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obrigatoriedade do cumprimento do orçamento. A Lei de assinaram. Era um compromisso não para o candidato di-

Diretrizes Orçamentárias para 2006 incluía um dispositivo zer que seria honesto, mas que faria tais e tais coisas. O

proibindo o Executivo de contingenciar emendas parlamen- pessoal que fez o programa do PT pegou a lista e colo-

tares, mas o presidente vetou. Por quê? Outra vez falamos cou-a no programa. Isso é apenas marketing, não quer di-

de moeda de troca, de “mensalão”. Só que este é oficial. O zer nada. Os partidos não têm noção disso, e o PT muito

governo chega e diz: “Se você votar comigo, eu solto a grani- menos. Há muita ignorância a respeito de como funciona

nha lá.” O mesmo tipo de chantagem aconteceu na eleição o Estado. E incompetência. E não é uma crítica que cabe

do Aldo, e eu só menciono porque é um episódio recente. apenas ao PT, ao Lula. Cabe à maior parte dos políticos

Mas acontece em todas as esferas. A não-obrigatoriedade e aos agentes públicos brasileiros. Todos têm dificuldade

do cumprimento do orçamento corrompe o sistema políti- de entender o Estado como um organismo que precisa

co, as relações políticas, fora os enormes prejuízos econô- ser estruturado adequadamente.

micos que traz. Porque o Estado precisa ter planejamento  Mas essa não é uma declaração que vale para 100%

de longo prazo, seus programas são de longa maturação dos casos. As áreas financeiras, das quais, naturalmente, faz

e precisam de continuidade. E o Estado brasileiro funcio- parte o Banco Central, são as mais competentes, em ge-

na sem planejamento, todo mundo diz que o orçamento é ral, tanto no âmbito federal quanto no estadual. São áreas

uma peça de ficção. E é mesmo. Como é que o país pode com mais formação e melhores mecanismos de carreira.

ter alguma espécie de gestão decente se o orçamento não A questão é que, como a corrupção não é vista como um

é obrigatório? Essa é uma causa clara de corrupção.       problema estratégico, que pode ser atacada por meio de

                                                          programas, ela não é combatida.

■ Em todas as campanhas, os candidatos, seja a gover-

nos federal, estadual ou municipal, pregam a necessi- ■ E como tem de ser feito esse combate?

dade de se ter mecanismos mais eficientes de combate      Falemos das leis, por exemplo. A parte da gestão admi-

à corrupção. Por que nada acontece?                       nistrativa é muito mais difícil de atacar. Porque mesmo na

Não, isso não é verdade. Jamais um candidato chegou menor das prefeituras, a de uma cidade de 3 mil habitantes,

a esse ponto. Eu desafio vocês a me mostrarem quem é por exemplo, existem as secretarias, os conselhos, os milhões

que tenha dito isso.                                      de diferentes serviços e obrigações que ela tem de cumprir.

                                                          Cada um deles com seus trâmites burocráticos, seus proces-

■ Em sua campanha à Presidência da República, o PT não sos decisórios, seus mecanismos de controle virtuais ou reais.

prometeu isso? Não estava escrito no programa?            E em cada um deles há a possibilidade de desperdício por

Não. Nem o PT nem qualquer outro partido. O que corrupção, embora essa possibilidade se apresente de forma

aconteceu foi que nas eleições de 2002 a Transparência diferente. Isso significa que para se combater a corrupção, é

Brasil fez uma lista de medidas concretas para combater preciso fazer, em cada ente público, o que nós chamamos

a corrupção e apresentou-a aos candidatos. Lula e Serra de levantamento do mapa de riscos. E isso só pode ser feito

                                                              pelo próprio ente público. Imagine se

“Por que acontecem os escândalos dos Correios, das estatais,  formos falar da estrutura do governo
 do mensalão? Porque o Executivo tem o poder de nomear        federal – são dezenas de milhões de
                                                              diferentes processos! E o que se deve

uma montanha de gente. Não é só o Executivo federal,          fazer? Tratar as coisas racionalmente
     e nem foi o governo Lula que inventou isso.”             e eleger prioridades. E ter programas
                                                              de levantamento das vulnerabilidades

                                                              presentes nas estruturas. Aplica-se o

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