Page 10 - PorSinal 10
P. 10
Negociação com o
governo não avança
Quando o Ministério do Planejamento instalou a Mesa de desempenho” é o equivalente, no serviço público, à
Nacional de Negociação Permanente, em 26 de fevereiro produtividade da iniciativa privada. Como tal, não pode
de 2003, os sindicalistas acreditaram que o novo governo ser misturada com o reajuste linear. Se não bastasse, o
pretendia realmente definir as bases de um sistema de ne- governo tenta semear a discórdia entre as categorias,
gociação com o funcionalismo. Na oportunidade, o ministro dando a entender que existem “privilegiados”. A mídia
Guido Mantega fez questão de ressaltar que o servidor não conservadora, claro, adora esse discurso, e parte para a
teria perdas salariais no governo Lula. Repetiu o discurso, em ofensiva usando dados do próprio Ministério do Planeja-
abril, após anunciar o “aumento” de 1% para o servidor. O mento sobre as benesses que teriam sido concedidas, por
reajuste restrito de 2003, segundo ele, era fruto das limita- exemplo, aos analistas do Banco Central. No recente PCS,
ções impostas pelo Orçamento elaborado por FHC no seu é bom que se diga, somente os salários iniciais tiveram
último ano de governo. um aumento significativo. Quem está há mais tempo no
Banco sabe que falta muito para os servidores do BC se
O mote para as futuras discussões residia, então, no recuperarem do arrocho salarial iniciado no governo FHC
Orçamento 2004. O foco seria válido se o governo quises- (as perdas, desde então, atingem 127,3%).
se, de fato, dialogar. Em agosto, sem qualquer conversa
com os servidores, o Executivo enviou sua proposta de O pior de tudo é que o governo demonstra não ter
Orçamento ao Congresso, em que previa um reajuste de política nenhuma para as diretrizes de planos de carreira.
no máximo 2,6% para o funcionalismo, muito aquém Além de acabar com a paridade entre ativos e aposenta-
da inflação de 2003 (9,56%, pelos cálculos do Dieese). dos, a proposta apresentada na Mesa cria mais distorções
Em fevereiro, com o Orçamento já aprovado, o governo no serviço público, como se pretendesse aprofundar o
ofereceu um reajuste linear ainda menor (inferior a 1%) desmonte do Estado, em vez de revitalizá-lo. E, subja-
em troca de um valor diferenciado (entre 5% e 20%) cente a tudo isso, a intenção de segregar os servidores
na gratificação de desempenho, concedendo percentuais de carreiras exclusivas, caso dos funcionários do Banco
maiores apenas para os servidores com baixos salários, Central. O governo parece ignorar o fato de que, antes
excluindo, dessa forma, o pessoal do BC. Os aposentados, de serem “privilegiados”, esses agentes de Estado exer-
em sua grande maioria, ou serão excluídos (no caso dos cem funções essenciais para a própria sobrevivência e
maiores salários), ou receberão a xepa da gratificação de estabilidade do sistema financeiro.
desempenho que o governo pretende pagar aos ativos.
Até o fechamento desta edição, persistia o impasse entre A Mesa de Negociação Permanente, se continuar nessa
governo e servidores, agravado pela disposição do Planalto linha, não tem futuro. E o País, que tanto depende da cons-
de não conceder os mesmos índices para ativos e inativos. trução de políticas públicas sérias, fica numa encruzilhada,
pois o governo continua vendo o servidor como um fardo,
ARROCHO SALARIAL um peso no Orçamento. Se pensa e age com essa lógica,
Essa proposta é uma ofensa. Em primeiro lugar, porque como a equipe de Lula poderá recolocar o Brasil na trilha
do desenvolvimento?
o Dieese – órgão de origem do secretário Sérgio Mendon-
ça, atual coordenador da Mesa – entende que “gratificação
10