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mas também na incapacidade de outros países de substituí-los no curto depositada justamente nos países emergentes. 

prazo. Talvez, por isso, fale-se numa eventual cesta de moedas, em vez  Abrir mão do dólar para as transações comerciais tem sido

de uma única moeda a substituir o dólar.                                ideia que vem permeando os mais recentes fóruns e encontros

Quando se fala em outra potência capaz, voltam-se os olhos para multilaterais de âmbito financeiro que envolvem países emergen-

a China, que na última década vem vivendo seu milagre econômico. A tes. O tema, sugerido recentemente, em Londres, na reunião do

China possui cerca de US$ 2 trilhões em reservas internacionais, e a G-20, não progrediu. A preocupação maior passou pela regulação

causa de seu temor reside no fato de que boa parte delas encontra-se dos mercados, pela cooperação internacional, pela transparência

aplicada em títulos do Tesouro norte-americano. Para minimizar o ris- e pela reforma do FMI. Novamente, em ocasião posterior, na reu-

co, precisa diversificar a composição de suas reservas. Enquanto isso nião dos BRICs, em junho de 2009, o assunto veio à tona. A pouca

não ocorre, a China financia os gastos dos Estados Unidos. O temor, importância conferida a ele ao término da reunião, no entanto,

entretanto, não é só da China, mas do                                            traz duas explicações convincentes.

mundo como um todo, considerado               “Se, por um lado, a fragilidade    A primeira é que sua ausência na
o elevado percentual de reservas em        monetária de curto prazo é um sinal   declaração final evitou uma queda
dólar. Para precaver-se de eventuais                                             no valor dos títulos do Tesouro nor-

desvalorizações do dólar, a China,          de alerta a ser considerado pelos    te-americano, impedindo, com isso,
bem como a Rússia – membros do             países, por outro, a economia dos     que os BRICs perdessem reservas.
BRIC – sugeriram que os Direitos           Estados Unidos não está morrendo      A segunda especula que o assunto
Especiais de Saque (DES) ou SDR                                                  tenha sido levantado agora para

(em inglês), do FMI, por meio de             de inanição. Vive dias difíceis, é  ser usado como moeda de troca
um sistema de compensações com              verdade, mas sua capacidade de       na próxima reunião do G-20, afinal,
moedas, possam ser aceitos como            reconstrução é, ainda, muito forte.”  nela também estarão presentes os
meio de pagamento nas operações                                                  membros do G-7, incluindo os Esta-

de comércio exterior. Para que os SDR                                            dos Unidos. A estratégia seria fazer

atendam às características exigidas                                              uso do tema – alternativas ao dólar

para uma possível moeda de reserva, a reforma do FMI deve estar em – como instrumento de barganha em discussões que envolveriam

andamento. Novas emissões de SDR foram sugeridas após a reunião um maior peso dos países que compõem o BRIC nos organismos

do G-20, em Londres, quando foi anunciada a injeção de capital no financeiros multilaterais, mais propriamente no FMI. Convém, agora,

FMI da ordem de US$ 700 bilhões. Boa parte desses recursos serviria aguardar a próxima reunião dos BRICs, a realizar-se no Brasil, em

para lastrear aquelas emissões. O SDR, hoje, pode ser entendido como 2010, para conferir se as diretrizes monetárias do grupo serão mais

um ativo, cuja taxa é determinada por uma cesta de moedas que inclui fortemente defendidas em âmbito mundial. 

dólar, euro, libra e iene, mas que não conta nem com o yuan, nem com    No âmbito regional, com a crise econômica, o cenário tornou-se

o rublo. Da cesta atual, o dólar é a moeda com maior participação: mais adverso para o Brasil. O crescente protecionismo na América La-

44%. Uma nova cesta, mais representativa, mas com moedas fortes tina e a falta de liquidez passaram a dificultar a obtenção de resultados

de países emergentes, serviria para minimizar o risco de oscilações mais expressivos por parte do comércio exterior brasileiro, ensejando

abruptas. É o que se espera para novembro de 2010, quando a cesta medidas de estímulo ao comércio bilateral. Enquanto determinados

será revista. Nesse contexto, os países em desenvolvimento devem setores exportadores do Brasil perderam espaço relativo no mercado

ocupar o lugar de destaque correspondente ao seu peso econômico argentino, por conta de restrições variadas e de licenciamentos que

no cenário mundial. Convém lembrar que a atual crise surgiu nos deveriam ser automáticos, a China ganhou espaço, ao tecer com a

países centrais, e que a esperança da retomada do crescimento está Argentina, em abril de 2009, um acordo de swap cambial no valor de

                                                                                 agosto 2009                         17
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