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sociedade lhes devota – uma relação de amor e ódio, quiçá comissões pelos serviços prestados, o banco ganha com as
– e é a partir dessa confiança que os bancos criam moedas3 novasatividadeseocomerciárioque,defato,exerceasfunções
e, com essas moedas “fictícias”, ganham muito, mas muito de “bancário-correspondente” assume as novas atividades
dinheiro mesmo. sem receber nenhum retorno pela prestação do serviço, além
A sociedade instituiu o Estado para regular seu funciona- de não se beneficiar das conquistas que a categoria bancária
mento; este criou os bancos e cunhou a moeda para alicerçar alcançou em anos de luta, como salário profissional, jornada
as atividades econômicas. Ora, tudo tem começo e fim na exis- de trabalho diferenciada, risco de caixa, etc.
tência de vida coletiva e, assim, haveria sobejos motivos para A democratização do crédito em um país tão desigual
que o Estado estabelecesse a obrigatoriedade de as atividades passa, necessariamente, por outro caminho.
bancárias se voltarem igualmente aos segmentos empobreci-
dos da população; essa não é uma questão moral, mas ética: 2. Por baixo – as instituições populares de
se a sociedade possibilita, pela confiança em suas instituições, crédito
que os bancos criem riquezas, não é justo que apenas e tão- “O melhor resultado virá quando to-
somente estes se apropriem dos benefícios daí advindos4 . O
esforço recente de “bancarização” somente logrou relativo dos do grupo fizerem o melhor para si
êxito porque o governo utilizou-se das instituições públicas
de crédito com esse propósito. mesmos e, também, para o grupo como
um todo.” [John Nash]
Recentemente, o governo buscou colocar na rua o “bloco”
do microcrédito, com o incentivo da O crédito popular existe inde-
redução dos depósitos compulsórios em pendentemente da regulamenta-
dois pontos percentuais; em vão: a ban- ção do Estado, desde todo o sem-
ca não tem interesse em ganhar pouco. pre. As “finanças de vizinhança”5
, os Fundos Rotativos Solidários,
Foinecessário,então,oempenhoda A ausência de apoio do
autoridade monetária para respaldar as Estado às iniciativas os mecanismos associativos de
atividades dos “correspondentes bancá- populares na área de ajuda mútua, as instituições de
rios” como “A SOLUÇÃO” na prestação microcrédito (o Projeto UNO/Pe.
de serviços financeiros às regiões sem crédito dificultou, e talvez seja a primeira atividade
agências bancárias. dificulta, a consolidação do tipo no mundo), os Bancos
de Sementes, de Alimentos, etc.
Pronto! É este o modelo de “demo-
cratização do crédito”, surgido a partir de novas representam a criatividade po-
da banca e sob o aprazimento das auto- pular em face da ausência de
ridades de governo. Mas – cabe pergun- institucionalidades – Estado e políticas sociais. São as
tar – quem paga a conta pela prestação os bancos populares, estratégias de sobrevivência que
desse serviço, já que a banca não entrou existem à larga no cotidiano das
para perder e o dono da lotérica, farmá- no caso – essenciais comunidades empobrecidas.
cia, posto de gasolina, enfim, o eventual ao desenvolvimento A ausência de apoio do Es-
correspondente bancário também não
tado às iniciativas populares
disponibilizou seus serviços por amor socioeconômico de na área de crédito (e outras ini-
ao bem-estar coletivo? caráter local.” ciativas, também!) dificultou, e
dificulta, a consolidação de novas
O proprietário do “ponto” recebe
abril 2010 13