Page 17 - PorSinal 15
P. 17

Servidores do BC: missão cumprida

Falta de recursos para executar uma fiscalização eficiente e até ameaças de morte rondam a
rotina dos que teimam em não deixar o Banco Central cair na vala comum da inoperância no
combate à corrupção. Os exemplos são muitos, e revelam que há resistência na trincheira.

    A dois anos de se aposentar, o auditor Abrahão Patru-      vidência Social ajudou a botar atrás das grades a primeira
ni Júnior se vale de uma pertinácia incomum numa com-          grande leva de criminosos de colarinho branco. Até hoje a
pleição nada robusta para tentar desvendar para a CPI dos      advogada Jorgina Maria de Freitas Fernandes, condenada por
Correios os tortuosos caminhos percorridos pelo Valerio-       comandar uma quadrilha que desviou, nos anos 80, mais
duto. Tem quase 30 anos de Banco Central e uma folha           de R$ 300 milhões dos cofres da Previdência, é um exem-
de serviços que o torna uma lenda viva para os colegas.        plo sempre na ponta da língua dos que gostam de mostrar
Há anos não sabe o que é conviver com os quatro filhos         que nem só de impunidade se faz o Brasil.
sem buscar brechas nas missões quase impossíveis que
lhe são confiadas e voltar para casa, em Curitiba, quase           A CPI do Banestado também deixou, com a ajuda de
sempre de passagem. Também não fala com estranhos,             técnicos do Banco Central, material suficiente para ações
só conversa no celular quase que por metáforas, já en-         que não foram arquivadas com o relatório. A Polícia Fe-
frentou a ameaça de um processo administrativo e ou-           deral acaba de instaurar 3.500 inquéritos para apurar a
tras tantas de morte.                                          remessa ilegal de quase US$ 1 bilhão ao exterior, entre
                                                               1999 e 2002. No meio de investigados não estão apenas
    Patruni foi o relator do Caso Banpará. Trata-se de um      políticos, como o repetitivo Paulo Maluf, mas também a
desses episódios que fazem parte da crise política crônica     apresentadora Xuxa Meneghel, o jogador Romário e o ban-
da história republicana brasileira (ver Por Sinal 1, de junho  queiro Daniel Dantas.
de 2001). Misture-se ao escândalo do mensalão, à compra
de votos para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso,            Sem falar na Centrus, que escapou de comprar papéis
às contas no exterior de Paulo Maluf e ao Caso PC Farias e     podres recomendados pela então ministra Zélia Cardoso
se terá o prato feito posto à mesa do país por políticos tão   de Mello, alertada por funcionários do BC.
variados na aparência quanto comuns na essência.

    Cerca de R$ 10 milhões de rendimentos de correntistas
do Banco do Estado do Pará foram desviados dos cofres
públicos, em 1984, e aplicados em contas do senador Ja-
der Barbalho e de parentes dele na agência Jardim Botânico
do Banco Itaú, no Rio de Janeiro. Patruni desvendou tudo,
mas foi perseguido pela ex-diretora Teresa Grossi, conde-
nada, em 1a instância, no Caso Marka-FonteCindam, por
supostamente ter vazado as informações que a direção do
Banco Central preferia manter sob sigilo.

    Patruni atuou ainda na CPI dos Precatórios. Na da Pre-

                                                               novembro 2005  17
   12   13   14   15   16   17   18   19   20   21   22