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nistração pública em bases modernas          de superposição de competências, deixa   em 1998 para R$ 656 milhões em
e racionais”. Esse discurso, que soava       sérias dúvidas sobre a disposição (e o   2002. A diferença não se explica pela
como música para os defensores da            poder) de Lula para tocar o projeto de   inflação do período, e sim pelo alto
economia de mercado, plantou as              revitalização do Estado.                 custo dos contratos de terceirização.
sementes do desmonte progressivo                                                      Em função disso, o governo concluiu
do Estado e abriu as portas para a pri-          Para a deputada Jandira Feghali,     que poderia retomar a contratação
vatização de quase todo o patrimônio         o governo Lula vive uma gravíssima       de servidores gastando o mesmo
estatal.                                     contradição: “Apesar de ter prometi-     que já gastava com a mão-de-obra
                                             do a valorização do serviço público      terceirizada.
    O marco regulador, porém, passava        na campanha, em muitos aspectos
pelo enfraquecimento do serviço públi-       o governo Lula mantêm a mesma                É claro que, em termos práticos,
co. Isso foi feito mediante um conjunto      concepção de Estado do governo           não se pode tirar o mérito do governo
de leis, medidas provisórias e duas          anterior. A reforma da Previdência       por tentar restringir a terceirização com
emendas constitucionais: as de nº 9          foi a demonstração disso, em que o       a contratação de servidores. Mas falta,
e 20 de 1998. A primeira decretou o          servidor público foi posto na rua, mais  antes de qualquer outra coisa, entender
fim da estabilidade, legitimou a tercei-     uma vez, como o grande causador dos      a importância estratégica do funcionário
rização e ainda criou a insuficiência de     males da sociedade brasileira, o que é   público e, a partir daí, construir políticas
desempenho como forma legal para             uma indignidade”, critica a deputada.    de valorização do servidor. Para Jandira
demissão; já a segunda trouxe a pri-                                                  Feghali, o primeiro passo consiste em
meira reforma da previdência pública,            Por outro lado, a disposição do      devolver a estabilidade ao servidor. Ela
com a transformação do tempo de              governo de reverter o processo de        entende que esta, antes de ser uma
serviço em tempo de contribuição e a         terceirização parece seguir na direção   garantia do servidor, é um direito da
exigência de idade mínima como pré-          contrária. A abertura de concurso para   sociedade.
-requisito para a aposentadoria.             o preenchimento de 24.700 vagas, em
                                             2003, e 41.380, em 2004, é um fato           Não se sabe se o governo petista
UM ESTADO                                    positivo, segundo Jandira, que contri-   aceitaria rever esta questão. Seja como
PARA TODOS                                   bui para a valorização do profissional   for, o tabuleiro político pode reservar
                                             de carreira, mas que ainda não traduz    algumas surpresas capazes de ressus-
    Fernando Henrique encerrou os seus       uma política definida de revitalização   citar a discussão sobre a estabilidade.
oito anos de governo sem conseguir           do Estado e valorização do serviço       A deputada Zelinda Novaes (PFL-BA)
concluir todas as reformas previstas para    público.                                 apresentou uma Proposta de Emenda
consolidar o desmonte do Estado. Mas                                                  à Constituição para que os servidores
com Lula a expectativa era outra. Como           De fato, a decisão de contratar      públicos possam ter direito ao FGTS.
dizia o então secretário de Gestão do        novos servidores se deu muito mais       Segundo a parlamentar, a perda da
Ministério do Planejamento, Humberto         por uma premissa contábil: o minis-      estabilidade e a equiparação dos regi-
Martins, havia chegado o momento             tro Guido Mantega descobriu que a        mes previdenciários público e privado
para um novo plano de gestão pública         terceirização, ao contrário do que se    tornaram o serviço público pouco
em que o Estado deixaria de ser o pro-       supunha, aumentou os gastos com          atraente. Estender o FGTS seria uma
blema, como era o ponto de vista de          mão-de-obra. Em 1995, o governo          forma de corrigir esse erro.
FHC, e passaria a ser a solução para as      contava com 600 mil servidores.
desigualdades sociais, “um novo Estado       Com o enxugamento da máquina,
para o Brasil de todos”. A saída de Martins  esse número caiu para 400 mil no
da Secretaria de Gestão, um caso típico      fim de 2002. As despesas, no en-
                                             tanto, passaram de R$ 363 milhões

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