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“Antes, as empresas                   passando a estabelecer o conceito      arquitetura da destruição”. O Dieese
contratavam seus empregados                de empresa flexível, que aposta no     constata que o tempo médio de per-
 com base em direitos sociais              trabalho coletivo e de equipe e em     manência no trabalho dos brasileiros
                                           um maquinário avançado”, ressalta      é de um ano. “Sessenta por cento das
   oriundos de muita luta.”                Antunes.                               pessoas que foram demitidas por con-
                                                                                  ta da crise econômica tinham menos
           RICARDO ANTUNES                     Segundo o professor da Uni-        de um ano de casa. Essa rotatividade
          Professor da Unicamp             camp, a partir daquela década, todas   de 35% a 38% da mão-de-obra é
                                           as empresas, sejam indústrias ou       um problema para os sindicatos, que
aviso prévio, seguro-desemprego e o        bancos, passaram a trabalhar com       ficam com pouco poder de negocia-
FGTS, podendo aguentar alguns meses        um contingente cada vez menor          ção”, diz José Silvestre.
sem voltar a ter trabalho”. Ele ressalva,  de trabalhadores, que poderiam ser
porém, que o futuro não é róseo em         contratados ou demitidos de acordo     Resposta à crise
relação ao trabalho: “A OIT afirma que,    com as necessidades de um trabalho         Para o coordenador de Relações
nas crises, o nível de emprego anterior    específico. “Antes, as empresas con-
só é restabelecido depois de quatro        tratavam seus empregados com base      Sindicais do Dieese, o fato de o Brasil
ou cinco anos.”                            em direitos sociais oriundos de muita  ter algumas agências de fomento
                                           luta”, lembra. Para Antunes, a erosão  industrial, caso do BNDES, fez toda a
    Para o sociólogo e professor Ricar-    do trabalho fez com que “os que têm    diferença no enfrentamento da crise
do Antunes, titular do Departamento        emprego trabalhem muito, muitos        econômica. “O governo tomou me-
de Sociologia do Instituto de Filosofia    já não mais encontrem trabalho e       didas de caráter geral e setorial para
e Ciências Humanas da Unicamp,             outros façam qualquer trabalho para    abrandá-la, a exemplo da redução dos
porém, a desestruturação do mundo          tentar sobreviver com o que sobra da   juros, que atingiriam o patamar dos
do trabalho começou a ocorrer mui-
to antes de o tsunami econômico            O tamanho do Estado
varrer os empregos no mundo. O
Brasil, por exemplo, já convivia com           Um novo estudo do Ipea revela, mais uma vez, que a participação do
níveis patológicos, de 50% a 55% de        emprego público no Brasil é pequena. O percentual de servidores não chega
trabalhadores na informalidade, sem        a 11% entre o total de ocupados. Esses trabalhadores também não atingem
que seus representantes, as centrais       o percentual de 6% da população, se comparados com a totalidade dos
sindicais, tivessem estoques de medi-      brasileiros. Sendo bem menor do que os EUA, a Espanha, Alemanha, França,
cação contra a doença. “As mudanças        Suécia, Argentina, o Uruguai e até o Paraguai, o Estado brasileiro poderia ter
passaram a ocorrer a partir de 1970,       um papel importante para debelar a crise de empregos no Brasil.
quando o mundo adentrou em um
novo ciclo de demolição do trabalho,           Os autores do texto do Ipea chegam a dizer que existe espaço para a
                                           criação de ocupações emergenciais no setor público brasileiro, especialmen-
                                           te nas áreas mais afetadas pelo desemprego. Ou seja, o emprego público
                                           – mesmo que em atividades temporárias – poderia servir como um freio ao
                                           desemprego, enquanto durarem os efeitos da retração econômica mundial
                                           sobre a economia brasileira.

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