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ARTIGO
A inclusão financeira:
de cima ou por baixo?
Idalvo Toscano (*)
I – INTRODUÇÃO b) o desenvolvimento das microfinanças.
Se ambos trouxeram resultados positivos no combate
“Acredito que as instituições bancárias à segregação financeira, foram limitados em seu alcance: a
são mais perigosas que os exércitos.” inclusão financeira via mecanismos e instituições de mercado
é uma estratégia equivocada.
[Thomas Jefferson]1 Um país tão diverso e complexo como é o Brasil requer
ações que ultrapassem a capacidade das instituições bancá-
“Nunca antes na historia deste país”® houve uma conver- rias tradicionais; não fosse assim, isso já teria ocorrido de há
gência tão forte em torno do crédito como vital aos processos muito em face do expressivo potencial de mercado existente.
de crescimento econômico; isto se torna evidente ante os
resultados verificados no período 2002/2009, quando a oferta II – BANCARIZAÇÃO E MICROFINANÇAS
de crédito quase duplicou, passando a 40% do PIB.
1. De cima – a banca e o interesse social
Entretanto, duas questões merecem atenção:
1. a agenda ambiental – o atual modelo econômico traz (...) o banqueiro concordou, então,
consigo a concepção tradicional de crescimento econômico
quando, do ponto de vista ecológico, a primazia deveria em conceder o empréstimo solicitado
centrar-se em processos produtivos renováveis. Porém, a
busca de resultados no curto prazo tem se mostrado predatória pela pobre viúva; impôs, porém, uma
(a usina hidrelétrica de Belo Monte é um exemplo disso), a
comprometer um projeto sustentável para o país2 . condição: que ela dissesse qual de seus
2. a democratização do crédito – sua recente expansão
tem atendido aos diversos segmentos produtivos, de forma olhos era de vidro.
desigual, em especial, a economia popular, responsável por
significativa geração de trabalho e renda para as famílias – O olho esquerdo – falou de imediato.
empobrecidas.
As ações do governo não têm caminhado em direção ao – Como!!? Nem meus amigos mais
enfrentamento desses problemas e, para além do discurso
oficial, parece-nos inconsistentes com um projeto popular de próximos acertaram!
desenvolvimento socioeconômico que estruture e dinamize
o aproveitamento das potencialidades locais. – É que ao longo de todo o meu sofri-
Por sua vez, a expansão do crédito teve dois momentos
distintos: do relato, foi ele a demonstrar alguma
a) o acesso às contas simplificadas – “bancarização”; e
emoção. (Historinha popular)
Há 10 milhões de tomadores em busca de pequenos crédi-
tos; computada a demanda por serviços financeiros diversos,
teremos um número bem maior.
Instituições bancárias não são casas de benemerência,
exceto para os próprios banqueiros; mas não podemos es-
quecer que o sucesso da banca repousa na confiança que a
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