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CRISE
ECONÔMICA
poder utilizar os recursos em que dese- do Banco Central, quatro grandes ban- bancária. Até lá, outras medidas serão
jarem. A consequência, a seu ver, será cos — ItaúUnibanco, Bradesco, Banco necessárias para o Brasil enfrentar este
dramática, pois a desvinculação total do Brasil e Caixa Econômica Federal problema de frente.
vai acarretar na “redução dos serviços — concentram 78,65% do mercado de
públicos pelo Estado e no direcionamen- crédito, ou seja, o grupo empresta cerca Segundo João Sicsú, o caminho para
to desses recursos para favorecer ban- de R$ 4 de cada R$ 5 disponíveis para reduzir a concentração e ampliar a oferta
queiros, multinacionais, latifundiários empréstimos. de crédito passa pela regulamentação
e milionários de todo tipo.” do mercado e pelo fortalecimento dos
Alguns especialistas entendem que bancos públicos. Há exemplos mundiais
O professor da UFRJ também relacio- cabe aos bancos públicos a tarefa de ofer- neste sentido. A Alemanha, com suas
na o Orçamento Base Zero à promessa de tar juros mais baixos e abrir uma linha de caixas econômicas, e a China, com os
Paulo Guedes de zerar o déficit público crédito especial para que os endividados seus sistemas descentralizados de gestão
em apenas dois anos. Embora muitos possam reorganizar suas finanças. Pelo financeira.
economistas entendam que a meta não andar da carruagem, nada indica que ve-
é exequível, argumenta Sicsú, caso seja remos um protagonismo maior dos ban- Tudo isso parece distante no atual
levado a cabo o fim da obrigatoriedade de cos públicos a partir da posse do novo cenário político que estamos vivendo,
gastos mínimos, mais recursos da União presidente. Bolsonaro, por exemplo, tem onde predomina a ótica neoliberal de
ficariam livres, de fato, para reduzirem o dito que vai estimular a criação de novas controle de gastos e enfraquecimento
déficit. O problema, acrescenta, seria o fintechs para aumentar a concorrência na do Estado. Por isso, o professor da UFRJ
custo social da medida, que dificultaria oferta de crédito. deixa este alerta: “A depressão é um fenô-
a retomada econômica. meno de longa duração, principalmente
É verdade que esta alternativa vem quando não são aplicadas políticas de
“A base para o equilíbrio no orça- sendo debatida há algum tempo. O Brasil recuperação através de gastos públicos.
mento tem que ser a dinamização da conta hoje com cerca de 280 fintechs. Essa é a experiência histórica”.
economia e não o corte de gastos”, argu- Existe um enorme potencial para o cres-
menta Sicsú. cimento deste setor se levarmos em con-
sideração que há 60 milhões de brasilei-
OFERTA DE CRÉDITO ros sem conta bancária. O mercado, no
entanto, tem plena consciência de que as
Virou moda criticar a concentração fintechs vão precisar de algo em torno de
bancária. Com o spread nas alturas e os dez anos para diminuir a concentração
bancos batendo recordes de lucrativi-
dade, mesmo em tempos de crise, era
de se esperar que o tema viesse à tona
na disputa presidencial. Infelizmente,
a falta de debates (sobretudo no segun-
do turno) impediu uma discussão mais
aprofundada. Em vez de soluções concre-
tas, prevaleceu um discurso genérico que
atribui o elevado custo do crédito à falta
de competição no sistema financeiro.
É sabido que a concentração ban-
cária no Brasil é nociva à economia.
Conforme dados divulgados pelo
Relatório de Estabilidade Financeira
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