para trás. Veja
legou. Foi com emoção, muita emoção, que você passou só, falávamos há bem pouco da utopia da nossa geração,
pela vida de todos nós, seus familiares, amigos, colegas que “quase” aconteceu, a despeito de ter chegado “lá”. Vá
e companheiros de luta e construção da nossa Entidade lá que talvez ainda seja cedo para um juízo tão rigoroso,
representativa. E é sempre com emoção que nos lem- mas nos perguntávamos e questionávamos o processo
bramos de você. político-social que resultou num governo “popular” com
Para que muitos também a leiam, vai esta carta publica-
da na revista. Não encontrei melhor modo de compartilhar
sentimentos neste momento de perda, que é tão maior e
dolorosa quanto possível, ao nos recordarmos de seu espírito
de liderança, iniciativa e generosa doação. E, para mim, é
motivo de orgulho ter sido honrado, por tantos anos, com
o incomparável privilégio de sua amizade.
Você não gostava de rituais, de formalismos, das coisas
muito certinhas. Estava sempre inventando, criando opções
mais simples e originais, tanto no trabalho quanto nas miu-
dezas do viver. Espírito de liderança, trabalho de equipe,
organização de eventos, a idéia do jornal, do “escambão”,
dos agitos culturais, dos concursos, do “site”, desta revista...
Tanta coisa passou pelo crivo da sua imaginação, do talento
da sua vertiginosa inteligência e da sua formação cultural,
sempre valorizando os tipos e as coisas mais características
da sua Cidade Maravilhosa, com a qual tanto se identificava,
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