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Na opinião do presidente da            porque não posso gastar mais.”           e com vários agentes econômicos que
Fenafisco, a Reforma Tributária Solidária        Com a progressividade, Alcântara    poderão apoiar a iniciativa nas suas bases
deveria anteceder a qualquer outra que                                               estaduais, entre eles o Conselho Nacional
um novo governo pretenda fazer, inclu-      argumenta que ganharia todo o sistema    de Secretários de Fazenda (Consefaz).
sive a da Previdência. “Com base nela, vou  produtivo brasileiro. “Um modelo tribu-  A Fenafisco também conta com fiscais
saber o tamanho do Estado, qual pacto       tário moderno e desenvolvido melhora o   associados das três instâncias de poder
vamos precisar fazer. Hoje, com a PEC dos   ambiente de negócios e permite aliviar   atuando em estados e municípios para
Gastos, se a Receita Federal se esmerar ao  o orçamento da maioria da população,     avançar nas articulações políticas a favor
máximo, conseguir ser mais efetiva para     para que volte a consumir.”              do projeto.
arrecadar mais, não vai adiantar nada,
                                                 A proposta da Reforma Tributária
                                            Solidária já foi debatida no Congresso

OS 10 MANDAMENTOS DA OXFAM

A reforma tributária é o segundo ponto das “Dez Ações      tecnologia, educação pública de qualidade, os meios pelos
Urgentes Contra as Desigualdades no Brasil”, propostas     quais uma nação acaba se desenvolvendo. E para que
para o novo governo pela Oxfam — confederação inter-       o desenvolvimento não seja apropriado por um grupo
nacional que reúne 20 organizações e mais de três mil      pequeno, como acontece no Brasil e em outros países
parceiros, em 90 países, na busca de soluções para o       latino-americanos.”
problema da pobreza, desigualdade e da injustiça, por
meio de campanhas, programas de desenvolvimento e                  Em 2015, diz o documento-síntese da Reforma
ações emergenciais. Para Rafael Georges, coordenador       Tributária Solidária, os 10% mais ricos da população se
de campanhas da Oxfam Brasil, é necessário rever o de-     apropriavam de 55,3% da renda nacional e a participação
sequilíbrio atual, que faz com que os pobres arquem com    da renda dos 50% mais pobres era de apenas 12,3%. “Um
maior peso — 32% da carga tributária —, contra 21% sobre   projeto de reforma tributária para o desenvolvimento deve
os mais ricos, de acordo com dados de 2015 do Instituto    levar em conta que, nos últimos 60 anos, o Brasil nunca
de Estudos Socioeconômicos (Inesc).                        contou com políticas nacionais de habitação popular, sa-
                                                           neamento básico e mobilidade urbana que fossem porta-
        “Em todos os países com níveis de desigualdade     doras de recursos financeiros e institucionais compatíveis
baixos, a progressividade da tributação é alta, como no    com os problemas estruturais agravados desde meados
caso das grandes economias desenvolvidas da Europa e       do século passado em função da acelerada urbaniza-
América do Norte. Ela funciona para financiar o Estado de  ção”, escrevem os autores. “Esse cenário sugere que, para
maneira sustentável e fazer os investimentos em saúde,     que se enfrentem as múltiplas faces das desigualdades

                                                                                                sociais brasileiras, é neces-
                                                                                                sário que a reforma do sis-
                                                                                                tema tributário nacional seja
                                                                                                pensada na perspectiva do
                                                                                                desenvolvimento nacional,
                                                                                                espelhando-se na experiên-
                                                                                                cia dos países capitalistas
                                                                                                desenvolvidos que são rela-
                                                                                                tivamente menos desiguais
                                                                                                que o Brasil.”

                                                                                     NOVEMBRO 2018                             27
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