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BANCO CENTRAL
Ligações perigosas
Nove entre dez presidentes do Banco Central voltaram economista Francisco Lopes. Ele e outros funcionários do
para onde estavam antes de dirigir a instituição. Sem uma Banco Central foram condenados pela Justiça em segunda
legislação rígida para orientar o destino de quem conheceu instância. O crime: enquanto ocupou o cargo de presidente
na intimidade números estratégicos do país, muitos pularam substituto do BC, Lopes teria autorizado um socorro aos
direto da presidência do BC para o mercado financeiro ou bancos Marka e FonteCindam durante a maxidesvaloriza-
para a iniciativa privada – mesmo que a prudência reco- ção do real, em 1999. A operação teria dado prejuízo de
mendasse um tempo. US$ 1,5 bilhão aos cofres públicos. O banqueiro Salvatore
Cacciola, dono do Marka, acabou preso em Mônaco depois
Poucos tiveram o bom senso de se impor uma quaren- de fugir do país. Após um longo período longe de tudo e
tena. Gustavo Loyola, que presidiu o Banco nos governos de todos, Chico Lopes retomou suas atividades à frente da
Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, ficou seis Macrométrica, empresa de consultoria econômica.
meses longe do mercado ao deixar o cargo. Hoje, é sócio-
diretor da Tendências Consultoria Integrada. Já o carioca A trajetória percorrida por ex-dirigentes do Banco Central
Gustavo Franco, que se limitou a dar aulas na universidade revela exemplos para todos os gostos. Alguns presidentes
por quase todo o ano de 1999, fundou, em 2000, a Rio da instituição nem ficaram tempo suficiente no cargo para
Bravo Investimentos, empresa de serviços financeiros, fu- estabelecer alguma marca administrativa ou despertar qual-
sões, aquisições e investimentos. quer dúvida. É o caso do hoje consultor Carlos Brandão, que
presidiu o BC por apenas cinco meses, de 15 de março a 17
O paulista Pérsio Arida, um dos pais do Plano Real, de agosto de 1979, durante o governo João Figueiredo. Ou
também cumpriu quarentena por seis meses. Mas ainda de Antonio Carlos Lemgruber, que ficou apenas uma semana
estava no cargo quando se tornou alvo de suspeitas de a mais, em 1985. Lemgruber se tornaria um dos maiores
ter vazado informações privilegiadas ao banqueiro Fernão criadores de cavalos do país. E, também, foi condenado pela
Bracher, que também fora presidente do Banco Central. Em Justiça americana, em 2008, pelo desvio de dinheiro do
plena crise financeira no México, a política cambial do BC Banco Liberal, comprado em 2001 pelo Bank of America.
teria favorecido o BBA, banco criado pelos dois m sociedade
com Antônio Beltran Martinez. Arida acabaria renunciando. O carioca Paulo César Ximenes Alves Ferreira foi denun-
De volta à iniciativa privada, associou-se a Daniel Dantas no ciado, em 2002, pelo procurador da República Luiz Francisco
Banco Opportunity. Hoje, mora em Londres, onde dirige a de Souza numa ação de improbidade administrativa na
companhia de investimentos TBG. O BBA, de Bracher, foi Justiça Federal. Com uma longa carreira no Tesouro Nacio-
vendido depois ao Itaú. nal e no Ministério da Fazenda, Ximenes ficou apenas seis
meses à frente do Banco Central – de 26 de março a 9 de
Antes dele, em 1989, Elmo Camões teria beneficiado, setembro de 1993.
com informações privilegiadas, o filho, Elminho Camões, da
corretora Capitânea, envolvida no mesmo tipo de golpe em A lista dos que tiveram passagem meteórica inclui
que o megainvestidor Naji Nahas deu um prejuízo de US$ ainda dois interinos: o gaúcho Ary Burguer, que ficou 12
400 milhões à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Elmo dias no cargo, em 1968, e voltou à cátedra de professor
Camões tornou-se o primeiro presidente do Banco Central de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio
afastado do cargo sob suspeita. Grande do Sul, e o carioca Lycio de Faria, que esquentou a
cadeira por cinco dias e hoje se dedica a escrever contos,
Contudo, nenhum caso é tão emblemático quanto o do
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