Page 21 - PorSinal 15
P. 21
Desde junho, quando o país
mergulhou em uma de suas mais
sérias crises políticas, o diretor
executivo da Transparência
Brasil, organização dedicada
exclusivamente ao combate à
corrupção, tem escrito artigos e
dado entrevistas combatendo as
visões que reduzem a discussão
a um problema de natureza mo-
ral e cultural. Para Claudio We-
ber Abramo,“a corrupção não é
nada mais do que uma dimensão
da ineficiência administrativa”.
Em conversa com a Por Sinal,
ele mostrou-se desanimado
com os rumos do debate atual e
questionou, entre outras coisas,
o financiamento público exclu-
sivo de campanha. “Com essa
proposta, querem transformar
o caixa um em caixa dois”.
ineficiência administrativa. Ela não tem nenhuma outra ção, que existe entre índices de percepção de corrupção
espécie de característica distintiva. e algum outro indicador é com a renda per capita. Países
pobres são afetados por mais percepção de corrupção
■ À primeira vista, percebemos que em alguns países a do que países ricos. Por quê? Porque os países ricos têm
corrupção é maior. Isso é apenas uma percepção, ou de muito mais recursos para aperfeiçoar o Estado, o que não
fato há países mais corruptos que outros? E por quê? acontece com os países pobres. Não estou falando de ta-
manho, mas sim de aperfeiçoamento profissional e es-
A corrupção é um fenômeno característico dos países trutural do Estado. Esse ponto de vista nos dá o norte de
com renda per capita baixa. A única correlação que existe como se deve agir para combater a corrupção.
é essa. É impossível medir a corrupão, porque o ato é se-
creto. A maior parte dos atos corruptos passa despercebi- ■ O que explicaria que entre países da Europa, vamos
da. O que se faz é tentar avaliar a partir de opiniões. É um dizer, com rendas parecidas, a percepção da corrupção
negócio muito inseguro. Mesmo com essa insegurança, seja diferente? Caso da Itália e da França, por exemplo.
a única correlação, no sentido técnico da palavra correla-
novembro 2005 21