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to eleitoral. E, portanto, propõe-se a        “Discussão de reforma política que não tenha como centro a
adoção do financiamento público ex-

clusivo de campanha eleitoral. Essa é            representação não é discussão de reforma política.
a equação. O que eles querem? Eles            É outra coisa. A discussão do financiamento é sucedânea.
adotaram, o que também é notável
nesse ponto, essa estratégia que, aos            O problema do sistema eleitoral brasileiro é que a

poucos, foi tomando todo mundo, in-                 representação popular é subfavorecida.”
ventada pelo Roberto Jefferson desde

o primeiro instante. “Eu não fiz nada de

errado, o que eu fiz fui forçado pela regras de financiamento feitas de forma muito incompetente. Não estão indo atrás

eleitoral.” Lula foi à televisão como militante do partido polí- das empresas que poderiam ter sido beneficiadas na Pe-

tico, e não como presidente da República, para dizer que se trobras, em todas as estatais, nas 130, bem como na ad-

cometeram erros, deslizes. Coisa nenhuma, cometeram-se ministração direta.

crimes. Esse é o processo que eu chamo de lava-gente. O

sujeito entra de um lado, todo emporcalhado, e sai do ou- ■ Do ponto de vista de algumas saídas dessa crise, a

tro, todo limpinho. E dizem que tudo é culpa das regras de reforma política é urgente?

financiamento, como se regra de financiamento tivesse al-     Acho que a reforma política não pode ser discutida no

guma coisa a ver com direcionamento de licitação pública, âmbito de uma crise como essa. Ela tem de ser discutida

com leniência na fiscalização de contratos, com promulga- em 2007.

ção de legislação que favorece setores econômicos, com

inadimplência de agências reguladoras.                        ■ E ela tem de estar centrada em que pontos?

                                                              Para mim, o centro é o problema da representação.

■ Mas as regras atuais não estimulam o caixa dois?            Porque discussão de reforma política que não tenha como

    Os argumentos em favor do tal financiamento público ex- centro a representação não é discussão de reforma políti-

clusivo de campanha são absurdos. Vamos proibir o caixa um ca. É outra coisa.

e assim acabaremos com o caixa dois! Como exatamente?

Proíbindo-se o caixa um, o que vai acontecer é que este vai ■ A questão do financiamento público também não é

se transformar em caixa dois. É a solução Roberto Jefferson relevante?

às avessas. Jefferson propunha a cessação da obrigatorieda-   A discussão do financiamento é sucedânea. O proble-

de de declaração de doação para campanhas eleitorais. Não ma do sistema eleitoral brasileiro é que a representação

seria mais necessário declarar. Ou seja, o caixa dois viraria cai- popular é subfavorecida. Existem maneiras de se compen-

xa um. Agora querem transformar o caixa um em caixa dois. sar essa distorção pelo financiamento. Por exemplo, dar

Tudo isso é muito ilusório, porque não existe a possibilidade mais dinheiro para quem recebe de doador individual. Todo

de não haver financiamento privado. Num país capitalista, o mundo que receber doações individuais de até R$ 50 rece-

interesse privado sempre vai se manifestar nas eleições. Se beria do Estado outro tanto. Essa exata fórmula é aplicada

não for pelo caixa um, será pelo caixa dois.                  em alguns países.

    Por outro lado, é sempre necessário recordar que dinhei-

ro de caixa dois é dinheiro roubado de algum canto. Não ■ Que lições essa crise nos deixa?

tem nenhuma plausibilidade essa história de empréstimo,       Eu diria que se deveria promulgar a legislação para re-

isso é brincadeira. Mas por que não se consegue derrubar duzir drasticamente o número de cargos de confiança que

essa história absurda? Porque as investigações estão sendo o Executivo pode nomear. Não só o Executivo, como tam-

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