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se trata de um projeto de lei, porém, basta que seja rejeitado ■ Ele ainda não foi? Sim, veio, mas para falar da reestrutu-
apenas em uma delas. Agora estamos tentando conseguir ração da dívida. O governo diz que se pagarmos, se usarmos
que ele seja rejeitado. É possível que quando isso acontecer, as reservas do Banco Central para pagar a dívida às pessoas
o dinheiro já não esteja mais. que têm títulos do default argentino, que se a Argentina pagar
agora, haverá acesso ao crédito internacional, como no Brasil, a
■ Foi quando surgiu a crise... Porque aqui há duas brigas. 6,5%, e não a 12%, como é agora. Para nós, da Coalizão Cívica,
A primeira é que o Congresso está perguntando ao governo esse argumento é falso. Porque a Argentina tinha o mesmo
qual é o destino do dinheiro. O orçamento é sancionado risco-país que o Brasil em 2007. E o risco-país da Argentina,
pelo Congresso Nacional, que autoriza o gasto do Poder que é o que define a taxa de acesso ao crédito, pulou de 200
Executivo, como em todas as democracias. Então, queremos para 800, quando o governo interveio no Instituto Nacional de
saber em que o governo quer gastar esse dinheiro. Não Estatísticas e Censos - Indec (o IBGE argentino) para mascarar
estamos conformes com a resposta, porque isso já está no a inflação. E foi exatamente nesse momento que a Argentina
Orçamento de 2010. voltou a ter um risco-país superior ao
resto das economias emergentes.
■ E o que diz o governo disso? O
governo repete o mesmo argumento, ■ Uma questão de credibilidade, não?
mas não dá explicações. Diz que se Sim. Escrevi um artigo que fala em
pagarmos esse dinheiro, vamos poder ¨Recuperar o crédito e a confiança”.
ter acesso aos mercados internacionais, No ano 2001, tivemos um default. Pa-
esquecendo que na realidade o dinheiro ramos de pagar. Nós queremos honrar
já está no orçamento. Mas este é um nossas dívidas. A dívida foi renego-
governo que quer que discutamos ciada em 2005, o risco-país baixou,
agora a independência ou não do Banco ou seja, começamos a ter acesso ao
Central, que entremos numa discussão crédito internacional a taxas iguais às
ideológica na qual todos vamos brigar, dos outros países. Mas quando, um
enquanto eles gastam o dinheiro. É um Em novembro ano depois, começou a inflação, o go-
tipo de estratégia muito bem-sucedida tínhamos verno fez isso e novamente disparou
que este governo usa para operar. Como a desconfiança na Argentina. Hoje,
existe um contexto, como já disse, em votado o orçamento o mercado internacional desconfia
que a arrecadação aumenta 3,5% men- 2010 e nele já estava da Argentina, não pelos detentores
salmente, mas o gasto aumenta 17%, debônus, que representam um per-
vemos que o que está acontecendo é previsto o gasto para o centual muito pequeno de dívida que
que o governo tem gastado mais do que pagamento da dívida não foi paga, mas pela manipulação
foi aprovado no orçamento, e esse é o das estatísticas. Somos um país que
motivo pelo qual faz tudo isso. Nós so- externa. O decreto mente a respeito das suas estatísticas
licitamos ao ministro de Economia que de Necessidade e nacionais. Não podemos falar de uma
venha ao Congresso explicar por que política de combate à inflação porque
em apenas quatro meses há um déficit, Urgência não era nós dizemos que é 30% e o governo
há necessidades fiscais que não foram necessário.” diz que é 6%. Nós dizemos que a
previstas. E essa é uma discussão que pobreza é 30% e o governo diz que é
também não conseguimos ter com ele. 12%. O que se vê é que cada vez mais
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