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do trabalho, hoje ainda pouco praticado, quando altera, de Nesse contexto, é imperativo resgatar o paradigma
forma positiva, as condições, a organização e as relações so- da participação efetiva dos trabalhadores na vida das
cioprofissionais de trabalho. É a QVT preventiva, que busca o organizações. A participação não pode e não deve ser
casamento entre produtividade e bem-estar, que se expressa estratégia de sedução para a melhoria de performances
por verbalizações do tipo: “Hoje trabalhei bastante. Estou me e, consequentemente, aumento da produtividade. Ela
sentindo cansado, mas feliz.” Nesse enfoque, a necessidade precisa ser um valor que permeia a cultura organizacio-
de atividades do tipo antiestresse, típicas da QVT paliativa, nal e estrutura práticas de trabalho e gerenciais. Ela é
tende a ser residual e assume um caráter secundário em um efetiva quando de fato distribui o poder e cada trabalha-
Programa de Qualidade de Vida no Trabalho (PQVT). dor pode opinar, planejar, executar, avaliar e replanejar
as tarefas, os objetivos organizacionais. Dois ingredientes
Implantar um PQVT de feição preventiva requer planejar são inerentes ao pressuposto da participação como
ações em diferentes campos. Uma nascente abordagem, requisito de QVT preventiva: autonomia responsável e
a Ergonomia da Qualidade de Vida no Trabalho, com base liberdade de criação.
em estudos e intervenções nas organizações, tem indicado
duas dimensões estratégicas. A primeira situa-se na esfera Aprimorar, na direção da melhoria efetiva da QVT de
da transformação positiva da cultura organizacional, ou quem trabalha, revela-se, assim, não apenas uma nova
seja, é primordial uma reciclagem de valores e crenças, moda, mas também um novo modo de gestão do trabalho.
hoje centrados quase que exclusivamente na produtivi- Suprimir ou, ao menos, diminuir a distância presentemente
dade e no desempenho dos trabalhadores. Nesse caso, existente entre tais nova moda e novo modo deve ser um
a comunicação organizacional tem papel de destaque. A compromisso das instituições socialmente responsáveis,
segunda dimensão diz respeito às mudanças nas condi- de todos aqueles que, dia após dia, nelas trabalham.
ções (ex.: posto de trabalho), na organização (ex.: regras,
rotinas, procedimentos) e nas relações socioprofissionais *Servidor público (BCB), pesquisador (UnB), pós-doutor em Ciências Humanas
de trabalho (ex.: interações hierárquicas). (PUC–Rio) – jose.leite@bcb.gov.br e jose.v.leite@hotmail.com
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