Page 10 - PorSinal 28
P. 10
“Antes, as empresas passando a estabelecer o conceito arquitetura da destruição”. O Dieese
contratavam seus empregados de empresa flexível, que aposta no constata que o tempo médio de per-
com base em direitos sociais trabalho coletivo e de equipe e em manência no trabalho dos brasileiros
um maquinário avançado”, ressalta é de um ano. “Sessenta por cento das
oriundos de muita luta.” Antunes. pessoas que foram demitidas por con-
ta da crise econômica tinham menos
RICARDO ANTUNES Segundo o professor da Uni- de um ano de casa. Essa rotatividade
Professor da Unicamp camp, a partir daquela década, todas de 35% a 38% da mão-de-obra é
as empresas, sejam indústrias ou um problema para os sindicatos, que
aviso prévio, seguro-desemprego e o bancos, passaram a trabalhar com ficam com pouco poder de negocia-
FGTS, podendo aguentar alguns meses um contingente cada vez menor ção”, diz José Silvestre.
sem voltar a ter trabalho”. Ele ressalva, de trabalhadores, que poderiam ser
porém, que o futuro não é róseo em contratados ou demitidos de acordo Resposta à crise
relação ao trabalho: “A OIT afirma que, com as necessidades de um trabalho Para o coordenador de Relações
nas crises, o nível de emprego anterior específico. “Antes, as empresas con-
só é restabelecido depois de quatro tratavam seus empregados com base Sindicais do Dieese, o fato de o Brasil
ou cinco anos.” em direitos sociais oriundos de muita ter algumas agências de fomento
luta”, lembra. Para Antunes, a erosão industrial, caso do BNDES, fez toda a
Para o sociólogo e professor Ricar- do trabalho fez com que “os que têm diferença no enfrentamento da crise
do Antunes, titular do Departamento emprego trabalhem muito, muitos econômica. “O governo tomou me-
de Sociologia do Instituto de Filosofia já não mais encontrem trabalho e didas de caráter geral e setorial para
e Ciências Humanas da Unicamp, outros façam qualquer trabalho para abrandá-la, a exemplo da redução dos
porém, a desestruturação do mundo tentar sobreviver com o que sobra da juros, que atingiriam o patamar dos
do trabalho começou a ocorrer mui-
to antes de o tsunami econômico O tamanho do Estado
varrer os empregos no mundo. O
Brasil, por exemplo, já convivia com Um novo estudo do Ipea revela, mais uma vez, que a participação do
níveis patológicos, de 50% a 55% de emprego público no Brasil é pequena. O percentual de servidores não chega
trabalhadores na informalidade, sem a 11% entre o total de ocupados. Esses trabalhadores também não atingem
que seus representantes, as centrais o percentual de 6% da população, se comparados com a totalidade dos
sindicais, tivessem estoques de medi- brasileiros. Sendo bem menor do que os EUA, a Espanha, Alemanha, França,
cação contra a doença. “As mudanças Suécia, Argentina, o Uruguai e até o Paraguai, o Estado brasileiro poderia ter
passaram a ocorrer a partir de 1970, um papel importante para debelar a crise de empregos no Brasil.
quando o mundo adentrou em um
novo ciclo de demolição do trabalho, Os autores do texto do Ipea chegam a dizer que existe espaço para a
criação de ocupações emergenciais no setor público brasileiro, especialmen-
te nas áreas mais afetadas pelo desemprego. Ou seja, o emprego público
– mesmo que em atividades temporárias – poderia servir como um freio ao
desemprego, enquanto durarem os efeitos da retração econômica mundial
sobre a economia brasileira.
10