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precisam discutir a conveniência de da Enap, que vem funcionando como mas não existe nada de concreto a res-
considerar os recursos destinados ao um centro articulador das escolas de peito. Sabe-se, apenas, que o governo
funcionalismo como investimento, e governo. Aliás, é importante registrar Lula não vê com bons olhos a lógica
não como despesa, pois um servidor o sensível crescimento do número criada na era FHC, que entendeu ser
mais bem qualificado, motivado e de instituições federais que oferecem mais produtivo aumentar ao máximo
bem-remunerado é, nas palavras de cursos de especialização e treinamento o número de carreiras. Essa discussão
Mendonça, “sinônimo de um serviço para funcionários. Em síntese: há muito sobre a elasticidade do plano de car-
público de melhor qualidade” (veja trabalho a ser feito nessa área, mas pelo reira tem sua importância, mas o ponto
entrevista com o secretário na página menos aqui, existe um rumo norte. central, e que até hoje não foi discutido
14). suficientemente, reside na criação de
A questão do plano de carreira é políticas diferenciadas e descentrali-
Uma discussão como essa pode outro aspecto polêmico. Já se falou zadas, algo que teria um significado
conduzir, de fato, a uma política con- muito em um plano de carreira único,
sistente de valorização do servidor
público. Porque, até o momento, as Secretaria de Gestão:
iniciativas do governo Lula nesse sen- disputa palaciana
tido são muitíssimo modestas.
A saída de Humberto Martins da 1998, Martins trabalhou com Bres-
POLÍTICA DE Secretaria de Gestão do Ministério do ser Pereira no extinto Ministério de
VALORIZAÇÃO Planejamento revela, mais uma vez, que Administração Federal e Reforma do
Para o servidor, valorização é um triângulo falta unidade e consistência ao governo Aparelho de Estado (Mare), órgão que
formado por três vértices: recomposição Lula. Martins assumiu a Secretaria de passou para a história como um dos
salarial, capacitação e plano de carreira. O Gestão em fevereiro de 2003 com a grandes formuladores da política do
primeiro vértice – dar aumento de salário missão de preparar a modernização do Estado mínimo. Por este motivo, seu
ao funcionalismo – não é uma política serviço público. Já na primeira reunião ingresso no staff do governo petista
vista com bons olhos pela equipe eco- com todos os secretários do Ministé- causou, a princípio, uma certa estra-
nômica. A Mesa Nacional de Negociação rio, defendeu junto ao ministro Guido nheza. Mas, considerando a carência
Permanente, canal de negociação com Mantega a elaboração de um Plano de de quadros do PT, e talvez justamente
o servidor criado pelo governo Lula, vive Gestão conectado com um projeto de por conhecer como poucos a máquina
um momento de impasse justamente desenvolvimento e, sobretudo, com a do Estado, é que Martins foi chamado
por isso. necessidade de reorientar e fortalecer o para auxiliar o governo Lula na árdua
papel do Estado. Ele entendia que essa tarefa de reverter os estragos causados
Já a política de capacitação do servi- dimensão havia se perdido no governo por Fernando Henrique à administra-
dor tem conseguido alguns avanços. É Fernando Henrique, que, como se ção pública.
verdade que a redução de investimen- sabe, viu nas políticas de gestão apenas
tos, por conta do aperto fiscal, limita, uma forma de preparar o desmonte do SINAL VERDE
por exemplo, os investimentos em Estado. Em junho de 2003, o ministro Gui-
tecnologia da informação, a menina-
-dos-olhos do projeto de modernização O curioso é que, entre 1996 e do Mantega aprovou as linhas traçadas
da Escola Nacional de Administração
Pública (Enap). Porém, a despeito das
dificuldades, da falta de recursos, o
governo reconhece o papel estratégico
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