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parte da rede bancária ou de con-       ENTREVISTA/ DEPUTADO WALTER PINHEIRO (PT-BA)
sórcios, especialmente no que diz res-
peito a depósitos de pequenas quan-     BC tem que se estruturar para
tias. As pessoas amargam uma fila       enfrentar o crime organizado
enorme e ao chegar ao caixa o fun-
cionário indica um caixa eletrônico     O senhor tentou barrar a reestruturação de 1999 no Congresso. Conse-
de atendimento rápido, e não aceita     guiu apoio ou foi um ato solitário?
o depósito. Na maior parte dos ca-
sos, a pessoa tem de fazer o depósi-        Fiz um projeto de decreto legislativo para anular a reestruturação de 1999.
to instantâneo porque um familiar       Depois de uma negociação na Câmara, consegui recolher muitas assinaturas de
dela está aguardando o dinheiro on-     parlamentares e reabrimos a discussão sobre essa questão na Comissão de Fi-
line em outra localidade para fazer a   nanças e Tributação – o Armínio Fraga chegou a participar de alguns debates –,
retirada”, explica Oliveira.            mas não conseguimos barrar a reestruturação.

    Os custos dos deslocamentos até     Qual era a sua crítica na época? Ela ainda se sustenta?
Recife são um grave problema para           A crítica que fiz e que continuo fazendo em relação à reestruturação de
muitos clientes, como as cooperati-
vas. “Elas estão gastando o que não     1999 é que ela desestruturou, desmontou a ação do Banco Central em quase
podem para ter sua situação regula-     todo o País. O BC não pode ser tratado como uma instituição que cuida exclu-
rizada junto ao Banco Central, pois     sivamente da política de juros ou que acompanha e interfere na política cam-
têm de se deslocar necessariamen-       bial. Acho um absurdo essa postura exclusivista. Ele é um instrumento decisivo
te até Recife. Os municípios também     na estrutura econômica. Assuntos como evasão, sonegação e lavagem de di-
estão sendo onerados com esses          nheiro têm de ser enfrentados pelo BC.
deslocamentos, e muitas prefeituras
têm contratado assessorias para tra-    O senhor defende um papel mais atuante do BC no combate ao crime
tar das operações de adiantamento       organizado?
sobre receitas orçamentárias, mais
conhecidas como operações de ARO”,          O fato de você concentrar nas grandes cidades toda a operação do Banco
completa o gerente administrativo.      significa facilitar a ação criminosa. O Banco termina fazendo um acompanha-
                                        mento a distância, algo que cheguei a chamar de tele-fiscalização. É inadmis-
DESCENTRALIZAÇÃO                        sível que o BC possa fiscalizar a fronteira do Acre a partir de Belo Horizonte. É
E AMPLIAÇÃO                             impossível do ponto de vista físico. E é na fronteira onde as condições são
                                        mais propícias à entrada e saída de dinheiro ilegal, ao processo de lavagem. O
    Ex-responsável pela área interna-   combate ao crime organizado não pode ser feito se não for fechada uma de
cional da regional de Salvador, o ge-   suas torneiras de oxigênio, que é o dinheiro. O crime organizado vive com
rente técnico do Decif, Raimundo        dinheiro fácil, e se você atua com um Banco Central no sentido de eliminar
Diniz, observa que as empresas          esse canal, impõe dificuldades à sobrevivência do crime organizado.
baianas que lidam com comércio
exterior ou com qualquer tipo de        Mas o BC tem estrutura de pessoal para isso?
operação de câmbio sofreram au-             Tem, mas ela foi desmontada em 1999. A reestruturação tramou contra o
mentos em seus custos operacionais
por conta da reestruturação de 1999.    servidor do BC. Alguns funcionários que trabalhavam em cidades como Salvador e
“Acredito que o retorno desse servi-

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