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à instituição emitente”. Ora, é mais do o maior patamar registrado pela empresa A ausência de
que óbvio que o cliente só vai solicitar desde 2012. fiscalização e
a segunda via do cartão se perdê-lo ou definição de regras
for roubado. Assim, o correntista acaba Mas se cresce o número de inadim- abrangentes elevam
pagando por um serviço que, a rigor, seria plentes, as perdas dos bancos são su- os conflitos entre
gratuito. Outra distorção: o limite de sa- avizadas pelo custo do dinheiro, que banco e consumidores
ques gratuitos, no caixa ou nos terminais embute, logicamente, a probabilidade e intensificam a
de autoatendimento, é de apenas quatro de atraso no pagamento. Além disso, judicialização dos
saques no mês. É pouco, levando-se em há um paradoxo: a alta dos juros tende processos, gerando
conta as filas nos bancos e os limites para a aumentar a inadimplência. Parece um mais custos para
saques nos caixas eletrônicos. cachorro correndo atrás do próprio rabo, a sociedade. O BC
ou seja, aumenta-se o spread em função precisa aprimorar suas
No entendimento de Cátia Uehara, dos inadimplentes ao mesmo tempo em normas e estabelecer
o Banco Central deveria firmar uma par- que o governo aumenta um dos fatores índices oficiais de
ceria com os Procons, para controlar cruciais para elevação da inadimplência. preços para a correção
efetivamente as tarifas bancárias, hoje dos serviços.
o quinto item mais reclamado pelo con- Além disso, a inadimplência não é o
sumidor. “Não basta definir os valores de fator mais importante para a elevação do IONE AMORIM
cada serviço ou pacote de serviços, pois spread. De acordo com o último Relatório
as instituições modificam os nomes dos de Economia Bancária e Crédito, publi- ECONOMISTA DO IDEC
mesmos para alterar seus valores”, afir- cado em 2014 pelo BC, o spread bancário
ma a coordenadora da Rede Bancários no ano anterior foi impactado por quatro TRIBUTAR OS LUCROS É
do Dieese. itens. Pela ordem: margem líquida de lucro SOLUÇÃO?
(38,8%), inadimplência (28,5%), impostos
Ione Amorim concorda: “A ausência diretos (25,9%) e compulsório (6,8%). Muita gente boa, como o festejado eco-
de fiscalização e definição de regras mais nomista francês Thomas Piketty, entende
abrangentes elevam os conflitos entre Para o Dieese, a participação da mar- que a política de juros altos faz com que
bancos e consumidores e intensificam gem líquida de lucro é o item em que há a maioria da população pague impostos
a judicialização dos processos, gerando mais margem para redução do spread. só para manter a lucratividade do siste-
mais custos para a sociedade.” Ela acredita No que diz respeito à inadimplência, ma financeiro. Sendo assim, qual seria
que o BC precisa aprimorar suas normas e cumpre destacar o esforço dos bancos a alternativa para minimizar esta brutal
estabelecer índices oficiais de preços para para aprimorar o gerenciamento de risco. transferência de renda? Aumentar a tribu-
correção dos serviços. “Todos os bancos têm melhorado o nível tação sobre os lucros dos bancos?
de inadimplência por meio da concessão
O FATOR INADIMPLÊNCIA de crédito para linhas de financiamen- Não há uma posição oficial da equipe
to onde a inadimplência é mais baixa, econômica sobre isso. Mas, na esteira das
As instituições financeiras alegam que como crédito consignado e imobiliário, medidas do ajuste fiscal, o Planalto editou
o custo do dinheiro é influenciado pelas evitando as linhas de maior risco, como a MP 675, que eleva de 15% para 20% a
perdas resultantes da inadimplência. Os crédito para aquisição de automóveis alíquota da Contribuição Social sobre
números, neste particular, são expres- e CDC não consignado”, analisa Catia
sivos. Segundo levantamento da Seresa Uehara. Rubens Gandelman, membro
Experian, de 30 de junho deste ano, o do Conselho Editorial da Por Sinal, faz
Brasil tem hoje 56,4 milhões de inadim- avaliação semelhante, mas ressalva que os
plentes — cerca de 40% da População benefícios dessa política de gerenciamen-
Economicamente Ativa (PEA), o equi- to de risco não trouxeram benefícios aos
valente à população da Itália! —, com bons pagadores, que continuam a arcar
dívidas que, somadas, totalizam R$ 243 com elevados spreads. “Os bancos têm
bilhões. No acumulado do ano até julho, plenas condições de diferenciar o bom
na comparação com o mesmo período do mau pagador. Por isso, os spreads deve-
do ano anterior, o índice subiu 16,8%. É riam ser diferenciados”, sugere.
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