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parlamentares trabalham com um vo- “A corrupção é uma doença brasileira
lume mais realista – R$ 50 milhões, endêmica. A diferença é que, apesar de todos os problemas
que chegariam aos valores inflaciona- e de continuar aparecendo, pela primeira vez ela é tratada
dos atribuídos ao Valerioduto por conta
de operações casadas – dinheiro que como uma questão prioritária do Estado”
transitou de uma conta para outra.
JORGE HAGE, Controladoria-Geral da União
É importante destacar que o Vale-
rioduto não começou com a chega- Inquérito instauradas no Congresso cos dos servidores públicos, atribui-se
da do PT à Presidência da República. parecem suficientes para dar algum a responsabilidade de só investigar sob
A comprovação do envolvimento do alento a uma sociedade que ansiava pressão em época de CPIs. Faltariam
senador do PSDB Eduardo Azeredo por uma faxina completa. Reparar o ao Banco Central, à Procuradoria-Ge-
na campanha de 1998 em esquema erro, ao que tudo indica, está sendo ral da República, à Justiça e até ao Mi-
semelhante ao montado por dirigen- tão difícil quanto preveni-lo. nistério das Relações Exteriores, todos
tes petistas em 2003 e o fato de as com assento no Coaf, uma ação inte-
contas de publicidade das empresas O alarme não funcionou! grada no combate eficiente à corrup-
de Marcos Valério com entidades “Cadê o auditor? Cadê o controla- ção, à lavagem de dinheiro e à evasão
públicas federais serem anteriores à de divisas para paraísos fiscais.
posse de Lula são indicativos fortes dor? Nada funcionou. Todos falharam”,
de que Delúbio Soares, Sílvio Pereira disse o empresário Oded Grajew, ex- A vulnerabilidade da fiscalização
e outros dirigentes do PT mantiveram assessor do presidente Luiz Inácio Lula não encontra amparo no propagado
um esquema administrado anterior- da Silva, no Conselho de Desenvolvi- movimento do Estado para criar bar-
mente pelos seus colegas tucanos. As mento Econômico e Social, ao criticar reiras mais sólidas no combate aos
evidências contra o senador Azeredo, o comportamento do governo e dos ilícitos financeiros desde a promul-
ex-governador de Minas, impeliram- outros poderes no combate à corrup- gação da Lei 9.613, de 1998, que
no a renunciar à presidência nacional ção. “Nenhum alarme funcionou, o tipifica o crime de lavagem de di-
do PSDB. cachorro não latiu.” nheiro. No rastro da legislação, uma
das primeiras medidas adotadas foi
O envolvimento de tucanos graú- Se latiu, ninguém ouviu. Ao Conse- a instituição do Coaf – a outra foi a
dos e de personagens controversas, lho de Controle das Atividades Finan- criação do Departamento de Com-
como o banqueiro Daniel Dantas, do ceiras do Ministério da Fazenda, en- bate a Ilícitos Cambiais e Financeiros
Oportunity, muito ligado à bancada carregado de coordenar os órgãos go- no Banco Central. Desde então, vem
pefelista, talvez explique a diminuição vernamentais incumbidos de fiscalizar se ampliando o leque de entidades
do espaço dedicado ao escândalo na desde os sinais exteriores de riqueza voltadas para o assunto. Todas pas-
mídia e os sinais que apontam para de qualquer cidadão aos desvios éti-
o julgamento negociado de uma dú-
zia de parlamentares. Mas não expli-
ca o porquê das dificuldades em se
avançar na busca de provas sobre a
verdadeira origem do dinheiro que
financiou a corrupção, além dos limi-
tes visíveis do Valerioduto. Nem mes-
mo as Comissões Parlamentares de
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