Page 30 - Por Sinal 40
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 Mas não existe “muita plantação“? Toda época                        A outra coisa é a seguinte: a liberdade de imprensa não
eleitoral aparece um dossiê bombástico para derrubar              existe por força de lei, mas pela diversidade de veículos. E a
alguém.                                                           internet veio fazer a liberdade, essa é a questão.
Não é de hoje, tem há muito tempo. Vocês estão lembrados
da história do “mar de lama” de Getúlio? Cadê o “mar de            Não é estranho que não se tenha no Brasil veículos
lama” de Getúlio? Que história é essa? Plantação?                 com posições e visões diferentes? Isso não seria o
                                                                  razoável em qualquer processo democrático. Por que
 E o “mar de lama” do Lula, explorado agora pela                 não existe?
imprensa?                                                         Porque somos estranhos. Nós temos 30 partidos. Acho que
Do Lula, que história é essa? Eu acho que tudo isso passou        isso tem a ver com o poder econômico e o poder político.
por Tiradentes. E não é só no Brasil, não. Eu acho que isso       Na Itália, por exemplo, você vê o jornal do Partido Comunista.
aí é uma lamentável característica da má política. Você tem       A França chegou a dois extremos: ter a grande liberdade
pouco apreço pela verdade, você tem pessoas remuneradas           de expressão, de manifestação, e o anunciante exigindo a
para plantar coisas. Na internet, então, é uma brutalidade.       demissão do editor. Isso tem quatro, cinco anos, é recente.
Mas é melhor isso, o regime de liberdade, do que qualquer
espécie de restrição.                                              Para fechar, uma questão tão cara ao senhor: o
                                                                  papel do Estado. Como estamos em relação a isso? A
 Quando o senhor defende o controle externo do                   ideia do Estado Mínimo está enfraquecida ?
Legislativo e do Executivo, abre essa discussão para              Você vê que nas recentes crises o que salvou a situação foi
o caso da imprensa?                                               o Estado. Nos Estados Unidos e na Europa. Nós aqui nos
Existe uma previsão constitucional do Conselho de Comuni-         salvamos dessas crises por alguns defeitos. Por conta da
cação Social. Já existe o Conselho. Agora, se ele é satisfatório  política de juros altos, quando veio a crise, não havia ninguém
ou não, é outra discussão. O Brasil não tem concentração          pendurado em bancos. Então, aqueles vícios acabaram nos
dos meios de comunicação. A lei brasileira permite que um         ajudando nessa hora. E hoje, o que se percebe, e falando
grupo tenha cinco geradoras, no máximo. Nós temos várias          de vocês, do Banco Central, parece que também houve um
redes de televisão. E estamos aqui falando de canais VHF,         distanciamento do chamado mercado. Não que se queira
que agora vão passar a ser UHF com a TV digital. Mas são          contrariar o chamado mercado, mas o que o Banco Central
cinco. Quando você vai para a TV por assinatura, é uma            está demonstrando é que não é dependente do mercado.
diversidade, não há mercado para sustentar. De qualquer
maneira, empresas de televisão já existiram como impérios;         Cabe registrar que o BC, nos últimos anos, tem
por exemplo, a Excelsior, a Tupi, que era do Chateaubriand.       ampliado significativamente a participação de
Muitas fecharam, não eram impérios, como o caso da TV Rio.        funcionários de carreira em sua diretoria, inclusive
Então, existem esses momentos cíclicos na comunicação. É          na sua presidência.
o caso dos jornais no Rio de Janeiro, veja quantos fecharam:      É isso. Quanto existe o Estado profissionalizado, os servido-
Diário Carioca, Diário de Notícia, O Jornal, Última Hora,         res podem fazer muito pelo país. Muito obrigado a vocês e
Jornal do Brasil, Diário da Noite, Jornal dos Sports, Luta        continuem nessa luta feroz.
Democrática — são dez ou 15. Hoje você tem, praticamente,
O Globo, O Dia, O Extra e outros, como o Meia Hora, que
estão começando a cair mais no gosto popular. Não só pelo
preço, é pelo tipo de linguagem que adotam. Essas coisas
vão mudando mesmo.

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