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artigo   Marcio Sette Fortes (*)

        O destino do dólar

        Liquidez, instabilidade e novas soluções de pagamentos

            A substituição do dólar como moeda de reserva                      das reservas mundiais estão em dólares. Acordos de swap têm
        não é um tema propriamente novo, mas, pela primeira                    sido costurados para estimular o comércio, diante de tais perdas
        vez, assume contornos de possibilidade, desde a pro-                   de reservas em dólares. São exemplos os acordos bilaterais entre
        posta realizada na reunião do Fundo Monetário Internacional            a China e a Argentina, a Coreia do Sul, a Malásia e a Indonésia, e
        (FMI), em 1979. Para que o tema voltasse com mais força à pauta,       entre o Brasil e a Argentina. 
        foi preciso que a atual crise econômica mundial tivesse emergido nas
        hipotecas e no centro financeiro norte-americano. A crise de liquidez      Se, por um lado, a fragilidade monetária de curto prazo é um sinal
        ensejou a discussão por novas soluções de pagamentos.                  de alerta a ser considerado pelos países, por outro, a economia dos
                                                                               Estados Unidos não está morrendo de inanição. Vive dias difíceis, é
            Para os mais céticos, defensores da atual moeda de referência,     verdade, mas sua capacidade de reconstrução é, ainda, muito forte. A
        entretanto, não é a credibilidade do dólar que se encontra em          despeito dos erros cometidos no que se refere à regulação dos merca-
        xeque, mas a robustez da economia norte-americana, assolada            dos e ao cálculo dos riscos, trata-se, ainda, do maior mercado financeiro
        pelo binômio desemprego e redução da demanda. Não foi o dólar          do mundo e da economia onde há mais inovações tecnológicas do que
        que fracassou, originando a crise, mas a dificuldade, no entanto,      qualquer outra, o que faz com que para lá fluam enormes volumes
        reside no fato de se dissociar uma coisa da outra. Os temores não      monetários. Talvez, a impossibilidade de os Estados Unidos serem
        são infundados, visto que, teoricamente, um colapso repentino          superados resida não somente na competitividade de sua economia,
        do dólar, com uma desvalorização sem precedentes, poderia ser o
        final de uma história alicerçada em um déficit público de 14% do
        PIB e em uma enorme dívida governamental. Uma possível fuga
        de ativos norte-americanos e uma desvalorização consequente
        trariam enorme prejuízo àqueles que investem nos Estados Unidos.
        Significa que muitos teriam a perder, incluindo aí os países que hoje
        defendem a substituição preventiva do dólar, e é justamente por
        isso que a defendem. Não bastasse o cenário sombrio aqui descrito,
        o emissionismo sem lastro efetuado pelo Federal Reserve gera
        ainda mais incerteza sobre os destinos do dólar. Tal emissionismo
        tem gerado, também, dificuldades na rolagem da dívida por parte
        do Tesouro norte-americano, que está tendo de encurtar, cada vez
        mais, o prazo de sua dívida, em um claro sinal de desconfiança por
        parte do mercado. A recente desvalorização perante outras moedas
        é fator de questionamento. A redução das reservas, principalmente
        dos emergentes, que queimaram volumes consideráveis para ativar
        suas economias durante a crise, preocupa a todos. Preocupa ainda
        mais quando se sabe que, segundo dados do FMI, cerca de 60%

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