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são inerentes ao próprio aumento da Com o fim da “Os bancos ganhavam no overnight e,
concentração os desafios impostos à sus- hiperinflação, os com o fim do ciclo inflacionário, foram
tentabilidade do segmento dos bancos de bancos ficaram em pegos de calça curta. O resultado foi a que-
pequeno e médio portes. Para superá-los, dificuldades, porque bradeira de mais de 50 bancos entre 1994 e
são necessários esforços não só do setor haviam desaprendido 2004, que, ou foram liquidados pelo Banco
privado, mas também da regulação ban- a atuar como bancos. Central ou incorporados pelos outros.”
cária, no que se refere à melhoria da efi- O Proer foi criado
ciência e à competitividade do sistema. com a justificativa Criado em novembro de 1995, o Proer
de se evitar injetou R$ 16 bilhões de recursos públi-
Aos bancos de menor porte caberia quebradeira. Mas, cos em sete bancos privados que quebra-
cumprir uma agenda: procurar novos em vez de promover ram. Foram eles: Nacional, Econômico,
nichos de atuação em que a especiali- a concentração, o Mercantil, Bamerindus, Banorte, Pontual
zação exerça papel preponderante. Para governo poderia ter e Crefisul. A justificativa do governo era
atender um número maior de clientes, adotado medidas para de que se tratava da única alternativa para
essas instituições devem buscar múltiplos apoiar os pequenos. salvar o sistema financeiro nacional de
canais de relacionamento, ampliar os in- um colapso provocado pelo fim da hipe-
vestimentos em tecnologias e melhorar RICARDO PICCOLI rinflação, que, ao mesmo tempo em que
processos e eficiência operacional não permitia ganhos exorbitantes às insti-
só nos canais diretos, mas também pela ANALISTA DO DESUC/BC tuições financeiras, mascarava grandes
expansão de canais alternativos, como a problemas nessas administrações.
utilização de correspondentes, internet e “Com o fim da hiperinflação, os ban-
mobile banking. cos ficaram em dificuldades, porque ha- Os bancos que não tinham salvação
viam desaprendido a atuar como bancos. entraram em liquidação extrajudicial.
CONCENTRAÇÃO O Proer foi criado com a justificativa de Os que se consideraram elegíveis à recu-
SISTÊMICA se evitar quebradeira. Mas, em vez de pro- peração por terem ativos — como agên-
mover a concentração, o governo poderia cias e clientes — foram vendidos sem
Ricardo Piccoli, analista do Departamento ter adotado medidas para apoiar os peque- dívidas e cobranças judiciais. O maior
de Supervisão de Cooperativas e de nos. O Proer foi uma medida perversa, que deles, o Nacional, teve sua parte boa ven-
Instituições Não Bancárias (Desuc), ob- concentrou e salvou os grandes bancos dida ao Unibanco — por sua vez com-
serva que a oligopolização da economia com recursos públicos”, resume Piccoli. prado pelo Itaú, em 2008. O Bamerindus
brasileira é um problema histórico já de- foi vendido ao HSBC, agora adquirido
nunciado na década de 1950, no âmbito Rubens Gandelman, analista do pelo Bradesco, e o Econômico ao Excel,
da Comissão Econômica para a América Departamento de Supervisão de Bancos posteriormente adquirido pelo Banco
Latina e o Caribe (Cepal). A oligopoli- do Banco Central (Desup), lembra e Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), de-
zação dos setores produtivos ocorre no acrescenta: pois incorporado ao Bradesco, que tam-
setor agrícola desde o Brasil Colônia e é bém arrematara o Pontual.
visivelmente forte na indústria, a partir da
criação das primeiras empresas estatais, Gandelman recorre a dados do
na Era Vargas. Os oligopólios também se Federal Reserve, o banco central ame-
fortaleceram no governo JK, com a aber- ricano, para efeito de comparação: nos
tura ao capital externo, nos governos mi- Estados Unidos, existem 1.784 bancos
litares, com a concentração de renda e a com ativos acima de US$ 300 milhões.
concessão de privilégios aos industriais No Brasil, até junho de 2015, havia ape-
da Federação das Indústrias do Estado nas 135 bancos, sendo que 85 com ativos
de São Paulo (Fiesp), e, também, na onda equivalentes, quando a cotação do dólar
privatista da década de 1990, com FHC. era da ordem de R$ 3,10.
Foi ainda no governo FHC que se acelerou
a concentração no sistema financeiro, sob “Não se abrem novos bancos, e os
o beneplácito do Proer: que chegam saem comprando bancos
menores. Após o Plano Real, só se vê o
sistema bancário minguando e isso não é
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