Page 18 - PorSinal 28
P. 18
US$ 10 bilhões, equivalente a 70 bilhões de yuans. O swap, ou troca de Índia, por exemplo, país com o qual as negociações estão a iniciar-se.
moedas, veio para permitir que a Argentina continue a importar bens Espera-se, igualmente, que o SML possa abranger novas operações,
da China, pagando em yuans. Diante do cenário descrito, o Brasil, por além daquelas de comércio de bens.
meio do Banco Central, atuou com desenvoltura, trabalhando para a Diante da necessidade de recomposição do comércio com a
internacionalização do real. Paralelamente ao início da crise mundial, Argentina, além do SML – criado em 2008 –, duas estratégias, envol-
o Banco Central do Brasil mostrou-se na vanguarda do processo de vendo o Banco Central do Brasil, foram adotadas em 2009. A primeira
ampliação de liquidez em moeda local, ao operacionalizar com o delas envolveu a ampliação de mecanismo já existente: o aumento
Banco Central da Argentina, a partir de outubro de 2008, o Sistema para US$ 1,5 bilhão de operações garantidas pelo Convênio de Crédito
de Moedas Locais (SML). O mecanismo de pagamento, facilitador Recíproco (CCR). Trata-se de mecanismo disciplinado internamente
do comércio entre os dois países, é muito bem-vindo, no momento pelo Banco Central do Brasil, criado no âmbito da Aladi, durante a
em que o Brasil vem enfrentando escassez de divisas na “década per-
dificuldades de acesso àquele mer- “Paralelamente ao início da crise dida” (anos 1980). A outra estratégia
cado e tem ameaçado recorrer junto mundial, o Banco Central do Brasil envolveu a implementação de novo
à Organização Mundial do Comércio mecanismo: o swap de moedas. Na
(OMC). O SML vem participando de mostrou-se na vanguarda do operação de swap realizada pelo Ban-
forma crescente nas trocas bilaterais processo de ampliação de liquidez co Central do Brasil e sua contraparte
entre os dois países, ainda que ini- em moeda local, ao operacionalizar argentina, o Brasil reforçou as reser-
cialmente contemple os pequenos vas internacionais daquele país, em
importadores e exportadores. O com o Banco Central da Argentina, a reais, equivalentes a US$ 1,5 bilhão.
sistema permite aos agentes pagarem partir de outubro de 2008, o Sistema Tais recursos deverão equilibrar as os-
suas transações comerciais de bens cilações do peso perante o dólar, bem
em moeda local. Isto significa dizer de Moedas Locais (SML).” como financiar o comércio bilateral.
que, feita essa opção, a operação de O swap permite aos países trocar
câmbio entre importador/exportador suas moedas e facilitar o pagamento
desaparece, dando lugar a reais e pesos. Basta o importador pagar de obrigações, sem afetar o volume de suas reservas. O mecanismo
em moeda local ao banco habilitado para a operação, observar a deverá ser ampliado a outros países, destacando-se as adiantadas
taxa de câmbio e aguardar a compensação efetuada, parte a parte, negociações com o Uruguai. A estratégia parece apontar para o real
pelo Banco Central de cada país, o que completará o pagamento, em como uma futura moeda regional de referência.
moeda local, ao exportador. Os resultados têm sido satisfatórios, visto Talvez a substituição do dólar em escala mundial não seja um
que mais da metade das empresas que usaram o sistema voltaram tema para o curtíssimo prazo, mas é inegável que a ideia ganha força
a fazê-lo, sendo que a maior parte das operações corresponde a a cada dia. A dificuldade maior reside provavelmente em conferir
exportações brasileiras. Nada mais natural quando se considera a credibilidade àquilo que é novo. Adotar uma nova moeda, ou cesta, é
eliminação do risco cambial. A ideia, de início, esbarrou apenas na confiar plenamente na eficácia de suas atribuições. Não basta a pujança
questão costumeira. Comerciar usando dólares tem sido a prática econômica de um país ou grupo de países. A credibilidade é que produz
corrente, e dar início a uma nova prática significou uma quebra de a moeda. Enquanto isso, o Banco Central do Brasil vai cumprindo com
paradigma. A despeito da desconfiança inicial, o Banco Central do sucesso sua tarefa.
Brasil demonstrou, por meio do sucesso na operação, que a prática
tornou-se uma realidade possível. O que se espera, agora, é que *Economista, conselheiro da Fundação Centro de Estudos do Comércio
novos países sejam contemplados com os benefícios do SML, como a Exterior (Funcex), diretor da Federação das Câmaras de Comércio Exterior e
diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China
18