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Pontifícia Universidade Católica de       melhora do cenário. Já há a recuperação    anticíclicas. Resta ver se esse quadro
São Paulo (PUC–SP), no artigo “A          do emprego formal e da arrecadação         é capaz de gerar crescimento com
crise internacional desafia o modelo      dos estados. A dúvida é se o fôlego é      incorporação de progresso técnico e
brasileiro de abertura e liberalização”,  suficiente para garantir que o país tenha  inclusão social.”
que será publicado na revista Estudos     um PIB acima de 1% este ano”, afirma
Avançados, do IEA/USP, em agosto.         o diretor de Estudos Macroeconômicos           O cético Noriel Roubini reforça
                                          do Instituto de Pesquisa Econômica         o receituário que combina cautela e
    Segundo ele, o modelo já havia        Aplicada (Ipea), João Sicsu.               mudança de foco. “No curto prazo,
passado pelos testes das crises fi-                                                  todos serão atingidos pelo tsunami
nanceiras da década passada e pela            Mesmo assim, seria preciso am-         financeiro. Para países emergentes,
instabilidade cambial da primeira         pliar as medidas governamentais de         como o Brasil, será preciso confiar
eleição do presidente Luiz Inácio Lula    ampliação do crédito e de investimen-      menos nas exportações e mais no
da Silva. Mas desta vez, diz, questiona   tos públicos em gastos sociais. A su-      mercado interno.”
diretamente as premissas básicas do       peração da crise, diz Sicsu, passa pela
modelo, em especial a alegada vanta-      redução dos juros, pela manutenção             Noves fora qualquer surpresa,
gem da abertura externa em situações      da desoneração dos impostos e pela         parece que ainda não é desta vez
de crise internacional.                   tributação de grandes fortunas.            que o mundo vai acabar. E já não falta
                                                                                     quem preveja que, passado o pior
    Os economistas concordam num              Para o diretor do Ipea, a crise abre   da crise financeira internacional, dias
ponto: mesmo no melhor dos mundos,        uma série de possibilidades para a         melhores virão. É o que pensa Carlota
uma recuperação da economia a partir      adoção de um modelo desenvolvi-            Perez. Trata-se de uma conceituada
do ano que vem deve se alicerçar em       mentista distributivo: uma política        pesquisadora venezuelana do Centro
taxas de crescimento bastante modestas    monetária de juros baixos, uma política    de Investigação sobre Políticas Cientí-
– um comportamento bastante inferior      cambial com uma taxa de câmbio             ficas e Tecnológicas da Universidade
àquele verificado antes da crise –, mes-  estável e favorável à exportação de        de Sussex, na Inglaterra.
mo para os países emergentes.             manufaturados e uma política fiscal de
                                          gastos públicos para reconstruir a in-         A redenção, acredita ela, viria pela
    “Estagflação, não crescimento, será   fraestrutura do país e fazer programas     Revolução da Informação. Seria a
o nome do jogo”, escreveu Dani Ro-        sociais abrangentes.                       confirmação da Terceira Onda previs-
drik, professor de Política Econômica                                                ta por outro futurólogo: Alvin Tofler.
na Escola de Governo John F. Kennedy,         “A crise atual também abre perspec-    Mas dependeria de duas premissas
da Universidade de Harvard, em artigo     tivas novas, e o aproveitamento dessas     defendidas por ela: uma recomposição
publicado pelo jornal Valor Econômico,    potencialidades dependerá, entre ou-       institucional que coloque o capital
de 22 de junho. “A expansão do consu-     tros fatores, da identificação correta     produtivo no posto de comando da
mo permanecerá atenuada por muito         dos determinantes da reação que a          criação de riqueza – pondo fim à
tempo, porque os domicílios nos paí-      economia brasileira vem apresentando”,     economia de cassino, que prosperou a
ses ricos sofreram perdas colossais de    afirma o professor Carlos Eduardo          partir de 2000, e devolvendo ao capital
riqueza, e os governos não têm como       Carvalho. “É também evidente que           financeiro seu real papel de facilitador
compensar o crescimento rápido da         o Estado brasileiro dispõe de capa-        da economia real – e o investimento
dívida pública, que em alguns países      cidade de reação diante da crise,          na direção certa, a massificação da
poderá chegar a 100% do PIB.”             com o arranjo fiscal e monetário           infraestrutura tecno-econômica do
                                          que capitalizou o sistema bancário e       atual ciclo tecnológico. Carlota Perez
    No Brasil, menos afetado pela crise   permitiu ao Tesouro maior margem           assegura: “Estamos num ponto de
internacional, a questão é outra: qual a  de manobra na aplicação de medidas         virada.”
velocidade da recuperação? “Tudo indica

                                                                                     agosto 2009  15
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