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habitacional e R$ 3 bilhões para obras “A simples queda de um a Um patamar considerado razoável
de infra-estrutura. dois pontos na taxa de juros para 2004 seria algo em torno de 7%
pode gerar os R$ 7 milhões – com margem de mais ou menos
A coreografia da reação governista, três pontos percentuais e a busca de
ao desembrulhar os pacotes de inves- adicionais de que precisa uma diminuição gradual da inflação ao
timentos, tem sido menos aplaudida o Bolsa Família. Com isso, longo dos próximos anos. “Isso evitaria
que as gestões do presidente para que sobrecarregar a política de juros e
o Fundo Monetário Internacional flexi- garantimos uma renda diminuiria os seus efeitos adversos
bilize a cartilha de política econômica mínima média, por mês, em termos de produção, emprego e
aplicada aos países da América Latina. de R$ 100. É pedir muito? sobrevalorização cambial. Por outro
Deixar tudo como estava não é saudá- O sonho é bem maior.” lado, reduziria o risco de abalos à
vel para um governo eleito com base credibilidade do regime resultantes de
na promessa de mudanças e críticas CÂNDIDO GRZYBOWSKI sucessivos descumprimentos de me-
aos preceitos neoliberais de Fernando Diretor do Ibase tas ambiciosas”, afirma o economista.
Henrique Cardoso. Economistas e soci-
ólogos são unânimes no diagnóstico: o de preços. Tudo o que restringe a pro- Outra medida seria fixar um ho-
essencial permanece intocável. dução e pressiona os custos estaria na rizonte maior para as metas, de dois
base da inflação. ou três anos, definindo um prazo
NOVAS METAS mais longo e mais condizente com
DE INFLAÇÃO A falta de fôlego da economia tem as incertezas que cercam a política
provocado baixas entre os defensores monetária de qualquer país. Reformar
Uma das mudanças necessárias do regime de metas inflacionárias o Conselho Monetário Nacional (CMN)
seria a flexibilização do regime de metas ortodoxo. A maioria converge para a para tornar a definição das metas mais
da inflação. O sistema é adotado por flexibilização. “O problema principal independente das inclinações do Ban-
economias desenvolvidas, como a pio- do esquema em funcionamento é a co Central, é outra proposta apregoada
neira Nova Zelândia, emergentes, como rigidez”, defende Paulo Nogueira Ba- por Nogueira Batista Júnior. “Uma
o México, e dos recém-convertidos paí- tista Júnior. “Se se pretende manter o possibilidade seria reservar assento no
ses do Leste Europeu, como a República regime sem impedir o crescimento do conselho a outros ministros mais liga-
Tcheca. No Brasil, o regime de metas da País, é preciso definir metas centrais dos ao setor real da economia, como
inflação é aplicado, desde 1999, com menos ambiciosas e intervalos um os de Desenvolvimento, Indústria e
um intervalo de tolerância de dois ou pouco mais amplos de tolerância.” Comércio, Agricultura e Trabalho, por
2,5 pontos percentuais acima ou abaixo exemplo, além de representantes da
do objetivo central. sociedade civil.”
No fundo, representa uma vitória A receita recomenda ainda compa-
dos monetaristas sobre os estrutura- tibilizar o ajuste fiscal à estabilização
listas. Os monetaristas sempre defen- da política macroeconômica sem
deram o controle da inflação através esquecer de baixar os juros. “A taxa
da contenção da demanda. Inflação, Selic, em qualquer patamar acima
para eles, é fenômeno monetário, pro- dos dez pontos percentuais ao ano,
vocado pelo excesso de dinheiro em é muito alta e inibe os empresários
circulação. Os estruturalistas pregavam brasileiros a investir na tão esperada
a expansão de oferta como forma mais retomada do desenvolvimento eco-
eficaz no combate às altas persistentes
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