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saudável para a economia. A regulamen- A regulamentação concentração em diversos setores produ-
tação atual favorece a concentração. Seria atual favorece a tivos, inclusive o bancário. Um sistema
necessária uma flexibilização das exigên- concentração. Seria bancário mais seguro tende a se transfor-
cias de capital mínimo e depósitos com- necessária uma mar num mais concentrado. Mas a conse-
pulsórios, para incentivar o surgimento flexibilização das quência para a economia brasileira é que
de novos bancos e cooperativas de crédito exigências de capital o crédito se torna caro e escasso.
que contribuam para o desenvolvimento mínimo e depósitos
econômico das micro, pequenas e médias compulsórios “A falta de crédito inviabiliza investi-
empresas no país”, defende Gandelman. para incentivar o mentos em instalações, máquinas e equi-
surgimento de novos pamentos e, assim, reduz a produtividade
Piccoli reitera que, desde o Proer, a bancos e cooperativas do trabalhador brasileiro, que, em geral,
sociedade assiste a esse modelo de oligo- de crédito que trabalha com menos instrumentos do que
polização financeira se disseminar bru- contribuam para o o ideal. Menor produtividade do trabalho
talmente, sob o argumento de se evitar desenvolvimento resulta em menores salários, e esse é um
risco sistêmico, num processo em que econômico das micro, aspecto pouco abordado em análises so-
os grandes bancos abocanham os pe- pequenas e médias bre o setor bancário”, afirma.
quenos — que não apresentam nenhum empresas.
risco sistêmico. O modelo continuou O professor acredita que, para redu-
nos anos 2000, com o governo facili- RUBENS GANDELMAN zir a concentração bancária no Brasil e
tando os grandes bancos a assumirem estimular a criação de novos bancos, o ca-
outros. “Assim, os grandes tornam-se ANALISTA DO DESUP/BC minho seria possibilitar que instituições
cada vez mais ameaçadores quanto ao internacionais se estabeleçam no Brasil,
risco sistêmico e ao poder de pressionar cidadão nem da empresa”, resume. simplificar a regulação bancária e facilitar
o governo”, alerta Piccoli. O analista do Banco Central Clovis a criação de financeiras, cooperativas de
crédito e bancos. Para ele, um dos gran-
Segundo ele, hoje a sociedade paga, Barbosa Junior chama a atenção para des obstáculos à expansão de pequenos
de juros, o equivalente a 10,7% do outro aspecto que, segundo ele, explica bancos é a infraestrutura de saques em
Produto Interno Bruto. O lucro dos ban- a origem das crises modernas: “As tesou- terminais fora das agências.
cos cresceu 20% em 2014 e, em 2015, rarias dos bancos aplicam suas reservas
segue mostrando vigor. “A perversidade e a de seus clientes em títulos, mas sua “Ações visando democratizar o
desse modelo é que o governo facilita ao atividade vai mais além. Elas especulam segmento de saque 24 horas seriam
grande absorver o pequeno, em vez de au- no mercado futuro, tirando um adicional bem-vindas”, defende.
xiliar o pequeno a superar a dificuldade. sobre o valor de mercado dos títulos que
Ao final, o sistema financeiro oligopoliza- em geral rende mais que os juros pagos RISCOS CONTROLADOS
do não serve aos interesses da sociedade pelo papel, dado o volume ficticiamente
brasileira, ao contrário, aumenta seu po- negociado”, adverte. Um dos pontos que dificultam a demo-
der de avançar sobre o cidadão, cobrando cratização do sistema financeiro é que a
por quaisquer serviços e spreads, que estão Professor da Escola Brasileira de regulamentação atual permite esse grau
entre os mais altos do mundo”, analisa. Finanças da Fundação Getúlio Vargas de concentração que o Banco Central
(FGV/EPGE), Luis Braido observa que a não enxerga como um problema em
Essa concentração se reflete na eco- economia brasileira é fechada, e isso gera si mesmo. Adalberto Gomes da Rocha,
nomia e na vida dos consumidores ban- chefe de Departamento de Organização
cários. À medida que o setor se concentra, do Sistema Financeiro (Deorf), diz que
a função original do banco, que é ofere- o fato de o Banco do Brasil ser operador
cer crédito para as pessoas e as empresas, do crédito rural e a Caixa Econômica
passa a ser secundária, pois a primeira é Federal a operadora do crédito à habi-
investir em títulos públicos, desviando- tação distorce os números — ainda que
-se da área de crédito para a de tesoura- bancos comerciais sem essas linhas de
ria. “Quem necessita empréstimo não é negócios cativos sejam do mesmo porte
bem tratado, pois o banco não precisa do do BB e da Caixa.
“Essa concentração não significa
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