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que ameace a recuperação. “Seria preciso ampliar as medidas governamentais
“As medidas fiscais e monetárias de ampliação do crédito e de investimentos públicos
em gastos sociais. A superação da crise passa pela redução
que foram implementadas na econo- dos juros, pela manutenção da desoneração dos impostos e
mia mundial resolveram os problemas
de liquidez e, em alguns casos, de pela tributação de grandes fortunas.”
solvência tanto de instituições finan-
ceiras quanto de empresas direcio- JOÃO SICSU
nadas para a atividade industrial”, diz Diretor do Ipea
o economista Fernando Ferrari Filho,
professor da Universidade Federal transmissor sobre preços, câmbio e, esperado. Levará anos para recuperar
do Rio Grande do Sul (UFRGS) e principalmente, atividade produtiva.” os mecanismos de securitização e
presidente da Associação Keynesiana os empréstimos. Não há nada a ser
Brasileira. “A questão agora é o custo, A unanimidade que sobra sobre resolvido em seis meses.”
principalmente fiscal, de tais medidas. a necessidade de reestruturação do
Em outras palavras: ajustes fiscais em sistema financeiro internacional de- O economista Yoshiaki Nakano,
um futuro próximo limitarão a capaci- saparece quando se trata dos sinais diretor da Escola de Economia de
dade de recuperação da economia.” de recuperação da economia. O São Paulo da Fundação Getúlio Var-
professor Noriel Roubini, da Univer- gas (FGV), faz eco. “O momento é
Receita para o Brasil sidade de Nova York, mundialmente muito perigoso”, escreveu na Folha
Os especialistas acreditam que, reconhecido depois de prever a de S.Paulo, em 14 de junho. Segundo
extensão devastadora da crise fi- ele, a sensação de que o pior já passou
para o Brasil, os reflexos das medidas nanceira internacional, garante: “A pode levar ao relaxamento e à reversão
adotadas mundo afora para aumentar retomada no mercado de capitais nas ações de políticas anticrise ou ao
o controle sobre o sistema financei- e de alta nas cotações das commo- retorno das práticas financeiras que
ro não fariam muita diferença. Os dities não deve ser encarada como desencadearam a própria crise.
bancos brasileiros estariam esban- indício de recuperação consistente
jando saúde graças à reestruturação da economia mundial.” “Podemos ter uma nova crise
promovida pelo Proer. O que faltaria financeira dentro da crise atual”, diz
ajustar é o excesso de concentração No seminário “O Brasil e a Crise”, Nakano. “Só com a reestruturação do
do mercado. promovido no fim de maio pela re- sistema financeiro, de modo que se
vista Carta Capital, para comemorar evitem os excessos das últimas déca-
É ela, a concentração, defendem os 15 anos da publicação, Roubini das, com a redução dos desequilíbrios
alguns economisas, que mantém voltou a defender concepções que o globais e com a definição de novas on-
as taxas de juros e os spreads ban- tornaram uma espécie de arauto do das de inovação e de investimentos, a
cários em patamares elevados. “O pessimismo. “Os otimistas veem a economia mundial iniciará a verdadeira
Banco Central poderia implementar crise em formato de V, com retomada retomada do crescimento.”
medidas, estruturais ou normativas, em cerca de oito meses, ainda no
que visassem à elevação da liquidez segundo semestre. Mas isso está fora “A crise internacional coloca enor-
e à redução dos spreads bancários”, de questão. O formato é de U, com mes desafios para o modelo eco-
defende Fernando Ferrari Filho. “A duração de não menos do que 24 nômico que se configurou no Brasil
política monetária não tem um só meses”, disse. “A crise será três vezes no início dos anos 1990”, defende
objetivo, de controlar o processo in- mais extensa e profunda do que o Carlos Eduardo Carvalho, professor
flacionário. Taxas de juros têm efeito do Departamento de Economia da
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