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Seja como dirigente do Sinal em Porto Alegre, seja                               idades de 5 a 8 anos, não há como
como conselheiro da Associação dos Portadores                                    responsabilizar o governo pelas se-
da Síndrome da Talidomida (ABPST), Gustavo não                                   quelas deixadas em dez a 15 crianças
pára: participa ativamente de reuniões, seminários,                              no Brasil. “O remédio era distribuído
eventos, representando o Sinal e a ABPST                                         de forma muito controlada, mas ainda
                                                                                 aconteceram alguns casos, como o
(PSDB-SP) e Mendes Ribeiro Filho        U Três gerações                          de uma mãe que, para abortar seu
(PMDB-RS), além dos senadores               Gustavo                              bebê, tomou muitos remédios, inclu-
Pedro Simon (PMDB-RS) e Sérgio                                                   sive a talidomida”, diz.
Zambiasi (PTB-RS) foram importan-       conta que a tali-
tes aliados nessa caminhada.            domida marcou                                Entre 1958 e 1962, nasceram
                                        três gerações de                         milhares de crianças com graves
    O presidente do Sinal-RS cita um    brasileiros. A pri-                      deformidades congênitas – ossos
exemplo de um dos entraves à apro-      meira, hoje com                          dos membros inferiores e superio-
vação da lei: “O projeto não apontava   48 a 50 anos, foi                        res curtos, ausência total ou parcial
a fonte de recursos para pagamento      vítima indefesa
das indenizações, e seria arquivado.”   do remédio, proi-                                                 das mãos, pés
Por conta disso, Gustavo e Claudia      bido só depois                                                    e/ou dedos.
reiniciaram a peregrinação a Brasília.  de 1964. “Essa                                                    Em 25% dos
Em julho de 2009, buscaram ajuda        geração não sabia de nada, portanto,                              casos, havia o
do ex- ministro das Relações Institu-   sobre o governo recai toda a culpa pelo                           acometimento
cionais José Múcio, que se compro-      uso indiscriminado do medicamento                                 simultâneo e
meteu a articular com o Executivo       por suas mães”, avalia.                                           assimétrico dos
o ajuste financeiro que faltava ao                                                                        quatro mem-
projeto. O atual ministro, Alexandre        Essa culpa é atenuada no caso                                 bros, o que se
Padilha, deu sequência às articula-     dos defeitos congênitos herdados pela                             chamou de “fo-
ções. “Foi a partir desse trabalho que  segunda geração da talidomida, hoje                               comelia”. Um
demos a volta por cima e garantimos     com idades entre 25 e 30 anos. “O                                 médico alemão
o pagamento das indenizações. Mas       remédio voltou a ser distribuído pelo                             estabeleceu a
o presidente Lula teve o cuidado de     governo de forma controlada, de 1968                              correlação en-
não faturar isso politicamente”.        a 1970, no combate à hanseníase.”        tre o consumo de talidomida pelas
                                                                                 gestantes e o aparecimento das
                                            No caso da terceira geração, com     más-formações.
                                                                                     O laboratório farmacêutico Che-
                                                                                 mie Grünenthal foi obrigado a retirar
                                                                                 o medicamento do mercado alemão.
                                                                                 Só assim o mundo soube que uma
                                                                                 substância tida como “inócua, segura,
                                                                                 atóxica e inofensiva” condenou 10 a
                                                                                 15 mil crianças, conhecidas como
                                                                                 “os bebês da talidomida”, a graves
                                                                                 problemas, desde o nascimento.

                                                                                 abril 2010                                43
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