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ENTREVISTA/CLAUDIO WEBER ABRAMO “O melhor inseticida
contra a corrupção
é a informação”
■ Você poderia apresentar a Transparência Brasil aos ■ A rigor, todo mundo é contra a corrupção. Por que,
leitores da Por Sinal? então, é tão difícil combatê-la?
A Transparência Brasil é uma organização que se dedi- O que nós da Transparência Brasil fazemos é olhar
ca exclusivamente ao combate à corrupção no país. Não de outro lado. É uma proposição trivial, porque o ato de
recebemos denúncias, nem fazemos investigações. Não corrupção exige que haja pessoas desonestas. Isso é evi-
é para isso que existimos. Nós temos algumas linhas de dente. Se alguém mete a mão, ou direciona uma licitação
atuação: fazemos levantamentos a respeito do fenôme- pública e leva propina por causa disso, é uma pessoa de-
no da corrupção, produzimos utilitários para propiciar sonesta. E o que se ganhou com essa constatação para
um acompanhamento do Estado por parte de interes- compreender melhor o fenômeno da corrupção? Não se
sados diversos. E, evidentemente, interferimos na con- ganhou absolutamente nada. Temos de olhar a corrupção
juntura. Nesse ambiente de “mensalão” – é óbvio que sob o ponto de vista das circunstâncias que a propiciam.
esse assunto nos atropelou bastante –, estamos inter- Um indivíduo consegue direcionar uma licitação pública
ferindo também na discussão sobre a reforma política. para uma empresa contra o pagamento de propina porque
Nossas atividades têm uma característica que nos dis- os mecanismos de licitação e de controle do processo de
tingue da maior parte das organizações que existem no licitação são falhos. Nenhum mecanismo administrativo
Brasil, e mesmo no mundo. A corrupção é quase sempre pode sobreviver se não existir mecanismos de acompa-
vista como um problema moral, como algo que nasce nhamento e controle adequados.
do fato de existirem pessoas más. Esse diagnóstico leva
muita gente a afirmar, por exemplo, que a corrupção é ■ E isso tanto na gestão pública como na gestão pri-
um problema cultural. E estimula declarações de que vada, não?
ela se combate com educação, com aulas de não sei o
quê nas escolas. Nas gestões pública e privada, na nossa vida pessoal,
em casa, no escritório, onde for. O combate à corrupção,
■ E isso não é verdade? portanto, se faz identificando-se as circunstâncias que
Nossa sociedade é uma sociedade católica, em que propiciam os atos de corrupção. E essas circunstâncias
são de três tipos. O primeiro, as falhas institucionais, as
as pessoas ouviram “não roubarás” a vida inteira. Isso leis, os regulamentos. O segundo, a não-aplicação dos
adiantou alguma coisa? Não adiantou nada. Nenhum regulamentos. Se as leis não são aplicadas, esse é um
político jamais se apresentou ao eleitorado dizendo que problema administrativo. O segundo, na verdade, é uma
é desonesto e que não liga para a corrupção. Dizer que subcategoria importante do terceiro, que são as falhas
se é contra a corrupção não é nada mais que um discur- de deficiência na gestão administrativa, de maneira geral.
so demagógico. Corrupção não é nada mais do que uma dimensão de
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