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A Itália, não a França, é o mais po-

bre dos países do primeiro mundo. É              “Nossa sociedade é uma sociedade católica, em

um país extremamente rico, mas é mui-            que as pessoas ouviram ‘não roubarás’ a vida inteira.
to mais pobre do que a Alemanha e a                Isso adiantou alguma coisa? Não adiantou nada.”
França. É por esse motivo. Mas é claro

que existem estruturas que se perpetu-

am no poder e na ocupação do Estado,

e aí se criam dinâmicas internas de proteção, que não têm Isso é um total absurdo! O Tony Blair nomeia 120 pessoas,

nada a ver com os recursos, que promovem a impunidade. enquanto o prefeito de São Paulo nomeia 3 mil e o depu-

No final das contas, porém, trata-se de uma questão econô- tado federal, 20. São todos cabos eleitorais. Por que nós

mica. A Itália tem um problema sério, que é a disparidade temos de pagar essa gente?

entre o Norte e o Sul. O Norte é uma região bem mais rica.

A corrupção da máfia que a gente lê, está no Sul. No Norte, ■ Mas esses cargos não são uma moeda de troca im-

há grande corrupção, tem Berlusconi. Como é que ele che- portante para compor a base de apoio do Executivo

gou ao poder? Pelo controle de meios de comunicação. E no Congresso?

não é diferente, na sua natureza, da corrupção da Alemanha.  São moeda de troca, sim. O que o Executivo faz? Usa

Um país corrupto, com obras públicas por todos os lados. esse poder de nomear. Diz ao Roberto Jefferson: “O senhor

Caso se examinem as regras de licitação na Alemanha, elas me apóia no Parlamento?” “Sim, meu partido apóia, claro.”

são feitas para direcionar a licitação. Há corrupção em obras “E o que o senhor quer em troca?” “Eu quero uma dessas

públicas o tempo todo, e sai tudo na imprensa. Mas o país diretorias que furam poço”, no dizer de Severino Cavalcanti.

é rico e o desperdício com a corrupção não é tão importan- Por que os partidos querem diretorias que fazem negócios?

te. Outro exemplo é a China, país também visto como mui- É fácil de imaginar, como ficou demonstrado na Petrobras,

to corrupto. Mas ouve-se falar de corrupção na China? Não, nos Correios. Funciona desse jeito em qualquer uma das

porque o país cresce 11% ao ano. Esse é o problema. Se o 130 estatais federais, e não sei quantas outras tantas esta-

Brasil cresce, se a economia cresce e se existe distribuição duais, e outras tantas autarquias municipais que existem no

de renda, a visibilidade da corrupção se reduz.              país. E isso é, obviamente, uma porta aberta para a corrup-

                                                             ção, porque a contrapartida é a leniência da fiscalização. Se

■ Quais seriam, então, as principais ações para se com- o Executivo fiscalizar o que o cara está fazendo lá, ele vai

bater a corrupção no Brasil?                                 perder o apoio, como aconteceu com Roberto Jefferson. É

    Identificar nos fenômenos as causas institucionais e o que acontece nas cidades brasileiras. Divide-se a cidade

administrativas. E tomar as medidas compensatórias para e a loteia entre os vereadores. Qual é o remédio? É fácil e

corrigi-las. Vou tomar o exemplo do “mensalão”. Por que simples: proíbe-se a nomeação.

acontecem os escândalos dos Correios, das estatais, do

“mensalão”? Porque o Executivo tem o poder de nomear ■ Mas quem nomeia tem interesse em nomear. Há essa

uma montanha de gente. Não é só o Executivo federal, e cumplicidade entre o Executivo e o Legislativo...

nem foi o governo Lula que inventou isso. Mas quem tem o     Essa é uma questão política importante. O chefe do Exe-

dinheiro é o Executivo e por isso o problema é muito mais cutivo acha que tem esse poder, que isso é benéfico a ele.

sério nessa esfera. O presidente da República do Brasil no- Porque pode, então, manipular. Só que esse é um cálculo

meia entre 22 mil e 25 mil pessoas. Não se sabe exata- parcial, pois quem nomeia fica escravizado ao nomeado.

mente quantos cargos são, há uma porção de números ro- A eleição do Aldo Rebelo também mostrou uma outra vul-

dando por aí, mas vou ficar com o número menor, 22 mil. nerabilidade gravíssima nas instituições brasileiras: a não-

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