Page 20 - PorSinal 7
P. 20
parte da rede bancária ou de con- ENTREVISTA/ DEPUTADO WALTER PINHEIRO (PT-BA)
sórcios, especialmente no que diz res-
peito a depósitos de pequenas quan- BC tem que se estruturar para
tias. As pessoas amargam uma fila enfrentar o crime organizado
enorme e ao chegar ao caixa o fun-
cionário indica um caixa eletrônico O senhor tentou barrar a reestruturação de 1999 no Congresso. Conse-
de atendimento rápido, e não aceita guiu apoio ou foi um ato solitário?
o depósito. Na maior parte dos ca-
sos, a pessoa tem de fazer o depósi- Fiz um projeto de decreto legislativo para anular a reestruturação de 1999.
to instantâneo porque um familiar Depois de uma negociação na Câmara, consegui recolher muitas assinaturas de
dela está aguardando o dinheiro on- parlamentares e reabrimos a discussão sobre essa questão na Comissão de Fi-
line em outra localidade para fazer a nanças e Tributação – o Armínio Fraga chegou a participar de alguns debates –,
retirada”, explica Oliveira. mas não conseguimos barrar a reestruturação.
Os custos dos deslocamentos até Qual era a sua crítica na época? Ela ainda se sustenta?
Recife são um grave problema para A crítica que fiz e que continuo fazendo em relação à reestruturação de
muitos clientes, como as cooperati-
vas. “Elas estão gastando o que não 1999 é que ela desestruturou, desmontou a ação do Banco Central em quase
podem para ter sua situação regula- todo o País. O BC não pode ser tratado como uma instituição que cuida exclu-
rizada junto ao Banco Central, pois sivamente da política de juros ou que acompanha e interfere na política cam-
têm de se deslocar necessariamen- bial. Acho um absurdo essa postura exclusivista. Ele é um instrumento decisivo
te até Recife. Os municípios também na estrutura econômica. Assuntos como evasão, sonegação e lavagem de di-
estão sendo onerados com esses nheiro têm de ser enfrentados pelo BC.
deslocamentos, e muitas prefeituras
têm contratado assessorias para tra- O senhor defende um papel mais atuante do BC no combate ao crime
tar das operações de adiantamento organizado?
sobre receitas orçamentárias, mais
conhecidas como operações de ARO”, O fato de você concentrar nas grandes cidades toda a operação do Banco
completa o gerente administrativo. significa facilitar a ação criminosa. O Banco termina fazendo um acompanha-
mento a distância, algo que cheguei a chamar de tele-fiscalização. É inadmis-
DESCENTRALIZAÇÃO sível que o BC possa fiscalizar a fronteira do Acre a partir de Belo Horizonte. É
E AMPLIAÇÃO impossível do ponto de vista físico. E é na fronteira onde as condições são
mais propícias à entrada e saída de dinheiro ilegal, ao processo de lavagem. O
Ex-responsável pela área interna- combate ao crime organizado não pode ser feito se não for fechada uma de
cional da regional de Salvador, o ge- suas torneiras de oxigênio, que é o dinheiro. O crime organizado vive com
rente técnico do Decif, Raimundo dinheiro fácil, e se você atua com um Banco Central no sentido de eliminar
Diniz, observa que as empresas esse canal, impõe dificuldades à sobrevivência do crime organizado.
baianas que lidam com comércio
exterior ou com qualquer tipo de Mas o BC tem estrutura de pessoal para isso?
operação de câmbio sofreram au- Tem, mas ela foi desmontada em 1999. A reestruturação tramou contra o
mentos em seus custos operacionais
por conta da reestruturação de 1999. servidor do BC. Alguns funcionários que trabalhavam em cidades como Salvador e
“Acredito que o retorno desse servi-
20